«Aquilo que diferencia a ilha do Porto Santo de outros territórios é quase indiscritível, sente-se... Estar na ilha é sem dúvida alguma uma sensação única, onde se pode experienciar uma magia harmoniosa entre a tranquilidade e a natureza, com pouco impacto humano e paisagens que deslumbram qualquer um»… é assim que Carla Sofia Santos, vereadora do Ambiente da Câmara Municipal de Porto Santo, descreve Porto Santo, a mais recente entrada portuguesa na Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO. Com a ilha são agora 12 os locais nacionais num total de 714 reservas naturais no mundo onde se promove a integração harmoniosa das pessoas com a natureza para um desenvolvimento sustentável.
Com apenas 12km de comprimento e 6km de largura máxima, Porto Santo tem muito para oferecer em termos de biodiversidade e harmonia, pelo que facilmente se justifica esta recente distinção. Muitos elementos da fauna e da flora da ilha e dos seus ilhéus circundantes são únicos no mundo. A reserva da biosfera é o lar de várias espécies de répteis e mamíferos marinhos, entre eles a foca mais rara do mundo, chamada foca-monge do Mediterrâneo (Monachus monachus), e a tartaruga marinha cabeçuda (Caretta caretta).
Na realidade, a sua biodiversidade marinha ainda nem sequer foi totalmente catalogada, mas de acordo com os dados recolhidos para esta candidatura, a parte terrestre da ilha e dos seus ilhéus circundantes e a parte marinha até à batimétrica dos 100 metros contempla 2113 táxones (incluindo espécies, subespécies e variedades) dos quais 1660 em terra e 453 no mar. Nesta biodiversidade destaca-se a percentagem dos elementos únicos (19%), sendo 10,4% exclusivos de Porto Santo, 8% exclusivos da Madeira e 5% da Macaronésia. «É um laboratório vivo de excelência, onde se podem incrementar projetos de investigação relacionados com o seu património natural. Trata-se de um território detentor de uma relevante biodiversidade terrestre e marinha, à qual se associa uma geodiversidade igualmente peculiar do ponto de vista científico. A este património natural acrescem os valores culturais também dignos de destaque associados aos descobrimentos marítimos, às rotas comerciais no Atlântico e ao uso dos recursos naturais», sintetiza Susana Fontinha, bióloga e responsável pela candidatura de Porto Santo a Reserva de Biodiversidade da UNESCO.
Um pequeno paraíso no meio do Atlântico, onde residem ecossistemas bem preservados e detentores de espécies de excecional interesse no âmbito da biodiversidade. A sua enorme riqueza geológica e ainda um mar de qualidade balnear reconhecido, ou não fosse a ilha conhecida como a Ilha Dourada, e uma identidade cultural própria construída nos 600 anos de povoamento que se reflete na história, nas tradições e valores culturais das suas gentes foram poderosos argumentos para trazer para a ilha esta recente distinção.
Esta classificação atribuída à ilha do Porto Santo «além de ser um verdadeiro orgulho para todos os porto-santenses, significa a maior distinção de sempre feita por uma organização de relevo mundial, que irá dar uma importante visibilidade internacional à nossa ilha como Destino Turístico Sustentável, e, através de uma estratégia devidamente sustentada tendo por base o princípio MaB da UNESCO, irão desenvolver-se esforços e parcerias para melhorar a qualidade de vida da população e valorizar a nossa história, tradições e cultura e, simultaneamente, assegurar a sustentabilidade ambiental deste território», assegura a vereadora do Ambiente.
Todo este processo promoveu a participação da comunidade, algo que está previsto ter continuidade para garantir o sucesso futuro da Reserva. Esta relação harmoniosa entre os seres humanos e a natureza numa vasta gama de contextos consegue-se, segundo a bióloga, «promovendo abordagens socioeconómicas aliadas aos conhecimentos científicos e a uma estratégia de governança que vise a valorização, a proteção e a promoção do seu património natural; incrementando a prática de atitudes, atividades e a prestação de serviços mais amigos do ambiente, contribuindo assim para o incremento da economia circular e de baixo carbono e elevando a geração de valor com ganhos expressivos para os habitantes do território».
Desenvolvimento sustentável: os planos
Assim sendo, surgem agora novas responsabilidades e é nisso que a ilha se está a focar para continuar a cumprir e a suplantar os requisitos daqui para a frente. A classificação da ilha do Porto Santo como Reserva da Biosfera da Unesco e o facto de existir um Plano de Ação para os próximos cinco anos que define a estratégia de gestão a implementar, identificando ações e as entidades que as promoverão, «um compromisso com o desenvolvimento sustentável do território. Existe sem dúvida um caminho a percorrer e certamente existe ainda muito por fazer, mas sentimos que a aposta num turismo de qualidade apoiado nesta classificação da UNESCO, que valoriza o território pelas suas singularidades, é um começo que pode mudar a vida dos porto-santenses trazendo novas oportunidades de mais e melhor emprego, elevando os valores identitários desta ilha e das suas gentes», afirma a vereadora do Ambiente.
Na biodiversidade de Porto Santo, destaca-se a percentagem dos elementos únicos (19%), sendo 10,4% exclusivos de Porto Santo, 8% exclusivos da Madeira e 5% da Macaronésia.
A classificação permite criar mais valias para a comunidade local a nível do desenvolvimento social e económico, com base na valorização do património natural e cultural, material e imaterial. Assim, no plano prático e de entre os vários projetos em cima da mesa, serão promovidas ações de sensibilização e capacitação dos agentes que intervêm na Reserva, através de programas formativos, dotando-os de conhecimento e ferramentas para se alinharem com os objetivos da Reserva; serão também promovidas ações de mitigação e de adaptação às alterações climáticas com impacte significativo no território; será promovido o desenvolvimento da economia local, através da criação e promoção de produtos locais e serviços turísticos com oferta ao longo de todo o ano; não esquecendo de compatibilizar a conservação dos valores naturais, agrícolas e histórico-culturais com as atividades económicas, potenciando a melhoria do bem-estar da população e o desenvolvimento sustentável do território; etc..
A preservação da biodiversidade da Reserva consegue-se pela partilha de conhecimento gestão e monitorização dos recursos e valores naturais. Algo que vai envolver toda a comunidade, como explica ao SAPO a vereadora do Ambiente: «A gestão da Reserva da Biosfera da Ilha do Porto Santo envolverá ativamente os porto-santenses, e visa lançar novos desafios, potenciados por uma classificação que vem reconhecer as condições existentes, o trabalho inovador de conservação da natureza em estreita articulação com as pessoas que habitam o território, consolidando o caminho percorrido e o trabalho desenvolvido ao longo dos tempos, perspetivando um Porto Santo cada vez mais sustentável no presente e para as gerações vindouras».
A Câmara Municipal tem desenvolvido várias ações de dinamização local junto da comunidade com o objetivo de promover a Reserva e o envolvimento dos porto-santenses, que se refletem em sessões de divulgação junto da comunidade escolar, bem como levantamento de aspetos da antropologia cultural porto-santense. «No futuro, assumiremos o compromisso, em colaboração com parceiros estratégicos, de promover a implementação do Plano de Ação previsto para os próximos cinco anos. Este documento sumariza, de forma sistemática e funcional, a estratégia de gestão definida para a Reserva da Biosfera da Ilha do Porto Santo, preceituada pelas doutrinas estabelecidas no âmbito do Programa MaB, do Plano de Ação de Lima e demais planos definidos para as Reservas da Biosfera, em harmonização ou complementaridade com os objetivos ambientais consagrados em convenções internacionais», assinala Carla Sofia Santos.
Com tudo isto, pretende-se consolidar a imagem de Reserva da Biosfera da Ilha do Porto Santo, facilitando a sua perceção dentro e fora desta ilha dourada em pleno Atlântico. Acresce que Portugal está a apostar no turismo sustentável. A Estratégia Turismo 2027 e, mais recentemente, o plano Turismo + Sustentável 2023 querem posicionar Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis do mundo. E, assim, os planos para Porto Santo é que seja um ativo importante nesta oferta. «A ilha do Porto Santo poderá complementar a oferta portuguesa, como um destino de turismo sustentável e de excelência. A sua simplicidade e beleza natural, aliada à segurança e à riqueza da biodiversidade e geodiversidade ganharam agora uma grande visibilidade com esta classificação. As singularidades dos aspetos da identidade cultural porto-santense refletem-se também num enorme potencial de valorização turística que ajudará a suportar a economia local através de uma oferta turística diferenciada e disponível durante todo o ano», sintetiza a vereadora Carla Sofia Santos.