Começaria por dizer que este texto não pretende ser um “tratado sobre Liderança” nem tão pouco contribuir para um estudo aprofundado sobre o tema. É uma reflexão simples, embora fundamentada, sobre aquilo que pode ser uma solução para alguns dos problemas com que a sociedade hoje se confronta.
O que é isto da Liderança? Que teorias existem? Que tipos de líderes existem? Que tipo de líder eu sou, ou posso ser, e de que forma isso contribuirá para os meus objetivos pessoais e profissionais, e já agora, para a empresa e/ou para a sociedade?
Como Kreitner e Kinicki referem, “o desacordo sobre a definição de liderança vem do facto de esta envolver uma complexa interação entre o líder, os seguidores e a situação”. Desde há milhares de anos que se fala e estuda sobre liderança e a verdade é que poucas certezas existem sobre qual a “melhor liderança”. Muitos modelos podem ser identificados e dados como “os melhores”.
Se olharmos ao que refere Bernard Bass, os líderes gerem e os gestores lideram, mas as duas atividades não são sinónimas. Já para Kotter a diferença entre estes dois termos assenta em: gestão é lidar com a complexidade enquanto a liderança se prende com lidar com a mudança. Poderemos elencar a Teoria dos Traços de Personalidade, o modelo de Fiedler, a teoria path-goal ou mais recentemente a teoria da liderança assente na inteligência emocional ou a Liderança de Nível 5. Dess e Picken criaram o conceito de Liderança do século XXI onde são claras as palavras globalização e tempos de turbulência.
Recordo-me de, no início do século XXI, quando comecei a debruçar-me sobre os temas da estratégia e da liderança ter na altura algumas certezas sobre aquilo que deveriam ser os traços característicos de um líder. Percebo que 20 anos passados, muita coisa mudou em mim e após diversas experiências pessoais e profissionais vejo hoje o tema de forma completamente diferente. Tenho vindo a privilegiar ao longo dos anos um conjunto de palavras, que me fazem cada vez mais sentido, na forma como encaro a vida e consequentemente a liderança.
As palavras/expressões “MAGIS”, “educado para servir”, “tanto quanto”, “periferias”, “mais necessário, mais urgente e mais universal” que fazem parte do léxico de qualquer antigo aluno dos jesuítas serão provavelmente aquelas que mais se poderiam destacar naquilo que é a Liderança Inaciana.
Na década de 70 do século passado Robert K. Greenleaf, que acreditava que quer as organizações quer os indivíduos poderiam mudar o mundo, sugeriu o conceito de liderança de serviço (Servant Leadership) em que o primeiro objetivo é o bem-estar daqueles que beneficiam desse serviço. Concordo em absoluto com a teoria e com o conceito.
No entanto, arrisco ir ainda mais longe e dizer que o MAGIS, o tanto quanto, a busca da maior glória de Deus, o discernimento e a avaliação são a essência dos indivíduos e das organizações que privilegiam a autonomia e a responsabilização, procurando aquilo que é o melhor e garantindo que a missão é cumprida, seja ela qual for (empresarial, pessoal, desportiva, etc.)
O líder do presente e do futuro tem de estar preparado para responder ao mais urgente, mais necessário e ao mais universal. E deverá conjugar algumas características: rigor, organização, planeamento, exatidão, iniciativa, paixão, alguma dose de loucura, empatia, humildade, serviço aos outros, generosidade e last but not least espírito de missão. Tudo isto fortemente ancorado num sentimento de esperança e autenticidade.
O líder do presente e do futuro é aquele que faz do discernimento a sua forma de estar na vida. É aquele que é contemplativo na ação, que presta atenção à forma como Deus se faz presente no dia a dia e de que forma poderemos responder ao seu apelo de sermos Homens e Mulheres para os outros.
Filipe Farelo é presidente da ECJA (Confederação Europeia dos Antigos Alunos dos Jesuítas).