
A fabricante finlandesa Verge Motorcycles anunciou recentemente que a sua moto elétrica TS Pro alcançou um novo recorde mundial de autonomia para veículos de duas rodas elétricos, com impressionantes 310 quilómetros percorridos com uma única carga. A conquista foi certificada pelo Guinness World Records, o que lhe conferiu uma considerável visibilidade mediática. No entanto, uma análise mais detalhada às condições do teste levanta sérias reservas quanto à validade do resultado apresentado.
A própria Verge indica que a TS Pro está equipada com uma bateria de 20,2 kWh, com uma autonomia estimada de 349 km em ambiente urbano e 200 km em autoestrada. Estas estimativas, no entanto, baseiam-se em cenários ideais, como o tráfego citadino a baixa velocidade e uma condução constante em autoestrada a 90 km/h. Mais realista será a autonomia combinada segundo o padrão europeu, que situa o alcance do modelo nos 191 km por carga.
O alegado recorde de 310 km foi alcançado, segundo o portal InsideEVs, com uma condução contínua pelas ruas de Londres a uma média de apenas 19 km/h (aproximadamente 12 mph). Esta velocidade é consideravelmente inferior àquela que um condutor médio utilizaria em contexto real, e as condições do percurso foram otimizadas para maximizar a eficiência energética, desconsiderando fatores como resistência aerodinâmica, peso do condutor e variabilidade do terreno.
Este tipo de abordagem, frequentemente designado por “hypermiling”, visa estender artificialmente a autonomia de veículos elétricos através de técnicas de condução extremamente conservadoras. Embora tecnicamente válidas para atingir determinados números, estas práticas estão longe de refletir a experiência quotidiana dos utilizadores.
A questão que se coloca é se comunicar este tipo de resultados como “recordes” serve os melhores interesses dos consumidores e da indústria. Ao promover valores que não se traduzem em desempenho realista, corre-se o risco de criar falsas expectativas num setor que ainda procura estabelecer a sua credibilidade junto do público.
Apesar de a Verge TS Pro ser, sem dúvida, um exemplo interessante de inovação no segmento das motos elétricas — tanto pelo design como pela engenharia —, a forma como este recorde foi obtido poderá acabar por prejudicar mais do que beneficiar a imagem da marca. A clareza e a honestidade na comunicação de dados técnicos são cruciais para fomentar a confiança num mercado ainda em desenvolvimento.