A organização Save the Children informou que os casos de recém-nascidos que contraíram a nova e mais virulenta estirpe do Monkeypox (Mpox), anteriormente conhecida como "varíola do macaco", aumentaram na República Democrática do Congo (RDCongo), levando os hospitais ao limite.

De acordo com esta organização não-governamental, a rápida propagação do vírus na RDCongo, com quase 90% de todos os casos, está a sobrecarregar um "sistema de saúde já frágil, que ainda está a recuperar dos anteriores surtos de Ébola e covid-19 e da escassez de pessoal médico e de material".

A Save the Children refere que em alguns centros de saúde da cidade de Goma o número de doentes ultrapassa em 4.000% a sua capacidade.

"O pior caso que vi foi o de um bebé de seis semanas que tinha apenas duas semanas quando contraiu varíola mucosa e que está sob os nossos cuidados há quatro semanas. Foi infetado porque, devido à sobrelotação do hospital, ele e a mãe foram obrigados a partilhar o quarto com outra pessoa que tinha o vírus, que na altura não estava diagnosticado", explicou Jacques, epidemiologista e especialista em varíola.

"Tinha erupções cutâneas por todo o corpo, a pele começou a ficar preta e tinha febre alta. Os pais ficaram chocados com o seu estado e recearam que estivesse a morrer", acrescentou.

A este respeito, as crianças correm mais risco de contrair o vírus do que os adultos, com 70% dos 14.901 casos da RDCongo a ocorrerem em crianças com menos de 15 anos e 39% dos casos em crianças com menos de cinco anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Além disso, as crianças na RDCongo, país que faz fronteira com Angola, têm quase quatro vezes mais probabilidades de morrer de varíola do que os adultos, com os dados da OMS a mostrarem que a taxa de mortalidade de casos para crianças com menos de um ano de idade é de 8,6%, em comparação com 2,4% para as crianças com mais de 15 anos de idade. Das mortes registadas até maio de 2024, 62% eram crianças com menos de cinco anos, mostram os mesmos dados.

A organização destacou que cerca de 15.000 casos suspeitos foram identificados desde o início do ano na RDCongo, o que já ultrapassou o número total para 2023. Além disso, a Save the Children alerta que o vírus está a espalhar-se por outros países africanos.

"As autoridades, os profissionais de saúde e os grupos de ajuda estão numa corrida contra o tempo para impedir a propagação da doença mortal num país que já está a braços com uma crise humanitária e que tem um dos sistemas de saúde mais frágeis do mundo", afirma a ONG.

Esta varíola provoca febre, erupções cutâneas e lesões por todo o corpo, fortes dores de cabeça e fadiga. Algumas crianças também desenvolvem problemas respiratórios e dificuldade em engolir, e correm um risco acrescido de contrair infeções bacterianas secundárias. Em casos graves, pode levar à sépsis, uma reação à infeção que põe a vida em risco e que requer cuidados médicos especializados imediatos.

A Save the Children sublinha que a semelhança de alguns dos sinais e sintomas da varíola com outras doenças comuns da infância - como a sarna e a varicela - pode estar a levar a um reconhecimento e tratamento tardios, contribuindo para a transmissão e para resultados mais fracos devido ao atraso no diagnóstico e no tratamento.