O deserto localizado a norte de Lima, capital do Peru, vai receber uma cidade nova e inteiramente criada segundo os novos requisitos de sustentabilidade. Uma cidade que o país quer que seja um modelo de aglomerado urbano para o futuro, onde população e meio ambiente viverão em conformidade.
Orçada em 3000 milhões de dólares, mais de 2500 milhões de euros, a Cidade Bicentenária não só será uma cidade verde modelo, como servirá de âncora a quatro projetos estratégicos para o país. Cerca de 115 mil habitantes poderão viver numa área residencial de 280 hectares, com reaproveitamento de esgotos tratados, a par de 2000 hectares destinados apenas para florestamento, o que equivale a aproximadamente 60% das áreas verdes públicas que a cidade de Lima possui atualmente.
A nova cidade vai receber ainda o Parque Industrial Ancón, que será o principal centro industrial do Peru, ocupando 1.338 hectares de terras, e irá também acolher o mais importante polo logístico do país, com ligações facilitadas entre portos, uma vez que a nova cidade estará virada para o Oceano Pacífico. É também para aqui que está prevista a construção do maior hospital do país num espaço que ocupará 26 hectares de terreno.
O projeto, aprovado no passado mês de setembro, «é um marco para o futuro das nossas cidades e a sua relação com o meio ambiente. A ideia é planear a partir das condições do território, valorizando os nossos ecossistemas e as colinas no litoral. É uma cidade que não ocupa encostas ou riachos, não colocando assim em risco a população. Será uma cidade que incorporará dinâmicas produtivas e logísticas sob um modelo sustentável que enfrenta os desafios das mudanças climáticas, melhorando a qualidade de vida da população», explica a vice-ministra de Desenvolvimento Estratégico de Recursos Naturais do Ministério do Meio Ambiente (Minam), Gabriel Quijandría, num comunicado divulgado no site do Governo do Peru.
Vídeo: Divulgação da Cidade Bicentenária
Este projeto será desenvolvido numa área com mais de 8000 hectares e ocupará o último grande espaço de propriedade pública que resta a Lima. «A melhoria das condições sanitárias dos nossos territórios não envolve apenas a construção de novos hospitais, mas também o fortalecimento de uma relação mais saudável com o nosso meio ambiente, conservando e valorizando os nossos ecossistemas e estimulando uma dinâmica urbana mais sustentável e resiliente», acrescentou Quijandría.
Do sonho à realidade
Depois do Cairo, no Egipto, Lima é a segunda maior cidade do mundo localizada num deserto. Apesar de o crescimento desordenado da capital peruana ser há muito um dos problemas desta grande cidade e dos seus habitantes, este ambicioso projeto não está isento de dúvidas e preocupações quanto ao seu desenvolvimento. Por ser megalómano causa alguma apreensão aos mais céticos, uma vez que a sua boa execução dependerá da boa vontade e empenho de vários governos, e não só.
Tal é avançado pela analista política e especialista em gestão pública, Karen López Tello, em entrevista à BBC News Mundo, o serviço em espanhol desta cadeia televisiva. A analista enumera possíveis dificuldades relacionadas com a gestão de recursos económicos, com a comunicação entre diferentes instituições e também com o ambiente político que existir, visto que o presidente Martín Vizcarra tem menos de um ano de mandato pela frente.
«Isto exige um grande esforço de coordenação multissetorial e multinível que também deve ser sustentado ao longo do tempo e por mais do que um governo», alerta. López Tello acrescenta que pelo menos sete ministérios e diferentes níveis de governo local terão de trabalhar em estreita colaboração para que o plano seja bem sucedido. Porém, apesar das dificuldades observadas, a analista considera a iniciativa oportuna, inovadora e desafiadora.
O governo peruano destaca este projeto de outros já realizados noutras partes do mundo, no que à construção de cidades paralelas diz respeito, por integrar a paisagem e os ecossistemas presentes numa lógica de preservação do ambiente e promoção da sustentabilidade.