Ilha da Páscoa, Chile. Ittoqqortoormiit, Gronelândia. Chang Tang, Tibete. Estes são três dos locais mais remotos do mundo. Há algum tempo, uma das grandes dificuldades de viver em locais como estes era o dificílimo acesso à cultura, essencial para a evolução de qualquer sociedade. Hoje, no entanto, isso mudou radicalmente.
Nos dias de hoje, pelo menos no que diz respeito à literatura, a Ilha de Páscoa, Ittoqqortoormiit e Chang Tang têm acesso às histórias de todo o mundo com uma facilidade semelhante à de grandes centros como Lisboa, São Paulo, Madrid, Hong Kong ou Nova Iorque. Como? Por meio de amplas redes de distribuição de livros impressos 100% sob procura.
Todos os autores conseguem, atualmente, publicar os seus livros gratuitamente, em formato impresso e digital, em plataformas online. Plataformas estas que estão conectadas a redes de gráficas espalhadas por dezenas de países e que, por sua vez, estão integradas a milhares de livrarias e marketplaces nos seus respetivos países.
Quando um leitor que vive em Chang Tang, em Paris, em Tóquio ou em qualquer outro local, decide aceder à sua livraria preferida na internet e comprar um livro publicado, por exemplo, por um autor brasileiro ou português, este livro é imediatamente impresso na gráfica mais próxima de si e entregue em prazos que não costumam ultrapassar uma semana. Pode-se alegar que esta realidade já existe desde que o livro eletrónico foi inventado, há mais de uma década, mas o facto é que o livro eletrónico nunca ganhou as massas tal como se previa: hoje, de acordo com um estudo da Stora Enso, tem a preferência de apenas 21% dos leitores. É pouco. Uma verdadeira revolução literária precisa de conseguir abraçar a maioria absoluta dos leitores para efetivamente acontecer. E isso só o livro impresso o consegue.
É justamente o que estamos a testemunhar hoje em dia. Graças a essa rede de distribuição de livros impressos localmente consoante a procura, os leitores de qualquer parte do mundo ganham o quase divino presente de ter ao seu alcance a literatura de qualquer lugar. Já os autores, que passaram séculos a batalhar pelo seu espaço, trabalhando incansavelmente para ter as suas histórias ao alcance de mais e mais leitores, têm hoje acesso aberto a um mundo que, até então, era restrito aos best-sellers.
Esta nova era de distribuição plena de literatura, de aniquilação de fronteiras e de acesso absolutamente democrático e plural, já está a mudar tudo. Autores que costumavam ficar restritos aos seus próprios países, hoje, já se conectam a públicos espalhados pelo mundo. Já conseguem tirar os seus sustentos de terras distantes entre si, já se sentem integrados num mundo muito maior, muito mais diverso e muito mais plural do que aquele em que nasceram.
Quando todos podem partilhar as suas histórias, imaginações, experiências e visões do mundo com todos, independentemente de qualquer fronteira, o mundo atinge, invariavelmente, um nível de integração inédito, uma integração capaz de nos catapultar para uma era onde a compreensão mútua afogue o preconceito.
Mas o que mais nos deve entusiasmar é o facto de essa distribuição editorial, por mais revolucionária que seja, ser apenas uma etapa no percurso que a literatura deve percorrer. Há, afinal, o inevitável avanço de ferramentas de Inteligência Artificial em tarefas como a tradução de textos, permitindo que não seja necessário dominar um idioma para aceder às histórias escritas nele. Há que se ser otimista quanto a um mundo em que todos conseguiremos, finalmente, ler-nos uns aos outros.
Fundador e CEO do Clube de Autores