Vamos começar pelo início (passe a redundância). “Age Queer” questiona as normas estabelecidas sobre o que é considerado adequado para certas idades, promovendo a ideia de que a idade não deve ditar como uma pessoa deve comportar-se ou sentir-se. Mais do que isso, uma pessoa que se identifique como “Age Queer” dá mais valor aos marcos da vida do que propriamente ao número de velas no bolo de aniversário.
Contudo, às vezes as respostas são binárias. Ou é ‘zero’ ou é ‘um’. Neste caso, posso até sentir-me da idade que quiser, mas no final do dia, tenho a idade concreta face o ano que nasci e as primaveras que vivi.
O Néctar de Pêssego não pode ser Age Queer!
Tomemos este exemplo: “Néctar de pêssego. Bebida pasteurizada. Teor mínimo de frutos: 50%. Ingredientes: Polme de pêssego (50%), água, açúcar (7%), regulador de acidez (ácido cítrico), antioxidante (ácido ascórbico). Valores médios por 100 ml: 46 kcal.” (Informação real retirada do rótulo de uma bebida cá de casa).
Em síntese, esta é uma informação crucial para saber aquilo que estou a consumir. Não é um caso abstrato. O néctar pode até sentir-se como feito de maçã. Porém, existe uma óbvia razão para acreditar no rótulo e não nas suas “palavras”.
Ou seja, esta informação (e mais alguma) é obrigatória para que o potencial consumidor da bebida saiba com o que contar quando quer decidir se a consome ou não. A necessidade de rotulagem é essencial para podermos estar informados e podermos tomar uma decisão consciente.
Sem rótulos, as pessoas andam desconfortáveis
É esta necessidade que tem motivado a discussão acesa em torno da informação que cada pessoa deve exibir em prol de uma boa interação social, que evite equívocos ou escolhas erradas. Isto é, para muitos seria útil que cada pessoa portasse informação sobre o seu sexo, bem como o seu género, a orientação sexual (ou general), ou até ainda a falta de ambos, pois não há forma de adivinhar como é que a pessoa se sente hoje.
Aliás, o mesmo direi no que toca à nacionalidade e naturalidade. Algo que nem sempre é possível avaliar por observação. Até porque a pessoa pode apresentar características físicas semelhantes às “nossas” e ser proveniente de um país totalmente diferente. Contudo, isso é algo que o bilhete de identidade ou passaporte esclarece de forma clara e objetiva.
Se a pessoa é gorda ou magra, é algo que também pode ser avaliado por observação, mas as roupas e a postura, podem enganar. Medidas objetivas que deveriam ser divulgadas sobre esta característica são o índice de massa corporal e a percentagem de gordura corporal.
Em seguida, podemos até olhar para a cor da pele. Este é um facto determinante para estabelecer a imagem da origem (à exceção do saudoso Michael Jackson, que quis identificar-se como branco… literalmente). E não há problema com a cor da pele falar sobre as nossas origens. As pessoas devem ter orgulho das suas origens!
O Vinho do Porto não pode ser Age Queer!
Algo que não pode (por muito que queira) ser Age Queer, é o vinho do Porto. Ninguém pode vender uma garrafa de vinho do Porto com um ano e dizer que ela se identifica como tendo 20 anos. Temos de ser objetivos. A idade identifica-nos, tal como no vinho.
Aliás, no vinho, é uma das variáveis essenciais para avaliar a sua qualidade: quanto mais velho, melhor.
Claro que esta é uma variável importante também nos refrigerantes, pois não estaremos dispostos a consumir algo fora do prazo de validade.
Tornar a rotulagem obrigatória para as pessoas
Pelos argumentos assinalados, sinceramente, parece-me que se impõe uma transposição das normas de rotulagem para o ser humano! Bem visível a olho nu, para sabermos se estamos dispostos a consumir ou não.
Porém, por motivos óbvios de contradição, sou a favor de que uma característica não seja divulgada na rotulagem das pessoas: a idade! É que apesar de eu ter nascido em 1969, a avaliação física diz-me que tenho 36 anos e eu até me sinto com 23. Por isso, defendo que todos tenhamos liberdade de dizer “Eu sou AGE QUEER”.
Nota: Não me enquadro em nenhuma minoria ou em qualquer grupo vítima de discriminação. Não sei o que é viver 24 horas por dia, 365 dias por ano, com uma pele escura, ou com um sexo feminino, ou apaixonado por alguém do mesmo género, ou num corpo “gordo”, ou com vontade de alterar o meu sexo, ou fora do meu “lar”. Nunca sofri discriminação de ninguém por causa dos seus preconceitos ou sentimentos primitivos. As únicas discriminações que tenho sentido têm estado relacionadas apenas com a idade – algo que tem acontecido em todas as faixas etárias que tenho percorrido. Nestas condições, é mais fácil falar.