A eletrificação de países em desenvolvimento é uma área de negócio que oferece muitas oportunidades no setor da energia, mas é igualmente um mercado que apresenta inúmeros desafios. No entanto, muitas empresas portuguesas encontram aqui novas oportunidades de crescimento que o foco apenas no mercado interno não garante, e que lhes permite ainda contribuir de forma significativa para a melhoria das condições de vida das populações locais.
No setor da energia, que conheço bem, os mercados africanos, e em particular os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), são um campo fértil para empresas de energia devido às baixas taxas de eletrificação e à necessidade urgente de infraestruturas básicas. Sei que muitas empresas portuguesas reconheceram cedo o potencial destes mercados, aproveitando a proximidade linguística e cultural que temos com estes países, facilitando a nossa entrada. No entanto, continuo a considerar essencial a diversificação geográfica para enfrentar e superar os obstáculos que trabalhar nestes mercados acarretam, desde a falta de divisas até aos riscos políticos, procurando mitigar os impactos negativos e garantir a continuidade das operações.
O impacto social dos projetos de eletrificação nem sempre é fácil de medir, até porque muitas vezes não é imediato. Mas sei, porque já o testemunhei, com os projetos da Resul, que a melhoria no acesso à eletricidade tem efeitos diretos na educação, na saúde e no desenvolvimento económico das comunidades locais. Como discutido no estudo "Impact of Electrification on African Development - Analysis Using Grey Systems Theory", a eletrificação está diretamente relacionada com o aumento de uma série de indicadores socioeconómicos, desde logo o crescimento do PIB per capita, a melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a redução das emissões de CO2.
Em Cabo Verde, colaborei na implementação de projetos fotovoltaicos em vilas isoladas, proporcionando iluminação pública onde antes não existia nenhuma luz depois do anoitecer, o que reforçou o espírito de comunidade e, sobretudo, a segurança. Em São Tomé, trabalhei num projeto em parceria com o Banco Mundial para a substituição de lâmpadas tradicionais por LED, que permitiu não só reduzir o consumo energético como possibilitou o acesso à eletricidade por parte de mais pessoas. Estas iniciativas, muitas vezes simples, melhoram a qualidade de vida das pessoas e dão um impulso ao desenvolvimento económico e social.
Mas nem tudo são oportunidades; existem muitos desafios que variam desde a falta de infraestrutura até problemas mais complexos, como a segurança e a necessidade de modernização das redes. A integração de energias renováveis, o desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia e a manutenção das redes são cruciais para garantir um fornecimento estável e confiável, um dos problemas mais comuns sentidos pelas populações. Além disso, a necessidade de grandes investimentos externos e a gestão eficaz dos riscos políticos e monetários são questões que exigem estratégias robustas e experiência.
O trabalho em países em desenvolvimento, especialmente em África, oferece-nos uma combinação desafiante de adversidades e oportunidades. Cada projeto é uma oportunidade de negócio, mas é também uma hipótese para gerar impacto positivo e duradouro nas comunidades locais. A eletrificação não é apenas sobre fornecer energia - é sobre transformar vidas, promover o desenvolvimento sustentável e construir um futuro melhor. Com o compromisso de um esforço concertado e continuado, e com a colaboração entre governos, empresas e comunidades locais, podemos esperar dias em que a eletricidade não seja um luxo, mas um direito acessível a todos.
Diretor comercial na Resul, SA