A descoberta do mexilhão raro, não comestível e protegido por uma diretiva europeia travou a construção da Barragem do Padroselos e a megaconstrução deu lugar a um Centro de Reprodução do bivalve e de divulgação científica em Boticas.
As quatro barragens da “gigabateria” do Tâmega passaram para três com a descoberta da margaritífera margaritífera – o nome científico do pequeno mexilhão que acabou por ser mortífero para o colossal projeto elétrico em 2009. A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) ligou o sinal vermelho e a Declaração de Impacte Ambiental foi negativa à construção da barragem. E positiva à reprodução do mexilhão.
Agora, depois de voltas e voltas, manifestações, estudos ambientais e muitos pareceres, o concelho transmontano volta a ser a capital da discórdia entre os investidores e apologistas da indústria e os habitantes e ambientalistas, mas a construção de uma mina de lítio na região parece mesmo ter luz verde da APA. Aliás, luz “favorável condicionada” – o que quer isto dizer? Não é luz verde, mas é um amarelo-avance-com-cuidado com q.b. de compensações e uns pozinhos de requisitos ambientais.
A gigante Savannah congratula-se por ser a primeira empresa no país a ter o parecer favorável e prepara-se para explorar a céu aberto durante cerca de 17 anos uma área de quase 600 hectares na região do Barroso.
Entre minerais, fauna e flora, correm rios de reações: a Zero mostra o desagrado, o ministro do Ambiente diz que Portugal é um dos países mais ricos em lítio da Europa e acata a decisão da APA, o presidente da Câmara de Boticas diz que está triste, preocupado e que o concelho não está à venda. Já em março do ano passado, este último tinha alertado para o impacto que a exploração de lítio pudesse ter também no mexilhão – sim, ainda o mexilhão.
Afinal, foram feitos investimentos de milhões de euros entre a autarquia e a elétrica espanhola para salvar a espécie e surge de novo a preocupação com o bem-estar do bivalve devido a uma possível alteração na qualidade das águas do rio Beça, consequente da atividade mineira.
Depois, fala-se ainda no impacto na paisagem transmontana, na avifauna, na reprodução do lobo ibérico, nos repovoamentos das trutas, e... e... o impacto nas pessoas. Afinal, quem quer viver a menos de cem metros de uma mina a céu aberto que trabalha dia e noite?
E agora? Quem salva o mexilhão?