“Da mera comunhão de estômagos, não resulta uma Pátria, resulta uma pia.”
Guerra Junqueiro
Continuam intermináveis as discussões sobre a localização do “novo” Aeroporto de Lisboa. E não só as discussões, como os rios de dinheiro que se gastam em grupos de trabalho, estudos e pareceres, quando a solução (e digo “a solução” pois as coisas naquele tempo eram por norma bem feitas), já tinha sido encontrada em 1972/3, num governo do Professor Marcello Caetano.
O mesmo se passa com o TGV, mais o seu traçado, a bitola da linha, as prioridades, etc. Acrescido da mistura de interesses, do ruído, da indecisão. Tudo derivado da falta de autoridade existente e que transformou a sociedade e o País numa amálgama cheia de cheiros e hálito, nos antípodas do incenso e do perfume. E, sobretudo, da higiene pessoal.
Ora estamos em crer que, no estado actual das coisas, a melhor solução é não construir um novo aeroporto e deixar o TGV do lado de fora da fronteira, se é que ainda temos alguma. Não vamos pois entrar na discussão sobre qual será a melhor localização, ou traçado, mas sim sobre se existe justificação para tal, que favoreça o País, e não apenas interesses particulares.
A primeira razão sendo, de que nós não temos dimensão nem riqueza para tal, além de que se pouparia muito dinheiro que faz falta para coisas mais importantes.
Lembro que o país (que resta) é constituído por cerca de 92.000 Km2, distribuídos por uma espécie de triângulo, cujos vértices são os Açores e a Madeira (cercados por mar de todos os lados) e o Continente, (rodeado por mar e Espanha em idênticas proporções), onde habitam cerca de 10,5 milhões de pessoas - das quais 1,5 a dois milhões já não são portugueses (ou são-no apenas de nome, já que dar-lhes a nacionalidade não é torná-los portugueses), havendo uma diáspora de cerca de 5,5 milhões que se fartaram de viver por cá e se espalharam pelo mundo.
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O País está bem servido de infra-estruturas aeronáuticas, tanto civis como militares, incluindo os Arquipélagos - e melhor estaria se não houvesse tantas greves e conflitos laborais. Não existe uma única ilha que não disponha de uma infra-estrutura aeronáutica sendo que nas Lajes existe um terminal civil na grande Base Aérea nº 4, onde também opera um destacamento das Forças Armadas dos EUA.
No Continente coexistem três bons aeroportos em Lisboa, Porto e Faro, havendo ainda um terminal civil na Base Aérea nº 11, em Beja (e não um aeroporto como incorrecta e pomposamente se vê escrito por aquelas bandas). Um aeródromo civil, com alguma dimensão foi construído em Tires, em 1964, que é operado pela câmara de Cascais.
A Força Aérea dispõe de várias bases aéreas, em Sintra, Montijo, Beja, Monte Real, Ovar, Ota e Tancos, que se transformou numa infra-estrutura aeronáutica meio abandonada, operada pelo Exercito, com ajuda de pessoal da FA (deve ainda considerar-se o aeródromo de Manobra 3, em Porto Santo, que tem um terminal civil.
Existem também cerca de três dezenas de pequenos aeródromos civis espalhados pelo Continente, alguns dos quais nasceram por via de aeroclubes e que possuem um grau diferenciado de infra-estruturas aeronáuticas.[1]
A capacidade do aeroporto do Porto, bem como a sua expansão ainda não está esgotada sendo o problema maior em Lisboa, pois a sua capacidade actual de gerir o tráfego aéreo está perto do limite e as suas possibilidades em expansão de infra-estruturas está muito limitada, agora que se fala na saída da Força Aérea do Aeródromo de Trânsito Nº 1, que existe praticamente desde a fundação do aeroporto, embora se tenha que manter uma área de embarque/desembarque para passageiros “especiais” conhecidos por “VIP”.
O Aeroporto de Pedras Rubras pode ser alargado, construindo-se uma outra pista paralela, para o que já há projecto, o que poderá aumentar os agora 25M de passageiros/ano, para 35M, o que parece ser bom.
O Aeroporto de Faro – a que em boa hora (tardia) se deu o nome de “Gago Coutinho” – não tem possibilidade de aumentar a sua capacidade, que está praticamente esgotada, e é semelhante á do Porto, dado que as obras de alargamento já estudadas são extremamente onerosas em termos financeiros e ambiente.
Quanto a Lisboa os principais problemas têm a ver com a existência de uma única pista (a pista 35/17 foi encerrada, por o seu uso não ser compatível com o actual tráfego) e na impossibilidade de se fazer uma outra pista paralela – o que não permite aumentar o tráfego e obriga a que em caso de emergência se tiver que encerrar a pista, todas as aeronaves tenham que divergir; haver, sobretudo na descolagem da pista 20 e aterragem na pista 02, ruído sobre a zona urbana afectada e o perigo de, em caso de acidente grave uma aeronave possa despenhar-se e atingir um numero elevado de prédios.[2]
O número dos movimentos de aviões/hora, actualmente na casa dos 38, podem vir a subir até aos 42/44, quando estiverem concluídas as obras para um terceiro terminal de passageiros e as saídas rápidas previstas para a actual pista e, inclusive, diminuir os atrasos nos horários dos voos, que colocam a Portela (nesse âmbito) num mau “ranking” entre os aeroportos europeus.[3]
A actual capacidade em processar passageiros no aeroporto de Lisboa é bastante boa, atingindo actualmente a cifra de 34.6 milhões, em 2022, dos quais 47% de fora da UE; 37% da UE e 16% de nacionais. De referir que o total de passageiros movimentados em todo o país foi de 57,1 milhões, o que é um bom quantitativo. Lisboa ocupa já a sexta posição a nível europeu com a maior movimentação de passageiros, só ultrapassado por Barcelona (41,2 M); Frankfurt (48.8 M); Madrid (49.8 M); Amesterdão (52.5 M) e Paris CDG (57.5 M).[4]
Convém referir, por outro lado, que não se espera que o transporte aéreo possa continuar a crescer indefinidamente nas diferentes partes do mundo.
E, já agora, não interessa nada andar a investir, só por investir.[5]
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Todas as grandes infra-estruturas aeronáuticas, tanto civis como militares, foram construídas antes de 1974, à excepção das existentes em quatro ilhas dos Açores (Corvo, Pico, S. Jorge e Graciosa) que foram construídas nos anos 80 (e outras foram ampliadas e melhoradas), o que foi uma coisa boa a vários títulos, e o terminal civil de Beja, que foi uma medida muito questionável e tem tido uma actividade assaz reduzida.
Acresce ainda dizer duas coisas.
A primeira relativa à “indisciplina”, chamemos-lhe assim, em que caiu o país após a “revolução” de 1974, que levou a que se violasse repetidamente a lei, relativamente ao cumprimento das áreas de servidão militar, aeronáutica e marítima, que fundamentalmente têm a ver com a segurança de instalações e operação de meios e, eventualmente com expansão futura.
Nomeadamente no que nos interessa para o que estamos a tratar, deixou-se construir habitações (às vezes também postes e antenas diversas) junto a aeroportos que não só fazem perigar a operação como impedem a expansão das infra-estruturas das quais os casos mais gravosos são o aeródromo de Tires e o aeroporto de Lisboa. Muitos outros casos se podem apontar nos três âmbitos referidos. Ora os principais responsáveis são as Câmaras Municipais; a Autoridade Nacional de Aeronáutica Civil e os ministérios respectivos.
Raramente se põe ordem no beco.
O outro assunto que convém trazer à colação foi a privatização da ANA (Aeroportos e Navegação Aérea), ganha pela empresa “Vinci”, em 2013 que, salvo melhor opinião, nada justificava e representava “dinheiro em caixa”. Terá sido por causa de eventuais comissões? Por razões ideológicas? Por ordem da “Troika”? Para resolver um problema de tesouraria, em que as Finanças Nacionais são pródigas? Por desvario?[6]
Agora o Estado Português não domina uma área que se pode considerar estratégica, está condicionado por eventuais interesses que lhe devem ser estranhos - até para escolher a nova localização de um novo aeroporto - e deixou de ter receita! E resta ainda saber exactamente qual o clausulado existente em contrato, que pode estar a condicionar o Estado Português na escolha das opções a tomar, como já por vezes foi veiculado publicamente (por exemplo o memorando entre o governo e a Venci, que aponta para a utilização da área da Base Aérea do Montijo para ser complemento à Portela, é de 2017).
Bom, mas então o que justificaria um novo aeroporto, já que a opção do Montijo também é muito má, pelas razões vindas a público? Pois parece ser o previsível aumento de tráfego, leia-se o aumento de turistas que o “lobby” do Turismo está a pressionar e o afluxo de imigrantes/migrantes, refugiados, etc., legais e sobretudo ilegais, descontrolados, que têm desabado copiosamente nos tais 92.000 Km2 já referidos e que ninguém explica e afere sequer minimamente.
Ora se são estas as razões, não se justifica, nem de perto nem de longe, o novo aeroporto. Em primeiro lugar porque há turistas a mais, que estão já a causar mais prejuízos que benefícios. E é prejudicial e errado para o País, basear a Economia no Turismo, que é uma actividade volátil e afectada por um conjunto de variáveis que o governo português não controla, nem tem meios para o fazer.
Repito, já há turistas a mais e não se pode meter o “Rossio na rua da Betesga”…
E há sempre alternativas: venham de carro, navio, comboio ou até à boleia, como se fazia antigamente e era ecológico!
Quanto aos imigrantes ainda é pior: o país está a ser invadido (é o termo), com a conivência, incompetência e até incentivo, do Governo, AR e PR, e encolher de ombros e, ou, pasmo de uma quantidade enorme de instituições nacionais. O que se está a passar é um crime de lesa-pátria que irá destruir a matriz cultural portuguesa (logo destruirá o País e a Nação Lusa) em meia geração. A maioria desta gente não tem culpa nenhuma e apenas está a ser empurrada para cá por vários desígnios obscuros e malsãos, mas tem que se lhes barrar o caminho pois é uma questão de sobrevivência da nossa gente (e uma forma de escravatura moderna…). E nada disto tem a ver com racismo, xenofobismo ou qualquer outra chaga social ou defeito ético/moral. E estão errados alguns comentaristas que defendem ser a imigração indispensável (até onde?) para assegurar os postos de trabalho (então porque há tanta gente desempregada e a receber o subsídio de desemprego e RSI?) e sustentar a Segurança Social – sem contabilizar os custos - (que tal promover políticas demográficas nacionais e equilibrar as finanças em termos certos em vez de laborarem engenharias financeiras dúbias e viver-se da dívida? E trabalhar mais e melhor? Fazer-se sacrifícios e economias?
O que se passa é um desastre a caminho de ter proporções bíblicas; e para além do que já foi dito, importa-se uma quantidade de seres que jamais se integrarão; deixa-se vir para nossa casa, indivíduos que pertencem a países que já foram inimigos de Portugal; favorecem-se pessoas pertencentes a organizações que quiseram deixar de ser portugueses; inunda-se a nossa terra de descendentes dos que nos atacaram à falsa fé, os portuguesíssimos territórios de Goa, Damão e Diu; permite-se a existência de gangues e máfias que contrabandeiam gente para o nosso país e outros, que os exploram miseravelmente; rebenta-se com o SNS e a Segurança Social para atender toda a desgraça (e oportunismo) que por aí desagua; aumenta-se exponencialmente as bolhas de pobreza e sem abrigo, ao passo que campeiam a céu aberto toda a casta de vícios e aleijões morais e sociais. Indo-se miseravelmente a reboque do inacreditável “Pacto de Marraquexe”, da inominável ONU e da sua inqualificável “Agenda 20-30”!
Mas o grande desígnio, aparentemente, é fazer um aeroporto algo megalómano e desproporcionado face às necessidades geopolíticas do país, e até da previsível procura futura, já que tudo aponta para que o tráfego de médio curso se venha a reduzir muito, e ninguém está ainda a pensar no desenvolvimento futuro do transporte aéreo por “drones”.
A questão que ainda podia justificar este novo aeroporto chama-se “HUB”, o HUB de Lisboa. Ou seja uma plataforma alargada que dada a sua situação geográfica e capacidades pudesse ser um centro distribuidor de passageiros e carga vindos de vários países. Lisboa é uma dessas localizações, por estar bem situada relativamente ao tráfego que vem para a Europa sobretudo a partir das Américas e de África. Ora Portugal já não está em condições de ser um grande HUB, pelas razões atrás apontadas; sofremos a concorrência de Madrid (que tem muito mais capacidades que Lisboa, e nos leva a perna sobre toda a América à excepção do Brasil)) e a TAP que seria uma mais-valia para este desiderato, é uma companhia relativamente pequena, nacionalizada e que está à venda. E a África não se vai desenvolver tão cedo, se é que alguma vez.
Apesar de tudo o nível de passageiros já é importante, neste âmbito; o HUB deve ser encarado no conjunto dos três aeroportos (Lisboa, Porto e Faro e não apenas Lisboa) – e Pedras Rubras pode ainda ser desenvolvido e deve ter até prioridade sobre Lisboa, já que serve uma fatia mais importante dos nacionais (dos que estão cá e os emigrantes) e serve uma área onde há uma concentração muito grande de empresas – o negócio é uma mais - valia sobre o turismo. Existe ainda o” pormenor” de garantir que a TAP – que lamentavelmente o Estado Português e a própria empresa, não souberam gerir durante décadas (era encarada basicamente como uma “vaca com muitas tetas”), e que vejo partir com mágoa - não seja comprada pelo grupo de empresas onde está a “Ibéria”.
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Um último aspecto carece de ser referido, o espaço disponível. Portugal é hoje um país de pequena dimensão e com população e recursos limitados (volto a frisar que não considero imigrantes como recurso nacional); além disso, repito, o país está bem apetrechado de infra-estruturas aeronáuticas (e também portuárias, assim elas fossem bem administradas e não estivessem sempre a sofrer o efeito de greves, absentismo e falência de hierarquia e acordos, nas relações de trabalho). Ora, construir-se um aeroporto do tamanho previsto, mais as infra-estruturas de apoio, vai afectar um enorme espaço de muitos milhares de hectares, que vão ser roubados à actividade agrícola, pecuária e silvícola, para além de eventual acréscimo nocivo em termos ambientais, sobretudo se poder vir a contaminar o grande aquífero que existe no subsolo de toda a área de Alcochete, Rio Frio, etc. Ora no limite, todos podemos viver sem aviões (e eu até sou aviador) mas não podemos sequer sobreviver se não conseguirmos respirar ou haja de comer e beber.
Finalmente, se construir um aeroporto na zona melhor para o situar perto de Lisboa, vão ter de encerrar o Campo de Tiro em Alcochete, não sendo fácil encontrar alternativa no país e ser impensável encontrar apoio político para o construir noutro qualquer local. Coisas que nunca foram veiculadas em qualquer estudo vindo a público.
E, já agora, talvez seja mesmo necessário pensar em gastar mais dinheiro com a Defesa e Segurança – ou seja trocar manteiga por canhões – pois acastelam-se no horizonte crises graves suficientes que nos vão afectar quer os políticos portugueses queiram ou não, e andem constantemente a iludir as pessoas. E Portugal nesse âmbito está de rastos.
Espero ter deixado algumas pistas para que esse recurso raro chamado “bom senso”, possa fazer o seu curso.
O país anda sem lei nem roque há muito tempo. Está ingovernável, e o que é mais grave é que vai continuar.
(continua)
[1] Por exemplo, Bragança, Vila Real, Viseu, Évora, Portimão, Santa Cruz, Lagos, Espinho, Mirandela, Braga, Castelo Branco, Coimbra, Ponte de Sor, Vilar de Luz, etc.
[2] Quanto ao ruído as pessoas afectadas vão ter que passar a usar vidros duplos e terá que se assumir o risco de haver um acidente grave; é crença de todos que vai haver num futuro que ninguém se atreve a adivinhar um sismo grave em Lisboa e não é por isso que se deixa de construir na área…A alternativa é retirar as casas construídas nas zonas de servidão aeronáutica…
[3] Pode ainda aumentar-se um pouco o número de movimentos na Portela, equacionando (o que já está a ser feito) o desvio de aeronaves do tipo “executiva”para Tires (que não tem grande capacidade para os receber; não tem como se alargar e vai obrigar na prática a encerrar a maioria das escolas de pilotagem que lá operam. Por outro lado pode avaliar-se da possibilidade de desviar alguns aviões de carga para Beja, o que também só poderá acontecer em pequenas quantidades, dado que o tráfego civil não poder (nem dever) comprometer a operação da aviação militar.
[4] Como curiosidade refere-se que o numero de passageiros em 1970 foi de 3.357563, assim distribuídos: Lisboa2.239388; Porto, 237.346; Faro, 336.896; Restantes, 544.033 (creio que não envolve o então Ultramar). Em 2022 este número subiu para 56.762.273. Fonte, “PORDATA”.
[5] Como foi o caso insólito de se construir um navio para a GNR (que percebe tanto de navios como de lagares de azeite), só porque havia verbas da UE que poderiam ser aproveitadas para isso. Passaram ainda pela vergonha do navio ter encalhado pouco depois em Carcavelos, quando treinava para efectuar missões que não faz sentido algum atribuir àquele corpo de tropas…
[6] A empresa “Venci” é uma empresa francesa fundada em 1899 e opera 72 aeroportos em todo o mundo, dos quais 10 em Portugal. A ANA foi comprada por 1127M de euros. É ainda accionista de referência da “Lusoponte” e adquiriu o negócio de infra-estruturas à “Nova base”. Está a ficar uma espécie de estado dentro do Estado… Soube-se agora (notícia do Jornal de Negócios, de 5 de Janeiro de 2024), que o Tribunal de Contas auditou no passado ano, o processo de privatização e arrasou o mesmo! E de que serve fazer-se uma auditoria 10 anos depois do evento?