Como se caracteriza a doença venosa crónica e qual é a sua prevalência?
Tipicamente, os sintomas desta doença são a presença de dor e sensação de peso e cansaço nas pernas, que vai agravando ao longo do dia e também durante o tempo quente. De modo mais raro, os doentes podem ainda sentir cãibras, parestesias e, portanto, alterações de sensibilidade. Com o evoluir da doença começam a surgir as varizes nos membros inferiores, que podem complicar para trombose, flebite ou mesmo uma trombose das veias mais profundas. Ainda em situações mais raras, pode haver hemorragias ou pode surgir uma úlcera de perna. Entre os 20 e os 50 anos, a prevalência é maior nas mulheres do que nos homens (de seis mulheres por cada homem). A partir dos 60 anos começa a aumentar a prevalência do homem em relação à mulher e aí já temos esta doença presente numa mulher e meia por cada homem.
“Sabemos que 30 a 40% da população tem doença venosa crónica.”
Quais são as principais causas?
A doença é sempre multifatorial, nunca é proveniente apenas da influência de apenas um fator de risco. Há alguns fatores que podemos modificar e outros em que isso não é possível, nomeadamente a genética, a propensão para um maior número de casos no sexo feminino e alguns fatores hormonais, como a gravidez. Ainda assim, dentro destes últimos existe um que pode ser alterado, que é o uso de anticoncecionais orais. Outros fatores de risco que são facilmente modificáveis são o passar muito tempo de pé, a obesidade, o sedentarismo, o estar exposto a fontes de calor como aquecedores, lareiras, o estar de pé ao sol por tempo prolongado.
Atualmente, quais são as opções de tratamento disponíveis?
Oferecemos o tratamento de acordo com o estadio e com a localização da doença. Se estivermos a falar de varizes numa fase muito inicial, em que ainda não estão muito desenvolvidas nem tiveram complicações, podemos atuar apenas controlando os fatores de risco, que são modificáveis, através da prática do exercício físico, de uma dieta rica em fibras, da ingestão de muitos líquidos e associar tudo isto ao uso de umas meias elásticas. Numa fase um pouco a seguir, já pode ser necessário a utilização de escleroterapia ou a vulgarmente chamada ‘secagem de varizes’.
Em estadios mais avançados podemos ter de recorrer à cirurgia, sendo que atualmente temos várias técnicas disponíveis. Hoje em dia a primeira opção terapêutica é a chamada ablação térmica. Nesta cirurgia fazemos desaparecer a safena através de temperatura, ou com o uso de alguns químicos, que por sua vez a vão fechar. Acima de 60 C.º, o colagénio da parede da veia retrai. Assim, se aplicarmos uma fonte de calor superior, a veia vai fibrosar e o próprio organismo vai depois absorvê-la.
Com base nestes princípios, fazemos a cirurgia por laser ou por radiofrequência. A vantagem destas técnicas é que são feitas por visualização direta, guiadas por ecografia. Além disso, são feitas com uso de anestesia local, e devido ao facto de serem minimamente invasivas, realizam-se em ambulatório, com uma recuperação muitíssimo rápida.
“Se não forem de imediato identificados e tratados, estes trombos das veias superficiais podem progredir para uma trombose de veias mais profundas”
A longo prazo, que complicações podem surgir em doentes com esta doença e que não realizam um diagnóstico formal?
Quando existe uma insuficiência venosa, o sangue acumula-se nos membros inferiores. Ocorre uma estase, o que propicia a formação de trombos dentro da veia e, por sua vez, varicoflebites. Se não forem de imediato identificados e tratados, estes trombos das veias superficiais podem progredir para uma trombose de veias mais profundas, que depois, em situações raras, podem evoluir para uma embolia pulmonar.
Uma complicação também muito frequente são as hemorragias. Uma vez que a variz diz respeito a um vaso com uma pressão mais alta do que uma veia normal, vai provocar uma hemorragia maior. Além disso, a fibrose, quando não é tratada, evolui para uma úlcera varicosa.
CG
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