Catarina Maia umas das mais novas - e reconhecidas - vozes da rádio portuguesa, foi a mais recente convidada do podcast Geração 90. À conversa com Júlia Palha, esta terça-feira, 7 de janeiro, a comunicadora que também brilha no pequeno ecrã, falou sobre a Trissomia 21 do seu irmão mais velho, Daniel, e de que forma a sociedade a 'trata'.

A "deficiência" do irmão - com quem sempre viveu em grande cumplicidade - nunca foi para si um problema, bem pelo contrário. Durante a sua infância nunca percebeu que em Daniel poderia "existir algo diferente" de si, uma vez que em casa "de forma nenhuma era tratada de forma diferente" ou vice-versa.

"Nunca me tinha apercebido sequer que pudesse existir uma deficiência, que pudesse existir algo no meu irmão diferente de mim, só quando fui para a escola é que vi que ele estava a ser descriminado de alguma forma. Tentavam gozar comigo com isso. (...) Para mim o meu irmão era exatamente igual", começou por revelar.

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À época, Catarina Maia acabou a ser esclarecida pela progenitora, que lhe explicou que o irmão iria aprender tudo como ela, mas com mais calma - algo que a radialista levou para a vida. É que se, com o tempo, "tentava, de alguma forma, educar" os mais jovens, atualmente fá-lo com os mais velhos.

"Não faz sentido eu começar a disparatar e de alguma forma tentar ofender a pessoa de volta. Acho que vai ser muito mais produtivo para a pessoa e, para mim, se eu tentar sentar-me com ela, explicar-lhe o porquê das coisas serem assim, dessa pessoa não estar a ser correta, do meu irmão se calhar não receber isso de forma positiva, o porquê de não ser bom para a sociedade em geral... E tenho tido a sorte de me ouvirem, já consegui ter boas conversas sobre isso", explicou.

Ainda que tenha esta sensibilidade, Catarina Maia confessou a Júlia Palha que, por ter "mais consciência", "lida pior", atualmente, com a descriminação que existe. uma coisa que eu ainda tenho de trabalhar hoje em dia, sou-te sincera. Ainda não consigo bem lidar com a revolta que às vezes, por mim se assombra, de vivermos numa sociedade que não aceita a deficiência ou que muitas vezes descrimina, ainda estou a trabalhar nisso, na terapia", referiu.

Há diferença de oportunidades para pessoas com deficiência?

A "falta de informação" e a "ignorância" são, para a convidada do Geração 90, as principais causas do preconceito, incluindo no trabalho. Questionada sobre a diferença de oportunidades no mercado de trabalho, Catarina Maia não teve qualquer dúvida de que se sente "muito mais do que devia" e expôs o exemplo de Daniel.

"O meu irmão fez um curso profissional de restauração e bar, para completar o 12.º ano, do qual saiu com ótima nota, e esteve a estagiar em vários restaurantes, mas efetivamente [é] um estágio do qual nunca sai uma oportunidade de trabalho. Nunca existiu num fim de um estágio, uma tentativa de emprego. (...) As coisas não são feitas no processo natural que, por norma, uma pessoa sem deficiência tem acesso", alertou.

"[O Daniel] passou por vários restaurantes, teve dois anos desempregado porque não existe oferta de emprego. Existem alguns apoios do Estado numa empregabilidade de uma pessoa com deficiência, mas isso tem um fim. Quando isso termina, o fácil é despedir", acrescentou, contando que acredita que "para além de existir essa ajuda, tem de existir uma cláusula no contrato que faz com que no final dessa ajuda, as entidades tenham de empregar o funcionário".

A jovem comunicadora tem a certeza que "acabam por não contratar se calhar até antes sequer dessa ajuda do estado por não darem oportunidade - por preconceito". "É completamente errado. (...) Todos nós temos as nossas valências e se não nos for dada a oportunidade de mostrá-las, não vai haver ninguém que vai acreditar nisso. (...) A deficiência não define alguém, o que te vai definir é a tua personalidade e aquilo que tu acreditas e transmites à sociedade em geral", exprimiu.