Qual a prevalência do cancro da próstata?

O cancro da próstata é o tumor mais prevalente no homem. Em Portugal a prevalência é de 21% e esperam-se diagnosticar cerca de 6 mil novos casos por ano, com uma mortalidade de 1500 doentes por ano. É um tumor relativamente pouco agressivo e a maior parte dos homens com este diagnóstico não morrem por esta doença. No entanto, é muito prevalente e é um problema sério de saúde pública, com morbilidade e mortalidade significativa.

Quais são os principais fatores de risco?

Os fatores de risco melhor estabelecidos são a idade, a história familiar e a raça negra. A prevalência é tanto mais alta quanto maior a idade. 10% dos casos de cancro consideram-se formas familiares e, tipicamente, há pelo menos três homens afetados na família. No entanto, a existência de um membro da família com este diagnóstico é suficiente para ter um risco mais alto do que a população geral. Já nos Estados Unidos, os afrodescendentes têm uma incidência deste cancro superior à população em geral.

Também fatores dietéticos são importantes, nomeadamente alimentação rica em gordura animal e pobre em frutas e vegetais, que se associa a um risco aumentado. Também um estilo de vida sedentário aumenta o risco, pelo que é aconselhável o exercício físico.

É importante sublinhar que os fatores de risco apenas aumentam a probabilidade de ter esta doença.

“Pessoas sem qualquer fator de risco podem desenvolver cancro da próstata, pelo que ninguém deve descurar a vigilância preventiva desta doença.”

O diagnóstico costuma ser tardio?

O cancro da próstata, na fase inicial curável, é assintomático, pelo que só é diagnosticável incidentalmente no estudo por outras doenças, o chamado rastreio oportunístico ou se o homem em questão fizer uma vigilância regular.

Ainda há muitos homens que não estão consciencializados para a importância de rastrear esta doença, pelo que não procuram ajuda médica. Para além disso, pessoas com sintomas atribuem-nos ao processo de envelhecimento e consideram não ser necessário procurar o médico. Outro fator é a relutância a fazer exames invasivos, como o exame da próstata que muitos ainda consideram vexatório, apesar de ser uma observação muito simples.

Claro que o fator socioeconómico é muito importante porque se associa a desiguais nos níveis de literacia para a saúde. Geralmente as pessoas que procuram fazer uma vigilância por rotina têm níveis de educação mais altos.

“Também o papel do médico de família é fundamental na promoção da vigilância dos seus utentes.”

De que forma esse atraso tem impacto no prognóstico?

O cancro da próstata, na maior parte dos casos, tem uma evolução relativamente lenta e permite ser diagnosticado ainda como doença localizada no órgão, potencialmente curável. Além disso, hoje em dias temos tratamentos curativos altamente eficazes.

Se a doença for detetada numa fase mais avançada, os tratamentos já não têm um intuito curativo e é apenas possível fazer terapêutica paliativa. Estes tratamentos, maioritariamente medicamentosos, controlam a doença por vários anos mas não a erradicam. Potencialmente a doença pode evoluir e deixar de responder, com consequências graves nos casos da doença metastizada, com eventual progressão para a morte.

Esse atraso poderá dever-se a alguma resistência por parte do homem em ir ao médico e ou em fazer o rastreio?

Os doentes que são diagnosticados tardiamente, são frequentemente por ignorância desta doença e dos benefícios de um diagnóstico precoce. No entanto, há uma percentagem de homens que não se vigia por receio infundado de exames invasivos, como o toque retal. Não é raro termos homens que vão há consulta por incitação das suas cônjugues.

“O doseamento do PSA regular já permite diagnosticar precocemente o cancro da próstata com muito mais acuidade do que o toque retal, que tem vindo a ser secundarizado, embora ainda seja de rotina pela sua simplicidade de execução.”

Em termos de tratamento, como avalia a evolução ao longo dos últimos anos?

O tratamento do cancro da próstata tem sofrido uma evolução tremenda ao longo das últimas décadas desde o período antes da análise do PSA, em que os doentes eram detetados praticamente todos já em fase avançadas e não curáveis, fazendo-se apenas terapêutica hormonal, paliativa. Nesta altura considerava-se que não havia hipótese de alterar o curso da doença e os doentes morriam ou sobreviviam de acordo com a agressividade do cancro, no seu caso.

Na era do PSA, com a deteção da maior parte das doenças em fase localizada, a perceção dos urologistas mudou. Conseguiu-se demonstrar que com cirurgia se conseguia reduzir a mortalidade. A técnica cirúrgica também evoluiu muito e da cirurgia aberta passou-se para a laparoscopia e depois para a cirurgia robótica.

“A cirurgia robótica consegue bons resultados oncológicos com uma redução da morbilidade, que com o apuramento da técnica cirúrgica é cada vez menos relevante.”

Com um diagnóstico precoce, o homem pode ter esperança, o cancro não tem de ser o fim?

Naturalmente, pelo que está exposta acima, não. A doença é de baixo risco tem taxas de cura acima de 90%. É uma patologia de muito reduzida extensão e agressividade e hoje, oferecemos programas de vigilância ativa em que o doente é vigiado apertadamente e só passa para tratamento de intenção curativo quando se deteta evolução da doença.

Mesmo doenças mais agressivas podem ter boas taxas de cura significativas, com doença de alto risco a ficar controlada em cerca de 60%. Mesmo na doença localmente avançada, ou seja fora da próstata mas ainda confinada à bacia, com tratamentos multimodais (associando vários tipos de tratamento) conseguimos controlo da doença em muitos doentes.

Nos casos mais avançados, já incuráveis, também há esperança, uma vez que a investigação em medicação oncológica tem sofrido enorme evolução.

“Hoje, temos múltiplos medicamentos eficazes que usados sequencialmente, em múltiplas linhas de tratamento, permitem sobrevivências que há poucos anos eram impensáveis.”

MJG/CG

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