Anda por aí uma espécie de "processo participativo" sobre a ciclovia da Almirante Reis. Desde já há muitos anos que trabalho as questões da participação política dos cidadãos nas decisões dos decisores e no tema mais lato da "Democracia Participativa" mas segui as promessa feitas pelo actual presidente da câmara municipal Carlos Moedas quando em plena campanha disse muito claramente, de forma muito assertiva e reiterada que iria eliminar "ciclovias com problemas, como seja a da Almirante Reis".
Acredito firmemente que o problema da abstenção crónica e da separação crescente entre eleitores e eleitos em que os últimos vivem cada vez mais numa "bolha de elogios" em que só contactam diretamente as pessoas dos seus círculos mais íntimos e de mais alta confiança está na directa razão da crise da democracia representativa e da ascensão do populismo. Acredito também que a democracia vive uma grave crise de confiança com a sucessão de promessas vagas, mal cumpridas porque pouco sinceras, demagógicas ou feitas por candidatos mal preparados ou simplesmente mentirosos. E esta promessa de acabar com a Ciclovia da Almirante Reis enquadra-se nesta categoria.
Ou o candidato Carlos Moedas fez esta promessa sem acreditar que alguma vez seria eleito e pensava que nunca ninguém lhe iria cobrar nada incluindo-a numa campanha em que prometeu tudo a todos assim como os seus contrários procurando federar descontentes dos vários "contras" que sempre surgem numa cidade ou o candidato Carlos Moedas fez a promessa sem a ter devidamente ponderado nem planeado e quando finalmente a pensou (depois de antes ter falado sem pensar) voltou atrás e agora quer esconder a promessa feita ou corrigir a mão criando uma farsa participativa para conseguir mais umas notícias positivas nos Media (arte em que tem sido exímio) ou ter uma desculpa para colocar de vez todo o processo na gaveta.
Sei que os serviços da CML andam à minha procura para que promova e participe nesta farsa. O meu contacto é público e nunca a CML teve dificuldades em chegar até mim dado que durante anos contactei com diversos serviços da autarquia lisboeta. É assim estranho que me tentem puxar para uma farsa democrática alegando que não me conseguem contactar. Ou talvez não queiram ouvir aquilo que acima escrevi: a promessa feita em eleições e escrita no programa eleitoral vincula o candidato. O povo foi a eleições e escolheu com base nas promessas e no programa eleitoral. Agora há que cumprir e executar. Será um erro para a cidade acabar com a ciclovia da Almirante Reis tal como ela se encontra actualmente? Sem dúvida. Mas foi prometido e agora há que cumprir. Com coragem e sem farsas participativas.
Rui Martins | Eleito local em Lisboa pelo PS à Assembleia de Freguesia do Areeiro (Lisboa), dirigente associativo e fundador da Iniciativa CpC: Cidadãos pela Cibersegurança
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.