A descoberta da iluminação artificial desempenhou um papel crucial no desenvolvimento económico dos últimos 200 anos. No entanto, o seu uso à noite (ALAN), trouxe consigo um impacto negativo para todos os seres vivos: a poluição luminosa.
A poluição luminosa é especialmente prevalente nas áreas urbanas, onde a iluminação elétrica de carros, iluminação pública, escritórios, fábricas, publicidade ao ar livre e edifícios transforma a noite em dia. Este fenómeno afeta tanto as pessoas que trabalham quanto aquelas que se divertem muito depois do pôr do sol.
Os componentes da poluição luminosa incluem brilho excessivo que causa desconforto visual, brilho do céu noturno sobre áreas habitadas, luz intrusiva onde não é pretendida ou necessária e desordem, que se refere a agrupamentos brilhantes e confusos de fontes de luz. A luz artificial pode perturbar os ritmos naturais de humanos, plantas e animais. Em suma, a poluição luminosa resulta do uso inadequado de luz artificial durante a noite. Não só é um poluente ambiental com potenciais danos para a saúde humana, como também impacta negativamente a vida selvagem e os ecossistemas, privando-nos da oportunidade de contemplar um céu noturno verdadeiramente escuro.
Com a introdução da tecnologia PC LED, a eficiência energética aumentou e as emissões de CO2 diminuíram. No entanto, esta tecnologia intensificou a poluição luminosa devido à maior emissão de luz azul, especialmente em temperaturas de cor mais elevadas. Esta luz azul parece contribuir para a redução dos níveis de melatonina nos seres humanos e, devido ao efeito Rayleigh, intensifica a poluição luminosa, afetando comportamentos como padrões de migração, hábitos de vigília-sono e formação de habitats.
Apesar dos benefícios da tecnologia LED, estudos recentes indicam que a poluição luminosa está a crescer a uma taxa de 9,6% ao ano. Por exemplo, estes estudos mostram que mais de 80% da população mundial e 99% dos americanos e europeus vivem sob o brilho do céu noturno. Assim, milhões de pessoas em áreas urbanas, nunca terão a oportunidade de contemplar a Via Láctea, vivendo sob um brilho constante do céu.
A poluição luminosa tornou-se assim, um problema global que exige uma mudança de paradigma. Como solução, a International Dark-Sky Association (IDA) e a Illuminating Engineering Society (IES), publicaram os "Cinco Princípios para uma Iluminação Exterior Responsável", cujo objetivo é prevenir e reduzir a poluição luminosa através da aplicação adequada de iluminação exterior de qualidade. Estes princípios são os seguintes: toda a iluminação deve ter uma finalidade clara; a iluminação deve ser direcionada apenas para onde é necessária; a luz não deve ser mais brilhante do que o necessário; a luz só deve ser usada quando necessária; e, por fim, deve-se usar luzes de cor mais quente.
A Auraicity, uma das empresas mais inovadoras no mercado de iluminação pública em Portugal, lançou em 2018 o projeto Light4All (L4A), comprometendo-se a melhorar a qualidade da iluminação, aumentar a eficiência energética, melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e proteger a biodiversidade, reduzindo significativamente a poluição luminosa.
O projeto Light4All (L4A) visa oferecer ao mercado um conjunto de ferramentas para a criação de sistemas ALAN sustentáveis, baseados em três pilares fundamentais: o desenvolvimento de luminárias de alta eficiência luminosa com Lm/W superior a 150 Lm e ULOR igual a 0 (sem luz para o hemisfério superior), resilientes e com sistemas óticos de alta precisão; a aplicação do conceito ALARA (utilização do nível de iluminação tão baixo quanto razoavelmente exequível), para o qual foi desenvolvida a plataforma digital ConnectCity, que inclui um sistema de gestão remota de iluminação pública, já controlando mais de 1 milhão de pontos de luz em todo o mundo; e, por fim, o sistema Biodynamic Spectrum Control (BCS), desenvolvido pelo departamento de I&D, da Auraicity, que ajusta o fluxo luminoso e a temperatura de cor (de branco a âmbar, menos impactante para a maioria dos seres vivos) de forma remota através da ConnectCity.
Acreditamos que o sistema BSC, em conjunto com a plataforma ConnectCity, representa um passo gigante na mitigação dos impactos do ALAN. Trata-se de um avanço tecnológico de extrema importância, que deve ser aplicado, com urgência em todas as cidades, até porque um novo estudo publicado na revista Science relata que entre 2011 e 2022 a poluição luminosa cresceu 9,6% ao ano.
Este avanço tecnológico para proteger a biodiversidade, é bem visível na concretização do projeto LIFE Natura@night, em parceria com a Sociedade portuguesa para o estudo das aves (SPEA), tendo já alcançado resultados extraordinários. O projeto visa reduzir a poluição luminosa que afeta as áreas protegidas dos arquipélagos da Madeira, Açores e Ilhas Canárias, e também mitigar os seus impactos nas espécies protegidas a nível da União Europeia. As aves marinhas são utilizadas como espécies emblemáticas e indicadores do impacto da poluição luminosa – uma das ameaças prioritárias para este grupo na Macaronésia.
CEO da Auraicity