O aperitivo para assinalar a partida de um itinerário maioritariamente gastronómico bebe-se bem fresquinho, claro está, sempre com moderação. Pode igualmente servir de base para a preparação de um cocktail como sugerido pela destilaria Clara Medronho, da aldeia de Santa Clara-a-Velha. Falamos da aguardente de medronho, feita a partir do fruto “Arbutus unedo”, que faz parte da identidade cultural da região de Odemira, onde dezenas de produtores herdaram o saber fazer de muitas anteriores gerações. Quando bem vermelhinho, o medronho transforma os campos e faz os arbustos parecerem árvores de Natal enfeitadas. Muitos estrangeiros chegam a confundi-los com lichias. Tenha a experiência de colher os medronhos maduros e doces e de os comer no campo. Não embebedam, é um completo mito. Para um litro de aguardente são necessários 10 kg de medronho. Prove-os em aguardente, licor, compota, geleia e ou até mesmo no pão.
Med Negroni
Quando a destilaria está em laboração, a Clara Medronho (Tel. 912581175) recebe visitas, mas, quando não é o caso, é sempre possível conhecer os campos de medronheiros e perceber a evolução do fruto que nasce de um arbusto e que tem potencialidades sem fim. O convite desta destilaria histórica é para “falar sobre medronho e sobre a vida”.
“Amanhe” tudo o que precisa para preparar um Med Negroni, “Born in Santa Clara-a-Velha” e siga para um mergulho na albufeira da barragem da aldeia, onde encontra mesas e chapéus de colmo para sentar e ficar a olhar a paisagem. Junte 3 cl de Clara Medronho, a mesma quantidade de Campari e de Martini Rosso num shaker com gelo e mexa até ficar bem gelado, de seguida coe para um copo baixo sobre um grande cubo de gelo e decore com rodela de laranja. Santa Clara-a-Velha conta com outro produtor de medronho, com certificado Medronho SW, um selo que assegura a qualidade para os medronhos do Sudoeste, o Valmerências (Tel. 965141150).
Fora dos produtos gastronómicos há possibilidade de um banho perfumado com sabonete de medronho. A Zorra Casa de Medronho, na aldeia de São Luís, dispõe de sabonetes com propriedades altamente hidrantes e desinfetantes graças à receita de base comum com óleos vegetais nobres, com variantes que incluem argilas e vários aromas além do medronho. Fabrica ainda mel de medronheiro, biscoitos de medronho, infusões e, claro, aguardente de medronho. Recebe visitas (Tel. 929071428). É ainda uma oportunidade para conhecer a aldeia de São Luís, segunda freguesia mais habitada do concelho, com paisagem marcada pela imponente serra de São Domingos, o rio Mira e a ribeira do Torgal.
Rota das destilarias
Seguir a rota das destilarias é uma ótima forma de conhecer as aldeias do concelho. Taliscas é nome de outra aldeia de Odemira e da aguardente de medronho que obteve este ano o primeiro lugar concurso de aguardente de medronho organizado pela Arbutus, Associação para a Promoção do Medronho, com o apoio da Câmara Municipal de Odemira. Esta aguardente é produzida apenas com medronhos biológicos da Herdade da Tamanqueira do Meio, apanhados manualmente com todo o cuidado, com controlo da produção de “A” a “Z”. Visite a destilaria de José Burnay e Filhos (Tel. 912435619).
São Teotónio é aldeia rica em referências de Medronho SW. Conheça a destilaria e pomar da dupla Junior Jacques (Tel. 925552014), agende uma prova, um almoço ou jantar temático. Ainda em São Teotónio, prove a aguardente “Gomes Aires”, produzida por António da Costa (Tel. 9665141150) e, na aldeia de Luzianes-Gare, a “Alma da Nossa Gente”, feita pelo mesmo produtor. Luzianes é um paraíso para as ervas no interior do Alentejo e para quem a visita a freguesia pela proximidade às barragems de Santa Clara-a-Velha e Corte Brique, para se refrescar, praticar canoagem, passear de barco, pescar e ainda passear a pé ou de bicicleta. A pouca distância encontra o Moinho das Verdigueiras, a funcionar “a plenos pulmões” sempre que o vento o permite e há grão para moer.
Em Sabóia, na margem esquerda do rio Mira, uma destilaria do Corgo do Milhafre (Tel. 966426996). Vá até à foz da ribeira de Sabóia, local aprazível onde a ribeira se junta às calmas e serenas águas do rio Mira. Numa deslocação à Eirinha, pequena elevação perto da aldeia, pode obter uma panorâmica geral de Sabóia.
Conhecer estes lugares é conhecer o território e contactar com as pessoas, conhecer a sua história e provar um produto de excelência que tem vindo a ganhar mais produtores e adeptos.
Mel, ouro para a gastronomia, saúde e cosmética
Produzido de forma artesanal, e atendendo à flora característica da região, o mel produzido no concelho de Odemira e na região adquire propriedades sensoriais únicas, com elevada qualidade e pureza. Assume papel de destaque na cosmética e na gastronomia. A sua utilização para fins medicinais é uma tradição antiga, assim como na doçaria, existindo várias receitas de doces e bolos adoçados à base de mel. Mais de uma dezena de produtores de mel tornam possível provar e conhecer a produção deste “ouro”. A Melisfont (Tel. 962861919) produz mel na zona do Parque Natural Sudoeste Alentejano e tem como mote “tornar as pessoas doces”. Já a Apicortes (Tel. 283623137), projeto da família Cortes, ligada à apicultura e extração de produtos produzidos pelas abelhas, entre mel, pólen, geleia real, própolis e ainda sabonetes de mel e licores, há cerca de 90 anos, começou com António Cortes e continua com o filho Francisco. Visite as colmeias na pequena localidade de Fornalhas Velhas e converse com apicultor Paulo Jorge Candeias (Tel. 917935165). Este produtor de mel, pólen e rebuçados de mel, já conta com Filipa Candeias, mais uma geração da família na produção de mel.
Vinhos de contraste para múltiplas sensações
No caso do Sudoeste Alentejano, o contraste entre os vinhos do litoral e do interior são desde logo um atrativo. A influência Atlântica é marcante nos vinhos produzidos na Costa Alentejana, refrescantes e elegantes, com uma expressão salina muito particular que é impossível de encontrar noutras regiões de Portugal. Já a influência do clima mediterrânico do interior, quente e seco, encontra expressão em vinhos mais quentes e suaves. Precisamente numa das vinhas mais próximas do oceano Atlântico em Portugal continental, pode passear pela vinha ou participar da vindima acompanhado a cada passo pelo som do mar.
Na Adega da Costa Atlântica – Vicentino, situada no Brejão (Tel. 914549870), este cenário marítimo não é apenas um pano de fundo pitoresco, é um elemento essencial que influencia de forma indelével o caráter único das uvas ali colhidas, ao lado do mar. São transformadas na nova adega do Vicentino. Cada garrafa de vinho é a expressão deste território e uma celebração entre a tradição vitivinícola do Alentejo e a influência do oceano. Não é caso único, a Cortes de Cima (Tel. 911074441), apresenta o Salino, branco e, mais surpreendente, tinto, vinho nascido de uma vinha de 35 hectares, no sopé da serra, junto à aldeia de São Luís, onde o rio Mira se junta ao mar, apenas a 3 km do Atlântico. Para provar e sentir a brisa do mar, experimente o vinho Salino no restaurante A Barca Tranquitanas (Tel. 283961186), na Zambujeira do Mar. Na Adega dos Nascedios - Encosta da Fornalha, em Fornalhas Novas, nascem vinhos produzidos no seio de um projeto de tradição familiar em que as uvas florescem num solo franco-argilo-arenoso profundamente atravessado com abundantes minerais e nutrientes. Prove os vinhos, visite a adega e conheça as vinhas (Tel. 283623163).
Já em Amoreiras-Gare, na Adega Monte do Verdelho – Derramado (Tel. 933480202) encontra o vinho batizado após uma conversa com amigos durante um jantar. Quando alguém perguntou: “De onde é este vinho?” e a resposta foi “É cá do monte!". Assim nasceu, entre o mar e a serra, o vinho “É Cá do Monte”, uma bag in box de dois litros com uma embalagem que parece uma malinha de mão. De cor rubi intensa, aroma a fruta madura e taninos suaves, mas bem presentes, é bom companheiro para um petisco de queijos e enchidos do Alentejo. Na mesma adega prove o “Derramado”, vinho de colheita manual e fermentação em lagares de pedra, com enologia de Luís Morgado Leão. A tradição vínica do Monte do Verdelho remonta ao ano de 1298, com a produção do afamado Bastardinho.
“Az-zait”, produzido no Alentejo há mais de 2000 anos
Não se sabe ao certo quando se começou a produzir azeite no Alentejo, mas existem menções em escritos romanos há mais de 2000 anos. O momento em que o primeiro azeite surgia nos lagares sempre foi um momento de grande curiosidade por parte de todos que queriam provar o sumo de azeitona aromático. Em duas aldeias de Odemira encontra os produtores de azeite tradicional alentejano. Na aldeia de Colos, “Parrinha” (Tel. 933523330), na aldeia de Colos, e Lagar Vale da Casca (Tel. 918614541), em Relíquias, freguesia serrana que marca a mudança de paisagem, da planície para a serra, aldeia feita de ruas estreitas e casas caiadas. Estende-se desde o alto de uma pequena elevação, onde se encontra a igreja de Nossa Senhora da Assunção, e fica encaixada no vale. Visite o moinho da Lage, ainda em funcionamento, e o antigo porto fluvial da Casa Branca.
Queijos de Odemira
Em Odemira, a tradição é de queijo fresco e queijo seco, mas hoje os queijos assumem cada vez mais e correspondem a diferentes gostos. A Caprino de Odemira (Tel. 919925420), uma queijaria familiar situada no Mercado Municipal de Odemira, criada há cerca de três anos pela portuguesa Paula e pelo italiano Massimo, tem hoje continuidade com a família de Ana Lúcia Viana e no marido. Queijos em forma de pirâmide ou redondos, muito aveludados, podem ser apreciados e adquiridos na banca do Mercado, um edifício com projeto de arquitetura original de Jorge Viana.
Em Sabóia, o queijo é street food pura e dura com a Queijo Coalho Estrela do Sul (Tel. 968325 640), apresentado grelhado e em espetada. É característico do Brasil, não derrete, fica crocante por fora e macio por dentro.
A quinta onde é produzido o Queijo do Campo da Longueira/Almograve (Tel. 916922915) fica localizada a menos de 1 km do Oceano Atlântico, em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, é um lugar único para uma quinta de gado leiteiro na Europa. A brisa fresca do mar e o clima ameno tornam possível o pastoreio das vacas, em liberdade, durante todo o ano, com acesso a pastagem fresca todos os dias. É um queijo multipremiado descrito como um gouda alentejano. O projeto nasceu de um sonho de Frans após ter estado numa quinta de gado leiteiro na costa oeste da Austrália. No final de 2006, com a companheira Martine, emigraram para o sudoeste alentejano e hoje podem recebê-lo para uma visita à sua vacaria e à loja. A recomendação é que compre/encomende o queijo em conjunto com família e amigos porque um queijo inteiro pode chegar aos 10 kg, mas vale bem a pena. Para além das incontornáveis praias, dê um salto ao Moinho de Vento da Longueira.
Com nome parecido, mas localizada na aldeia de Colos, a Queijaria Campo Redondo (Tel. 283691336) é um bom pretexto para visitar Colos, aldeia situada perto de Ribeira do Seissal, onde existe a pequena ermida de Nossa Senhora das Neves, lugar de romaria anual, a partir de onde pode contemplar toda a serra do concelho de Odemira (a Oeste e a Sul) e a vasta planície (a norte). Do requeijão aos queijos curados, passando pelos queijos frescos, verdadeiramente frescos, a Queijaria do Mira é uma morada obrigatória para comprar e provar queijos em Odemira e que mediante marcação (Tel. 283322659) pode receber visitas.
“Melhor polvo do mundo”
Com 55 km, a costa atlântica do concelho de Odemira, com locais obrigatórios como Vila Nova de Milfontes ou Zambujeira do Mar, oferece a riqueza dos sabores do mar, do “melhor polvo do mundo”, ao sargo e ao robalo na grelha, passando pelas caldeiradas, arroz de marisco, feijoada de chocos ou búzios, perceves, navalheiras. Os peixes e os mariscos frescos são a primeira tentação gastronómica no concelho de Odemira. Entre as espécies mais apreciadas estão o sargo, o robalo, o pampo e o polvo, citando apenas alguns exemplos. Nos mariscos, são os percebes e as navalheiras, os mais pedidos. Além da extensa zona costeira, o concelho conta com um rio impoluto, de características únicas, o rio Mira, em Vila Nova de Milfontes. Serve de berçário a muitas espécies, da dourada ao robalo, ao sargo e até a corvina, dada a vegetação marinha que os protege e à salinidade das águas, favorecendo, sem dúvida, uma boa faina. Ficam algumas moradas para saborear o melhor peixe e mariscos no concelho, começando em Vila Nova de Milfontes com a Tasca do Celso (Tel. 283996753) e o Restaurante Porto das Barcas (Tel. 283997160), seguindo para a Longueira, onde encontra O Josué (Tel. 936520048), e depois até à Zambujeira do Mar, A Barca Tranquitanas (Tel. 283961186), O Sacas (Tel. 283961151) e a Marisqueira Costa Alentejana (Tel. 283961508). Por fim chega à panorâmica localidade de Azenha do Mar para experimentar o restaurante homónimo: Azenha do Mar (Tel. 282947297).
Pão com tudo
O pão alentejano carateriza-se por uma acidez natural, côdea firme e crocante e miolo macio, tem fermentação natural alargada e cozedura em forno de lenha. Os alentejanos têm por hábito comer pão com quase tudo e não negue à partida uma combinação que possa parecer mais inusitada como pão com frutas, seja com figos, com melão, ou com uvas, além dos “clássicos” que são quase uma refeição como o pão com azeitonas. O pão é um alimento por si só, e base de açordas, sopas, ensopados e mesmo doces. A Forno de Pão Tradicional (Tel. 283925469), em São Martinho das Amoreiras, é já motivo de romaria, pelo pão alentejano ou pelas alcôncoras, os mais emblemáticos bolos tradicionais do concelho de Odemira, de receita centenária feita à base de mel e azeite. Entre as mais famosas alcôncoras estão as de Amoreiras-Gare que pode adquirir na Associação de Desenvolvimento da aldeia (Tel. 283926190). Estão associadas a uma tradição antiga do Baixo Alentejo. Eram confecionadas nas épocas festivas e também para os Mastros de Promessa e Mastros dos Santos Populares, onde eram penduradas no topo do mastro juntamente com decorações em papel. No final da festa, que poderia durar vários dias, as alcôncoras eram repartidas entre os presentes. Em Amoreiras-Gare, recomenda-se um passeio à Estação Arqueológica do Pardieiro, uma necrópole da Idade do Ferro, localizada perto da estrada que liga São Martinho à Corte Malhão.
A matança do porco significava antigamente reunião de família e repasto, uma grande festa que, muitas vezes, reunia vizinhos e amigos e marcava o início da produção de enchidos. Hoje existem centenas de variações de enchidos baseadas em receitas centenárias. Chouriço, linguiça, farinheira e paio são alguns dos enchidos mais apreciados e fazem parte de pratos tradicionais da região. O produtor “Alentejo Fine Foods by Cabecinha” (Tel. 283623205), localizado em Fornalhas Velhas, conta já coma segunda geração da mesma família ligadas às carnes. Tiago Cabecinha nasceu no Litoral Alentejano e cresceu a ver o pai a gerir o Talho Cabecinha, negócio de família, em Vila Nova de Milfontes. Fundou a Alentejo Fine Foods com o propósito de “proporcionar momentos de inspiração e prazer”, um convite para “apreciar o que o Alentejo tem de melhor”.
Chocolates e licores
Os Chocolates Beatriz (Tel. 283327205) têm uma localização altaneira única com vista sobre o rio, mesmo antes de passar a Ponte de Odemira, agora rodeada de uma nova zona de lazer para relaxar. A sugestão é que faça uma degustação na esplanada dos Chocolates Beatriz ao final da tarde, mas, se visitar a fábrica de chocolate de Odemira, quando a chocolateira argentina estiver em plena laboração, peça para ver a azáfama e sentir o perfume do chocolate. Natural de Bariloche, onde existe uma forte tradição artesanal iniciada pelos suíços, Beatriz faz quase tudo à mão e convida a fazer um menu de chocolates.
A confeção de licores é uma antiga tradição, assente na sabedoria do produtor e na excelência dos produtos usados. São bem conhecidos os licores de medronho, bolota, marmelo, poejo ou mel. No concelho de Odemira as destilarias como a Junior Jacques, de São Teotónio, e a Zorra Casa de Medronho (Tel. 929071428) são também produtoras de licores, assim como os produtores de mel como a Apicortes, todos visitáveis. Já no Vale das Eirinhas, nas Eirinhas Velhas, em Santa Clara-a-Velha, prova a Melosa de Odemira, produzida por Adília Rosalino Coelho (Tel. 939550423), assim como na Licores Casa 7, em São Teotónio, onde Sandra Isabel Ferreira comanda a atividade licorista.
Saiba mais sobre os produtos e produtores na página da Câmara Municipal de Odemira.
Para a produção desta reportagem a equipa Boa Cama Boa Mesa contou com o apoio da Câmara Municipal de Odemira.