"Manifestações, distúrbios de rua e fuga de detentos [prisioneiros] se seguiram à decisão, com registo de dezenas de vítimas fatais e feridos", disse o Governo brasileiro, que, recordando os laços de amizade entre os dois países lusófonos, "exorta, tanto o novo Governo quanto a oposição, à máxima contenção e ao diálogo sem prerrequisitos, com vistas a garantir a paz, a estabilidade e os valores democráticos, e impedir o prosseguimento da violência pós-eleitoral".
Na mesma nota divulgada hoje pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil recomenda-se que os brasileiros residentes, em trânsito ou com viagem marcada para Moçambique "acompanhem a página e as 'mídias' sociais da Embaixada do Brasil em Maputo, mantenham-se informados sobre a situação de segurança nas áreas onde se encontram e evitem aglomerações".
Pelo menos 252 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique desde 21 de outubro, metade das quais apenas desde o anúncio dos resultados finais, na segunda-feira, segundo novo balanço feito hoje pela plataforma eleitoral Decide.
Ainda desde segunda-feira, aquela ONG contabilizou 224 pessoas baleadas, das quais 59 na cidade de Maputo e 37 na província de Maputo, bem como 43 em Nampula e 65 em Sofala.
Desde 21 de outubro, o registo da plataforma eleitoral Decide contabiliza 569 pessoas baleadas em todo o país, além de 252 mortos e seis desaparecidos.
Somam-se ainda 4.175 detidos desde o início da contestação pós-eleitoral, 137 dos quais desde segunda-feira.
Moçambique vive hoje o quarto dia de tensão social na sequência do anúncio dos resultados finais das eleições gerais, marcados nos anteriores por saques, vandalizações e barricadas, nomeadamente em Maputo.
O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na tarde de segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.
Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.
Pelo menos 1.534 reclusos evadiram-se na tarde de quarta-feira da Cadeia Central de Maputo, de máxima segurança, disse o comandante-geral da polícia, afirmando tratar-se de uma ação "premeditada" e da responsabilidade de manifestantes pós-eleitorais e na sequência da qual morreram 33 pessoas.
Numa intervenção a partir da rede social Facebook, Venâncio Mondlane acusou as autoridades de terem propositadamente deixado sair estes reclusos, com o objetivo de manipular as massas e desviar o foco da sociedade.
MIM (PVJ) // MLL
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