O Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, recebeu o desfile da designer de moda Constança Entrudo. Aqui foram celebrados os 'segundos lugares'. Esta coleção apresentou propostas para para o próximo outono/inverno.

A apresentação da coleção "Second Best", na Sala Estúdio de CAM, deu hoje início aos desfiles da 64.ª edição da ModaLisboa, que começou na quinta-feira e decorre até domingo.

Ao todo foram 27 os modelos que foram circulando pelos vários pódios espalhados pela Sala Estúdio, partilhando "diferentes interpretações do que é estar em segundo", numa "celebração do segundo melhor lugar, que muitas vezes fica esquecido".

"Vivemos numa Cultura em que dizemos 'prefiro perder a ficar em segundo'. O foco aqui é todo no segundo. Não há outros lugares", explicou Constança Entrudo à Lusa, à margem da apresentação.

Numa apresentação aberta ao público, que se repetiu várias vezes de modo a acolher todos os que acorreram ao CAM, a designer de moda quer "que se pense, reflita e se celebre também o trabalho, o processo, o erro, o quase lá".

A premissa do "Second best" (segundo melhor, em português), contou também na escolha de materiais e cores. "Não usamos branco e preto, usamos 'navy' [azul escuro] e cinza", por exemplo.

A designer de moda explicou que "muitas das referências visuais para a criação das peças vêm de fotografias de Jogos Olímpicos dos anos 1980", com o uso de muitas fitas e predominância da prata, o material usado para fazer as medalhas dos que ficam em segundo lugar. "Há muito brilho [na coleção], aludindo também a que 'nem tudo o que brilha é ouro'", disse.

Os desfiles de moda são habitualmente acessíveis apenas por convite. Para Constança Entrudo, o facto de a apresentação da sua coleção ser aberta ao público "só tem vantagens".

"É muito importante, principalmente quando estamos a falar num museu como o CAM e num país como Portugal, em que a moda é vista de forma conservadora, tradicional. A moda de luxo é vista quase como inatingível", defendeu.

O objetivo de Constança Entrudo é criar moda "distinta, com atenção ao detalhe", posicionando-se por isso na indústria de luxo. "Mas acredito que o luxo pode não ser ouro e pode ser democratizado, nem que seja pela experiência. Aqui é também experiência e não só uma coleção de roupa, por isso faz todo o sentido abrirmos ao público", disse.

Presença habitual no calendário da ModaLisboa, Constança Entrudo vende em Portugal, mas também para o estrangeiro. "Inicialmente a marca tinha como maiores mercados os Estados Unidos da América, o Japão e a China, mas hoje Portugal também já é", contou.

Para Constança Entrudo, "é bom sentir que há muito mais procura da marca" agora do que quando começou, há seis "bons e desafiantes" anos.

Embora venda muito para fora, para a designer de moda "faz sentido estar baseada em Portugal". "Pela proximidade às fábricas, à indústria e a todos os técnicos e designers incríveis que há aqui para colaborar na minha equipa", justificou.

Além do vestuário, Constança Entrudo e a equipa começaram também recentemente a trabalhar na área de interiores e arquitetura, algo que aplicaram já na apresentação de hoje.

Após a apresentação de Constança Entrudo, a 64.ª da ModaLisboa, que decorre sob o tema CAPITAL, instalou-se no Pátio da Galé, começando com a final do concurso Sangue Novo, destinado a finalistas de cursos superiores de Design de Moda de escolas nacionais e internacionais e jovens 'designers' em início de carreira.

Os cinco finalistas, Dri Martins, Duarte Jorge, Francisca Nabinho, Gabriel Silva Barros e Ihanny Luquessa, foram selecionados em outubro, na 63.ª edição da ModaLisboa, e apresentam hoje "o produto do seu crescimento conceptual e maturidade comercial, desenvolvido no último semestre e com acompanhamento e mentoria do painel de jurados".

Hoje são também apresentadas as coleções de Inês Barreto, da Mestre Studio e de Alves/Gonçalves, desfile que marca o regresso da marca à ModaLisboa e o primeiro desde a morte do designer de moda Manuel Alves.

Manuel Alves morreu aos 72 anos, em maio do ano passado. A morte do designer de moda aconteceu no ano em que se completaram 40 anos de parceria com José Manuel Gonçalves.

As apresentações de coleções prosseguem no sábado com Carlos Gil, finalistas dos 'campus' de Itália e Espanha do IED, Istituto Europeo di Design, Luís Onofre, Kolovrat, Luís Buchinho, Ricardo Andrez e Luís Carvalho.

Para o último dia da 64.ª edição, domingo, estão marcados os desfiles de Nuno Baltazar, Bárbara Anastácio, Arndes, Valentim Quaresma, Duartehajime, Gonçalo Peixoto e Dino Alves, bem como a apresentação Portuguese Soul, da responsabilidade da APICCAPS -Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos.

Entre hoje e domingo, a Praça do Comércio irá acolher a instalação artística "A teia que nos une", promovido pelo ModaPortugal, do CENIT (Centro de Inteligência Têxtil) e da ANIVEC (Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confecção).

Aquela instalação, "que acolhe os públicos da cidade", irá emitir em direto os desfiles que acontecem no Pátio da Galé, bem como "conteúdos que assentam em valores como a preservação das técnicas artesanais, a durabilidade, a sustentabilidade e a tecnologia".

A ModaLisboa é coorganizada pela Associação ModaLisboa e a Câmara Municipal de Lisboa.

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