A Hora do Planeta é um deles. Um movimento global que une milhões de pessoas em todo o mundo para mostrarem o seu compromisso com a sustentabilidade. Esta iniciativa da WWF nasceu em 2007, em Sidney, na Austrália, quando 2,2 milhões de pessoas e mais de 2 mil empresas apagaram as luzes por uma hora, numa tomada de posição contra as alterações climáticas.
Ano após ano, a Hora do Planeta tem crescido para se tornar num movimento de sustentabilidade global com mais de 3,5 mil milhões de pessoas em 190 países e territórios a mostrarem o seu apoio a esta causa, ao desligarem, simbolicamente, as suas luzes.
No último sábado de Março, casas, ruas, edifícios e monumentos apagam as luzes, criando um impacto impossível de ignorar. A WWF diz que esta é a maior acção voluntária do mundo. Acredito. Mas acredito também que abdicar da iluminação por uma única hora num ano inteiro é um gesto que só fará sentido se, depois, se acrescentar solidariedade aos esforços de economizar energia e se se fizer algo pela preservação do planeta – nos outros 364 dias do ano. Claro que, ao comunicar a Hora do Planeta, com a sua força mediática e estridente, a WWF ajuda a que a consciencialização sobre as questões da energia, das emissões e das alterações climáticas sejam colocadas no centro do palco. Será isto suficiente?
Não sei. Sei apenas que a Hora do Planeta traz o tema da eficiência energética para o mundo mainstream, e isso não me parece pouco. O objectivo, afirmam os organizadores, é melhorar a forma como a energia é usada, sobretudo em países com fortes desperdícios energéticos, como é o caso dos Estados Unidos. Os números são impressionantes: para manter a mesma qualidade de vida, um americano médio gasta o dobro de energia de um europeu.
Apesar das críticas, que acusam o evento de se limitar a uma plataforma simbólica, sem grande impacto no aquecimento global, a verdade é que coloca na agenda este tema premente. Acredito que é essencial elaborar estratégias de adaptação às alterações climáticas envolvendo fortes mecanismos participativos. Tudo o que seja um pretexto para fornecer informação e comunicar ciência para que as pessoas mudem os seus comportamentos, já é de aplaudir.
É preciso fazer mais? Sem dúvida. Não podemos continuar a conviver com decisões sobre a nossa vida, que têm implicações diretas no nosso dia-a-dia, sem que as pessoas saibam como vão ser aplicadas e, em muitos casos, sejam ouvidas num processo bottom-up. Se não se escutar as pessoas e não se comunicar o conhecimento e as medidas necessárias, as políticas públicas não terão sucesso. Democracia participativa é chamar os cidadãos, envolvê-los, fazê-los intervir nas decisões e, assim, responsabilizá-los de forma indelével.
Mas pode esta democracia participativa retirar vantagens de eventos como a Hora do Planeta, que usa o ambientalismo alegre e simbólico para passar a sua mensagem? A principal crítica que faço a esta iniciativa é que transmite a ideia de que combater o aquecimento global é fácil. Como se bastasse desligar as luzes. Li no outro dia um artigo que explicava que mesmo que o mundo inteiro desligasse todas as luzes residenciais por uma hora, isso corresponderia ao impacto que teria se a China decidisse interromper as suas emissões de dióxido de carbono por menos de quatro minutos.
Numa lógica de reflexão, deixo uma dica: a Hora do Planeta poderia aproveitar o mediatismo mundial para partilhar a ideia realmente relevante de que é urgente tornar a energia mundial mais verde. Esta é uma reviravolta que ainda está por fazer.