O seu pai era cozinheiro, mas foi a força da necessidade que o levou a ganhar o gosto pela culinária. A vontade de aprender mais fez com que aceitasse participar no Hell's Kitchen Famosos e embora tenha sido eliminado este domingo, 27 de outubro, António Pedro Cerdeira descreve a experiência como "uma das melhores" que já teve na vida.
Foi com entusiasmo que o ator conversou com o site do Fama Show sobre a admiração que tem pelo chef Ljubomir Stanisic, os maiores desafios no programa da SIC, a competitividade que não aprova e o potencial vencedor. Já lá iremos.
A verdade é que António já tinha estado numa edição como convidado, juntamente com o filho, Afonso, e é fã do programa português e americano. "Gosto de ver enquanto espetador e tenho o gosto e uma certa paixão pela cozinha", diz. Mas será que tudo correu bem com a preparação dos pratos? Como seria de esperar, a resposta é não, pois caso contrário esta não seria a "cozinha do inferno".
No primeiro episódio, o ator fez caldo verde, o que se revelou "muito salgado" para o chef, embora uma das coisas que mais goste de fazer é "inventar sopas". Na equipa azul, António chegou mesmo a preparar uma receita de algo que nunca tinha comido - Bacalhau à Conde da Guarda - e que levou o selo de aprovação de Ljubomir.
Juntamente com Bárbara Guimarães e Inês Lopes Gonçalves, o ator preparou um brioche de língua de porco chutney de coentros e, a acompanhar, cole slaw de couve-roxa, cenoura e maçã, que se revelou o vencedor do desafio. Já no quarto episódio, António deparou-se com "enguias vivas que parecem serpentes de meio metro", tendo sido esta a prova individual mais complicada para si.
A cozinha como terapia
E a sua receita preferida no programa? "Gostei muito de fazer o polvo, que é um prato que eu gosto muito, e é o polvo do menu do '100 Maneiras'[restaurante de Ljubomir Stanisic]. Comecei a descobrir os pequenos pormenores como, por exemplo, antes de colocar determinado molho deixamos o polvo atingir uma certa temperatura", explica.
António Cerdeira confessa que agora está a tentar fazer receitas diferentes (e mais complicadas) em casa. "Já faço peixe no forno", afirma, acrescentando que, embora não seja vegetariano, há certas carnes que não come. É que cozinhar tornou-se algo terapêutico para si. "Por largos períodos da minha vida vivi sozinho, habituei-me a fazer para mim. Acabei por descobrir que muitas vezes acaba por ser terapêutico, por um lado no sentido em que a pessoa está a esvaziar a cabeça e por outro está também a tomar algumas decisões", esclarece.
"Depois acabo por perder a fome quando cozinho, mas acho que isso acontece com toda a gente porque a pessoa vai petiscado daqui e dali", conta, entre risos.
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A competitividade no programa e os 'rasgados' elogios ao colega
O ator admite que ficou "com pena" quando o chef Ljubomir fez a troca da equipa azul para a equipa vermelha e revela que a competitividade não faz sentido para si, elogiando a atitude de Marco Costa. "Acho que isso faz sentido quando são anónimos porque isso pode realmente mudar a vida da pessoa. Eu vi pessoas altamente competitivas como o Marco, mas que é um senhor e ao mesmo tempo super generoso. Eu acho que é assim que se faz", destaca.
"A postura do Marco é a postura certa e é um bocadinho a postura que eu também tentei ter. Claro que ganhar todos gostamos, o sair a todos custa, mas ali o que é engraçado e bom é o desafio, aquilo que nós aprendemos", acrescenta. O pasteleiro é, para o ator, "a pessoa que tem maiores probabilidades" de vencer o programa. "Está habituado a trabalhar em equipa e não tem medo. Ele arrisca, é muito rápido e muito eficaz", explica.
"Ele levanta-se todos os dias às três da manhã para fazer bolos, chegava ali ao programa quase à hora de almoço para ele e para nós era a hora do pequeno-almoço. Aprende rapidamente, optava por um tipo de pratos mais alentejanos, a chamada 'comida da panela', e de repente já consegue fazer pratos muito mais refinados", acrescenta.
"É uma pessoa que gostava de ter para o resto da minha vida"
Sobre a experiência com o chef mais temido da televisão, António Pedro Cerdeira só tem boas coisas a dizer. "Foi maravilhoso. Eu conhecia-o mal e fiquei com uma amizade e com uma admiração muito maior por ele porque ele é muito direto. Ele disse-nos logo no primeiro episódio 'vocês são figuras públicas, mas isto não é uma brincadeira, é uma cozinha e a cozinha para mim é como se fosse uma igreja', no sentido de respeito, de devoção, de dedicação", diz.
"Claro que ele depois também incute aquela pressão, que faz um bocadinho parte do programa, mas ao mesmo tempo é uma pessoa muito afetuosa. Normalmente ouvem-no só aos gritos, mas ele tem um lado em que se aproxima da pessoa e diz coisas muito bonitas, faz elogios, dá um beijo se for preciso, dá um abraço sincero e sentido. É uma pessoa que gostava de ter para o resto da minha vida", acrescenta.
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Mas há regras a cumprir. "A postura, a pessoa dizer o 'sim chef' ou ele estar a explicar uma coisa e as pessoas estarem na brincadeira ou a falar para o lado, são coisas que ele não perdoa. Se a pessoa vai com as regras do jogo é fácil. Fartei-me de fazer asneiras e ainda cheguei a levar um grito ou outro, eu e todos, mas ao mesmo tempo ele diz coisas muito bonitas, ele tem um conhecimento humano...", diz, referindo que mantém o contacto com Ljubomir Stanisic.
Questionado sobre se mudava alguma coisa na sua participação no programa, o ator responde de forma direta: "Tentava aplicar-me ainda mais para chegar à final e ganhar. Ganhar não foi possível, mas é uma das melhores experiências que tive na vida", afirma. "Aquilo é tão intenso. Se a pessoa realmente tiver o gosto da cozinha e quiser aprender, sai dali mais rica enquanto ser humano. É engraçado que até mudam coisas no dia a dia, há determinados cuidados que eu agora tenho que antes não tinha. Acaba por nos criar uma ética, um padrão de trabalho."