Em Dezembro de 2023, a conferência climática COP 28, no Dubai, fez manchetes por chegar a acordo para “transitar de combustíveis fósseis”. Anunciado como o início do fim dos combustíveis fósseis, o acordo trouxe de imediato questões sobre como os principais poluidores, a China e o meu próprio país, os EUA, iriam responder.

Estas são questões vitais: são dois países responsáveis por 26,7% e 11,8% das emissões globais em 2022, segundo o Climate TRACE. Os caminhos que tomarem para a transição energética determinarão o nosso sucesso coletivo de alcançar as metas do Acordo de Paris e limitar o aquecimento a 1.5º C.

Estes países deviam olhar como modelo de transição energética para Portugal, que definiu uma das mais ambiciosas metas climáticas na Europa e silenciosamente se tornou um líder climático no tema. Depois dos 12 meses mais quentes de que há registo - acompanhados de ondas de calor mortíferas, cheias devastadoras e incêndios florestais pelo mundo inteiro - é exatamente o tipo de liderança que o mundo tão desesperadamente precisa.

O tempo escasseia. Os cientistas têm sido muito claros na necessidade de reduzir em metade as emissões globais esta década. Poucos países desenvolvidos têm-se colocado à altura deste desafio. No entanto, Portugal definiu a meta de reduzir as emissões em 55% até 2030 e está a explorar como poderá alcançar a neutralidade carbónica até 2045 - 5 anos antes do tempo.

A transformação em andamento no setor da energia dá-nos todas as indicações de que isto é possível.

Em 2021, Portugal encerrou a sua última central a carvão, antes do prazo. O país gerou quase metade (49%) da sua eletricidade a partir de energias renováveis em 2022, de acordo com a REN. O ano passado correu ainda melhor, com uns impressionantes 61% de eletricidade com renováveis. (Para comparação, os E.U.A. geraram 22% no mesmo período). Em Abril deste ano, estava nuns impressionantes 95%. E ainda há oportunidade para mais crescimento de energia limpa.

Com o setor da energia no caminho certo, onde mais pode o país fazer progresso?

A eficiência energética é uma oportunidade particularmente relevante, especialmente para casas. Um relatório de 2021 colocava Portugal num dos últimos lugares entre países da UE na eficiência energética das casas. O relatório citava edifícios antigos e isolamento inadequado como principais causas.

É raro a eficiência ter a mesma atenção que a energia renovável, mas é uma área que realça como a ação climática pode tornar a nossa vida melhor. Em poucas palavras, quanto mais eficiente for a sua casa, menos energia gasta para se aquecer e mais poupa na conta da luz.

Mais uma vez, aqui Portugal lidera em políticas inteligentes. O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) inclui €610 milhões para melhorar a performance energética dos edifícios até 2026, com €300 milhões para o setor residencial. No ano passado, vimos um novo programa que concede até 85% do financiamento para aumentar a eficiência energética nas casas. Adicionalmente, a iniciativa do Vale Eficiência dá incentivos financeiros para ajudar residentes a escolher eletrodomésticos eficientes.

Durante tempos de mudança política e com uma crise de custo de vida em ambos os lados do Atlântico, os governos podem sentir-se tentados a abandonar estes programas vitais e dar passos atrás nas metas climáticas.

Mas esse é o tipo errado de cálculo. Não só as alterações climáticas já trouxeram ondas de calor e incêndios letais em Portugal em anos recentes, custando 1.000 vidas numa única onda de calor em 2022, mas uma contínua inação global ameaça transformar o custo de vida como o conhecemos.

Um recente estudo norte-americano concluiu que os impactos climáticos poderiam custar perto de 20% dos nossos rendimentos anuais em 2050 - cerca do dobro do PIB de toda a União Europeia. Ler estes números não nos deve levar para o desespero, mas para a ação. O mesmo estudo realça como a ação global para conter o aquecimento a 2º C será seis vezes mais barata que os custos da inação. O futuro está nas nossas mãos.

Eu mantenho-me convicta de que o futuro pode e será melhor. Uma grande razão para tal é a energia incrível e o desejo de mudança a que assisti por parte de ativistas portugueses num treino recente da minha organização, o Climate Reality Project, em Roma, com o antigo Vice-Presidente dos E.U.A., Al Gore.

O treino juntou jovens, grupos da sociedade civil, representantes governamentais e tantas outras pessoas da Europa do Sul para aprender mais sobre a crise climática e como combatê-la em conjunto. Durante as minhas conversas com pessoas desta região - em especial os Portugueses - fiquei admirada pela insistência que o único caminho é em frente. O que ouvi uma e outra vez foi uma variação de “Vamos deixar os combustíveis fósseis para trás. Não nos podemos dar ao luxo de não o fazer.”

Ser testemunha desta determinação para construir um futuro habitável - para Portugal, a região e todos nós - deu-me esperança e energia. Como ouvi - e como vi em Portugal - não nos podemos dar ao luxo de não ganhar a luta por um futuro justo e sustentável.