Cidade inclinada no sopé da serra da Estrela, a Covilhã orgulha-se da relação com a montanha, que marcou o passado e aponta os caminhos do presente e do futuro. Ao percorrer o centro histórico à boleia do roteiro do WOOL, o Festival de Arte Urbana da Covilhã, intimamente ligado à herança industrial local, melhor se percebe a razão para a UNESCO, em 2021, a ter reconhecido como Cidade Criativa do Design.
O turismo industrial ligado aos lanifícios, do fio aos tecidos, está naturalmente bem patente no património da cidade e é gerador de diversas rotas que merecem atenção. Mas, a cidade reinventa-se em permanência. Na zona histórica encontra, a cada passo, o engenho e o talento de consagrados artistas da street art, graffiti, ilustração e fotografia. As paredes das casas são telas frequentemente ilustradas com temáticas ligadas aos ofícios das lãs, à serra da Estrela e às suas gentes. É muitas vezes apelidada de “museu ao ar livre” e palco do Wool – Festival de Arte Urbana da Covilhã, um evento com um formato pioneiro no interior do país, que convida artistas do graffiti para contar, com olhar próprio, crítico e criativo, a história da Covilhã. A somar a esta dinâmica, uma cidade universitária, nascida nos anos 70, e a envolvente de belezas naturais, entre trilhos e miradouros, fazem da região um lugar, de facto, inspirador.
Esta atitude criadora encontra eco na cozinha com as muitas receitas que vão surgindo e que mantêm vivos os pratos “clássicos” de sempre como o típico Pastel de Molho da Covilhã, a cherovia preparada de múltiplas formas, as Papas de carolo, os licores, de mirtilo ou zimbro, e claro, o Queijo Serra da Estrela (DOP).
Quando uma cidade se pinta de cores…
Siga o roteiro de arte urbana. Embora se realizem pontualmente passeios guiados, pode partir à aventura. Sai do Correios, onde encontra logo o mural de Rodolfo Passaporte, depois o “Coração” tridimensional de Third e um trabalho dos alunos da Escola Campos de Melo, próximo dos andorinhões de Pantónio e da parede esculpida pelo artista internacional português Vhils. Sobe pelas traseiras da câmara municipal e descobre os tecidos, Oddments, de Add Fuel, padrões ricos vão-nos transportar até à gigantesca intervenção de Arm Collective, junto à igreja de Santa Maria, e a lenda da Serra da Estrela de Gijs Vanhee, o Sr. Viseu de Samina e a mulher de três braços a tecer as suas roupas, de Tamara Alves.
Estes são apenas alguns recantos surpreendentes para descobrir na cidade que também tem a mais extensa e mais alta ponte pedonal citadina da Europa, cruza um vale e liga duas encostas, como uma linha que divide o horizonte, a Ponte Pedestre sobre a Ribeira da Carpinteira (2003-2009) é um marco da arquitetura da Covilhã, com assinatura do arquiteto João Carrilho da Graça. Nivela o percurso entre o centro da cidade e a zona residencial rural ao longo de 220 metros, rodeada de montanhas. Atravessá-la é de facto ver a Covilhã de outro prisma e perceber que esta obra de arquitetura trouxe um enquadramento completamente novo à cidade.
Laboratório de estórias e cultura
A história da Covilhã foi sempre influenciada pela presença de duas ribeiras: a Goldra e Carpinteira. Esta última foi marcada pelas diversas atividades comerciais relacionadas com os lanifícios desde o século XVII, nomeadamente no que diz respeito à manufatura ligada à lavagem e ao tingimento de lãs. O New Hand Lab nasceu em 2013 e está situado na Fábrica de Lanifícios Júlio Afonso. Lugar de criatividade e inovação, residências artísticas e espetáculos, tornou possível ver a maquinaria fabril e perceber o seu funcionamento rodeado de obras de arte, mas também conversar com alguns artistas de diversas áreas, do design de moda e têxtil às artes multimédia, a pintura ou escultura. É possível fazer visitas guiadas ao edifício, acompanhados pelo mentor do projeto ou por um dos autores e conhecer a realidade das fábricas têxteis na era do seu apogeu. Durante o percurso, podem ser observadas as máquinas, escritórios, laboratórios e ainda grande parte do espólio técnico de Júlio Afonso. A visita culmina na loja, para conhecer e adquirir peças autorais (Tel. 962697493).
Museus para saber tudo sobre as gentes da região
A Covilhã é arte contemporânea, mas também histórica. O Museu da Covilhã (Tel. 275330665) fica instalado no edifício histórico assinado por Ernesto Korrodi, onde funcionou o Banco Nacional Ultramarino, entre as décadas de 20 e 80 do século XX. Permite conhecer o território, as pessoas e história, num incentivo à reflexão sobre passado e futuro. Apenas a 15 minutos de automóvel, na aldeia de Peraboa, uma visita mais gastronómica acontece no Museu do Queijo (Tel. 275471172), onde fica a saber tudo acerca da história dos protagonistas da aventura do Queijo da Serra, nomeadamente as famosas ovelhas, pastores que habitam as montanhas e rotas dos rebanhos através de Portugal e Espanha.
Miradouros para horizontes panorâmicos
O Miradouro dos Carqueijais, na Covilhã, faz parte da Rede de Miradouros que une a cidade da Covilhã à Serra da Estrela. Projeto arquitetónico de grande ousadia, confere a sensação de estar suspenso nas nuvens. Foi renovado e complementado por passadiços de forma a facilitar o acesso aos caminhantes, mas também a praticantes de ioga e reiki, e todos aqueles que são sensíveis a uma bela panorâmica a partir desta “varanda”.
Para além deste, outros quatro miradouros merecem destaque. O de Piornos, que se segue à “Varanda”, com uma altitude de cerca de 1630 metros, construído na vertente de um bloco granítico para oferecer uma paisagem única e inspiradora moldada por antigos glaciares. Permite aos visitantes observarem a Nave de Santo António e o planalto ocidental. No Miradouro do Marquês de Ávila e Bolama, situado em pleno centro da cidade da Covilhã, há uma vista privilegiada da cidade e da Cova da Beira e um café-restaurante com esplanada panorâmica, assim como um telescópio e estacionamento para 18 viaturas. É apelidado de Miradouro da “Minerva” pelos covilhanenses por ali ter funcionado a histórica Tipografia Minerva. No Miradouro das Portas do Sol é possível ter a noção do domínio da paisagem, os principais acessos à cidade e, igualmente, como se deslumbravam (e ainda deslumbram) os contornos da antiga fronteira com o reino de Castela. Nossa Senhora da Conceição, miradouro situado perto da Universidade da Beira Interior, integra um jardim para usufruir, entre arvoredo, e uma magnífica vista sobre a cidade da Covilhã.
Provar a raiz mais famosa de Portugal
Até dia 22 de setembro de 2024, na Covilhã, decorre a 17ª edição do Festival da Cherovia, uma raiz em forma de cenoura, cor de nabo e sabor adocicado. Este ano ocupa um maior número de ruas, acolhe mais coletividades, mais stands, mais artesanato, mais palcos e artistas, assim como restaurantes na Rota Gastronómica e acrescenta receitas novas.
A zona do antigo castelo passou a integrar o perímetro do festival, que, no total acolhe com 14 associações, 60 stands, 30 restaurantes que integram a Rota Gastronómica da Cherovia, seis palcos e 538 artistas, entre bandas, ranchos, filarmónicas e músicos da região. e Faz parte da filosofia do Festival, incentivar os participantes em apresentarem novas receitas que utilizam a cherovia como base e por isso uma das grandes novidades é a criação do São Tiago de Cherovia, doce inspirado no famoso Dom Rodrigo, confecionado com a raiz que tem a maior zona de produção na Cova da Beira. Há ainda momentos de cozinha ao vivo ao longo do festival.
Clássicos reinventados à mesa
Dos restaurantes selecionados pelo Guia Boa Cama Boa Mesa de 2024 e com Selo Recheio, destaque para o projeto Chef Magalhães (Tel. 962737574), casa situada na Quinta da Amoreira serve unicamente a melhor matéria-prima. Prove o “Naco de novilho” ou o “Lombo de javali” e acompanhe com arroz de cogumelos. Termine com uma das sobremesas, todas elas obras de arte, entre as quais o “Folhado de manga com frutos silvestres e gelado”. Visite ainda o Da Beira Country Lounge Restaurant (Tel. 275331174), um clube de campo em que a refeição é um momento de descontração, com vista para a piscina e jardins, e onde os produtos da Beira são os protagonistas da carta. Experimente os “Croquetes de cabritinho”, os “Pasteis de molho da Covilhã” e o “Cabritinho serrano”.
Visite ainda a renomada Taberna Laranjinha (Tel. 275083586), que comemora 10 anos com os atuais proprietários, alargou o seu espaço para ter mais capacidade de acolher os comensais e prove a ementa que é um hino ao local com um toque de contemporaneidade nomeadamente a cherovia, o “Bacalhau à Assis”, a “Rabanada do Bolo da Festa de Tortosendo com gelado de canela”. Não perca ainda outra morada, o restaurante Alkymia, (Tel. 2753334174) onde à mesa se experimenta um “Lombinho de veado” e a “Truta de escabeche”.
Panorâmicas e aconchego
Selecionados pelo Guia Boa Cama Boa Mesa de 2024 e com Selo de Qualidade Recheio, o alojamento Casa de Campo de Torneiros (Tel. 934232916), localizado em Unhais da Serra, fica situado a 1200 metros de altitude e beneficia de uma ampla vista e tranquilidade. Com muita luz natural e terraço exterior, dispõe de seis quartos sofisticados. No Guia de 2024 e com distinção de Recheio, encontra ainda o H2otel – Congress & Medical Spa (Tel. 275970020), um hotel de cinco estrelas, com 85 quartos, dos quais 22 suites e um restaurante com cozinha de autor. Os tratamentos termais, com um conceito focado na saúde, são o seu grande atrativo. São águas com propriedades curativas reconhecidas.
Já para uma estadia descontraída, cosmopolita, o Pura Lã Wool Valley Hotel (Tel. 275330400), alojamento que tem a temática das lãs como fio condutor de toda a decoração, assim como oferta de tratamentos spa com ervas da serra. Dispõe ainda de um restaurante com cozinha contemporânea com raízes locais além de um bar de cocktails.
Roteiro de fim de semana é uma iniciativa Boa Cama Boa Mesa, com o apoio do Recheio, que semanalmente, ao longo do ano de 2024 vai dar a conhecer os principais eventos gastronómicos, entre festivais, feiras e mostras, que promovem regiões, restaurantes e produtos locais.
Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver código de conduta), sem interferência externa.
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