Situada no fundo de um vale, a cascata e lagoa de Fecha de Barjas ou “Cascatas do Tahiti”, como são popularmente conhecidas, são apenas acessíveis por sinuosos caminhos pedestres e sem proteções. O percurso faz-se pela margem esquerda do rio, junto à ponte, até chegar à parte mais recôndita, a preferida para banhos, mas desaconselhada para grupos com crianças – neste caso, devem optar pelas primeiras lagoas a surgir no percurso, mais rasas e de fácil acesso. Apesar da dificuldade no acesso e alguns acidentes, com maior ou menor gravidade, quem continuar a descida íngreme vai ser compensado com uma paisagem arrebatadora: as águas provenientes do rio Arado caem pelas rochas até uma lagoa principal, serena e paradisíaca, exceto em épocas de muita afluência turística. Localizada nas Caldas do Gerês, perto da aldeia da Ermida, no concelho de Terras de Bouro, a cascata e lagoa de Fecha de Barjas não dispõe de infraestruturas nas proximidades, por isso, além de roupa e calçado confortáveis, é indispensável levar mantimentos necessários para um dia de mergulhos na natureza. E uma máquina fotográfica, já que o cenário é de cortar a respiração.

Percorra e fotogaleria e veja como são e como vão ficar as Cascatas do Thaiti:

Obras da polémica

Feito o devido enquadramento e tendo em conta os vários acidentes registados, a Câmara Municipal de Terras de Bouro decidiu avançar com um projeto para conferir condições de segurança ao local: "O objetivo é vedar os locais mais perigosos e garantir condições de visitação em segurança", explicou à Lusa o presidente da autarquia, Manuel Tibo, lembrando os vários acidentes, alguns mortais, que já ocorreram no local. As obras, que tiveram início no passado dia 1 de agosto, com a instalação do estaleiro, consistem na criação de uma estrutura metálica que servirá como miradouro para as cascatas. Incluem a colocação de gradeamento ao redor das quedas de água para melhorar a segurança dos visitantes. Por esclarecer está ainda a futura proibição de banhos nas lagoas da cascata, após as obras em curso.

Imagens 3D do plano de Ordenamento da Visitação na Cascata das Barjas
Imagens 3D do plano de Ordenamento da Visitação na Cascata das Barjas CM Terras de Bouro

“Cenário completamente artificial e urbano”

Logo que o projeto foi conhecido, a associação ambientalista FAPAS foi a primeira a vir a público contestar a intervenção na paisagem protegida. Em comunicado e depois de conhecidas as imagens 3D do projeto, denunciou aquilo que considerou "uma espécie de circo, transformando um troço de paisagem natural, das mais valiosas do Parque Nacional da Peneda-Gerês, num cenário completamente artificial e urbano". Já em relação às questões de segurança, a associação sublinha que as “Cascatas do Tahiti” não oferecem “maiores perigos do que fazer percursos pedestres na restante área do Parque Nacional da Peneda-Gerês, ou noutra área montanhosa, por quem não esteja preparado para a montanha". Acrescenta ainda que “com medidas mais simples e baratas do que as anunciadas, o problema resolvia-se". Em resposta, a autarquia garante todas as entidades envolvidas "estão de mãos dadas nesta empreitada", nomeadamente o Parque Nacional e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

Expresso

Com a polémica a subir de tom e o estaleiro de obras já montado, o partido PAN decidiu interpelar diretamente a ministra do Ambiente. No texto, Inês Sousa Real escreve que "sobre o pretexto de aumentar a segurança no acesso à cascata do Tahiti, a autarquia de Terras de Bouro pretende construir vários acessos à mesma, gradeamento, um parque de estacionamento e um amplo miradouro por cima da cascata. Não descurando a importância de se garantir a segurança e proteção dos visitantes desta zona, com um olhar atento às imagens divulgadas deste projeto conseguimos perceber que este não só desrespeita a paisagem natural do local, como vai muito para além da promessa de segurança".

Imagens 3D do plano de Ordenamento da Visitação na Cascata das Barjas
Imagens 3D do plano de Ordenamento da Visitação na Cascata das Barjas CM Terras de Bouro

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