Se a abordagem One Health (Uma Só Saúde) reconhece a ligação entre pessoas, animais e ambiente com o objetivo de alcançar melhores resultados na saúde de todos, já a sustentabilidade social engloba diversos princípios fundamentais, como o bem-estar humano, equidade, governo democrático e uma sociedade civil democrática. A ideia central é simples, mas poderosa: a saúde humana está profundamente ligada à saúde dos animais e do meio ambiente.
Os animais de estimação são elementos vitais para a sociedade, oferecendo benefícios físicos e mentais. Desde a companhia ao apoio terapêutico, ajudam a mitigar o stress, ansiedade, depressão e isolamento, fortalecendo a inclusão e a coesão social. Neste contexto, os Serviços Assistidos por Animais (SAA) têm ganho destaque ao promover o bem-estar humano nos níveis físico, emocional e psicológico. Desde 2008 que a inclusão de cães no tratamento de doenças ou dificuldades sociais e psicológicas tem sido cada vez mais procurada, seja em hospitais, escolas, centros educativos e lares de idosos.
Na educação das crianças, o vínculo humano-animal desempenha um papel igualmente importante: ao conviver com um animal de estimação, as crianças adquirem conhecimento sobre conceitos como o sentido de responsabilidade, a empatia, a compaixão e o valor da vida. De facto, um estudo realizado no Canadá em 2022, mostra que adolescentes com altos níveis de apego emocional aos animais de estimação estão associados a uma elevada capacidade para sentir tristeza ao testemunhar o sofrimento dos outros, assim como, uma elevada capacidade para sentir compaixão por si e pelos outros. Logo, projetos que oferecem apoio a crianças, adolescentes e adultos através de sessões com cães altamente treinados que providenciam o alívio da ansiedade e promovem o conforto, são alguns casos de sucesso de iniciativas que alinham a abordagem One Health com a sustentabilidade social.
Para além da vantagem da convivência com animais de estimação, verifica-se que os SAA são particularmente promissores, por exemplo, em indivíduos com a Perturbação do Espetro do Autismo (PEA), assim como em indivíduos com dificuldades de leitura.
Num estudo realizado em 2022 no Brasil, cuidadores de crianças com PEA relataram uma melhoria na comunicação em 67% das crianças que tiveram acesso a SAA, o que de acordo com os profissionais de saúde resultou numa maior independência, autonomia, manifestação afetiva e motricidade destas crianças. Já no que toca às dificuldades de leitura, um projeto realizado em Portugal no ano 2021, mostrou que a presença de cães treinados para este propósito cria um ambiente acolhedor e uma experiência positiva em crianças com dificuldades de leitura, permitindo um maior envolvimento emocional, motivacional e comportamental com a leitura. No final do programa, as crianças que treinaram a sua leitura na presença destes cães mostraram em média uma velocidade de leitura superior em 18% comparativamente com aquelas que não tiveram essa possibilidade. No entanto os benefícios não ficam pelas crianças, visto que na população sénior, a relação humano-animal pode ser também determinante na qualidade de vida e no combate à solidão.
A importância desta relação torna-se cada vez mais importante, uma vez que, segundo a Administration on Aging (AoA) nos Estados Unidos, em 2000 estimou-se que 605 milhões de pessoas tinham 60 anos ou mais, e que em 2050, esse número pode aproximar-se dos 2 biliões. O contínuo e rápido envelhecimento da população permite a previsão do aumento de doenças neurológicas associadas à 3ª idade, sendo a demência uma das mais comuns. Para além disso, a perda de entes queridos, a saída da vida ativa (entenda-se pela reforma/aposentação) e a diminuição das atividades sociais podem levar a sentimentos de isolamento e depressão. Junto desta franja da população, os Serviços Assistidos por Animais têm-se revelado eficazes no tratamento de diversas condições, como depressão, ansiedade e demência.
Diversos estudos comprovam essa eficácia, como é o caso de um estudo realizado no Estados Unidos em 2016, em que os autores verificaram que idosos com demência incentivados a tocar, a acariciar, a escovar e a conversar com cães, enquanto paralelamente realizavam outras atividades, tiveram um aumento médio de 17% nos comportamentos sociais positivos comparativamente com outros idosos com demência, que não tiveram acesso a assistência com cães. Num outro estudo realizado em Itália em 2015, para além da melhoria dos comportamentos sociais e qualidade de vida, verifica-se uma redução da velocidade na evolução da doença, associada a menos sintomas depressivos e menor declínio cognitivo.
No entanto, os benefícios da convivência humano-animal vão muito além da saúde física e mental individual. A presença de um animal de estimação pode facilitar a criação de laços sociais e fortalecer a comunidade. Os cães, por exemplo, são frequentemente vistos como "quebra-gelos" em interações sociais, facilitando o contato entre pessoas e promovendo o sentimento de pertença. Em muitas comunidades, os parques e jardins tornam-se verdadeiros centros de convivência, onde as pessoas se reúnem para passear com os seus animais de estimação, trocar experiências e criar amizades.
É importante ressalvar, no entanto, que a convivência com animais de estimação não é isenta de desafios. Questões como o bem-estar animal, a responsabilidade dos tutores e a saúde pública exigem atenção e cuidados. É fundamental que os animais sejam tratados com respeito e que os seus tutores estejam conscientes dos seus deveres.
Em suma, a relação entre humanos e animais de estimação é uma fonte inesgotável de benefícios para a sociedade. Ao promover o bem-estar físico e mental, fortalecer os laços sociais e educar as futuras gerações, a convivência com animais de estimação contribui para a construção de um mundo mais justo, humano e sustentável.
Health Care Director UPPartner