A seleção nacional de andebol sub-20 disputou ontem, na Eslovénia, a final do Campeonato da Europa da categoria, frente à Espanha, em mais um dos grandes momentos da história do andebol português. Mas não é sobre o sucesso desta modalidade, que tem sido muito nos últimos anos, que me debruçarei neste artigo, mas sim sobre a tábua rasa a que a RTP e o obrigatório serviço público de televisão votam, regra geral, a generalidade das modalidades, com exceção do futebol profissional. Sublinho que esta consideração que teço não decorre de alguma objeção pessoal ao futebol profissional, mas apenas e só do deserto a que todas as modalidades são frequentemente votadas pela comunicação social.
Perdemos todos, não tenham dúvidas!
Se a presença num Campeonato da Europa da modalidade já seria feito suficiente para merecer o direito de transmissão, uma final, após um trajeto impressionante dos andebolistas, é razão mais do que suficiente para que os portugueses tenham o direito de acesso a este enorme momento de afirmação do desporto português.
Mais estranho ainda é perceber-se que este trajeto de isolamento da pluralidade do desporto é em absoluto respaldada pela diminuta consciência dos governantes, e aqui não há exceções quanto à verdadeira dimensão, impacto e importância das diversas expressões da atividade física e do desporto. São felizmente muitas, mas todas entregues à sua sorte, à dedicação voluntária dos seus dirigentes e ao financiamento permanente dos pais dos atletas! Quantos não ficarão de fora por não terem condição económica?
O nosso país apresenta um atraso estrutural no número de equipamentos desportivos, está claramente entre os países que apresentam das mais altas taxas de sedentarismo da sua população, e infelizmente é das nações com menor número de praticantes de desporto formal e informal no quadro da média da União Europeia e da OCDE. Condições naturais para a prática do desporto não nos faltam por oposição a tantos outros países que para disponibilizarem o acesso à prática da atividade física e do desporto dos seus habitantes, têm de realizar avultados investimentos. Se a geografia e a meteorologia ajudam-nos e de que maneira, falta-nos, porém, cultura desportiva como também nos falta uma verdadeira consciência relativamente à importância do fenómeno desportivo, visível, aliás, no crónico subfinanciamento público. Não que os programas eleitorais dos sucessivos partidos políticos não se dediquem a escrever sobre o desporto. Mas do escrever às intenções, vão umas cordilheiras que se têm demonstrado inultrapassáveis. É mesmo caso para se dizer, - é para inglês ver.
Ora bolas, o que o andebol português tem concretizado nos últimos anos é somente extraordinário, presenças contínuas em fases finais de europeus e mundiais e até, acrescente-se, presença nos últimos Jogos Olímpicos. Foi aliás, a única modalidade coletiva que nos representou. Mas se desta feita é o andebol que surge uma vez mais negligenciado pelos doutos sabedores e instrutores da televisão pública, outras modalidades e respetivas federações podem assinar por baixo o histórico esquecimento a que são votadas a todos os níveis. Uma verdadeira tragédia.
E é caso para se perguntar. Em nome do quê e de quem é que os portugueses são votados a constantes apagamentos da RTP, relativamente ao desporto e à sua expressão plural? Quem decide e porque assim decide?
É que se queremos envolver a população com a prática desportiva, todos os veículos de promoção são muito bem-vindos, a começar e a terminar na televisão, sobretudo quando se trata da final de um Europeu.
Na verdade, os êxitos de Portugal no desporto não são mais porque continuamos a viver neste nosso país um total isolamento do desporto e da sua condição, com o que se desejava e exigiria de políticas públicas para o setor.
A democracia chegou em 1974, mas os três “efes”, Fátima, Futebol e Fado, parecem manter-se.
Mesmo conscientes desta situação, não faltarão ilustres eleitos da senda pública a querer desfilar no coro de elogios ao andebol português. É já uma tradição o de colher o que não semearam.
Sinto-me indignado senhores!
Nota final: Mesmo sem a vitória, o 2.º lugar e a medalha de prata no Europeu sub-20 significam muito em qualquer geografia e mais ainda para nós portugueses, impedidos de ver a final em canal aberto.
Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Confederação do Desporto de Portugal