
Uma equipa de cientistas resolveu um mistério relacionado com a doença de Parkinson ao identificar uma proteína que poderá ser a chave para ajudar a desenvolver novos medicamentos para tratar a doença neurodegenerativa
A PINK1 é uma proteína diretamente ligada à doença de Parkinson, a doença neurodegenerativa que mais cresce no mundo e a mais comum depois da doença de Alzheimer.
Nunca ninguém tinha visto o aspeto desta proteína humana, a forma como se liga à superfície das mitocôndrias danificadas ou como é ativada, mas agora uma equipa de investigadores australianos do Centro de Investigação da Doença de Parkinson do Walter and Eliza Hall Institute (WEHI) conseguiu fazê-lo.
O trabalho, descrito na quinta-feira na revista Science, poderá ajudar a encontrar novos tratamentos para a doença, que atualmente não tem cura nem medicamentos para travar a sua progressão.
Doença de Parkinson: sintomas e prevalência global
A doença de Parkinson, cujo diagnóstico demora muitas vezes anos ou décadas, está associada a tremores, mas tem cerca de 40 outros sintomas, incluindo perturbações cognitivas, problemas de fala e de visão e de regulação da temperatura corporal.
A prevalência global é de 0,3% da população, embora seja uma doença relacionada com a idade e afete cerca de 2% das pessoas com mais de 65 anos.
As mitocôndrias produzem a energia necessária às células de todos os seres vivos, pelo que as células podem conter centenas ou milhares de mitocôndrias.
O gene PARK6 codifica a proteína PINK1, que ajuda à sobrevivência das células, detetando as mitocôndrias danificadas e marcando-as para serem removidas.
Numa pessoa saudável, quando as mitocôndrias são danificadas, a PINK1 junta-se às membranas mitocondriais e sinaliza, através de uma pequena proteína chamada ubiquitina, que as mitocôndrias danificadas devem ser removidas.
O sinal de ubiquitina do PINK1 é exclusivo das mitocôndrias danificadas e, quando o PINK1 sofre mutação nos doentes, as mitocôndrias danificadas acumulam-se nas células.
"Este é um marco importante"
Embora o PINK1 tenha sido associado à doença de Parkinson, e especialmente ao início da doença, como ninguém tinha sido capaz de o visualizar até agora, não se compreendia como se liga às mitocôndrias e é ativado.
Mas a equipa do professor David Komander do WEHI conseguiu:
"Este é um marco importante para a investigação da doença de Parkinson. É espantoso ver finalmente a PINK1 e perceber como se liga às mitocôndrias.
A autora principal do estudo, Sylvie Callegari, explica que o PINK1 atua em quatro etapas distintas, as duas primeiras das quais nunca tinham sido vistas antes.
O PINK1 deteta primeiro os danos nas mitocôndrias, depois liga-se às mitocôndrias danificadas e, uma vez ligado, marca a ubiquitina, que se liga a uma proteína chamada Parkin para que as mitocôndrias danificadas possam ser recicladas.
"É a primeira vez que vemos a PINK1 humana acoplar-se à superfície das mitocôndrias danificadas e descobrimos um conjunto notável de proteínas que atuam como locais de acoplamento. Também vimos, pela primeira vez, como as mutações presentes nas pessoas com doença de Parkinson afetam a PINK1 humana", afirma Callegari.
A equipa espera utilizar estes conhecimentos para encontrar um medicamento que abrande ou pare a doença de Parkinson em pessoas com uma mutação PINK1.