Em apenas 24 horas, morrem em média 11 pessoas devido ao cancro do pulmão, em Portugal. São números da Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão (Pulmonale) que contabilizam mais de 4 mil mortes num ano, graças a esta doença.

Tanto no país como no mundo este é o cancro mais mortal e um dos que regista maior numero de casos anuais, mais de 2 milhões em todo o mundo.

O rastreio precoce permite "salvar vidas e diagnosticar o cancro mais cedo, num número muito grande de doentes", como explica o médico oncologista António Araújo, acrescentado que a deteção atempada permite também a escolha de "tratamentos mais eficazes, com menores custos para esses doentes".

Em 2022, a Comissão Europeia aprovou o alargamento dos rastreios a novo cancros, entre eles o cancro do pulmão. Na altura, as recomendação da UE iam de encontro ao proposto pela Pulmonale um ano antes: a implementação de um projeto piloto de rastreio ao nível regional, que depois se pudesse ser alargados a todo o país.

Passaram-se dois anos e apesar de importância e eficácia do rastreio ser unânime entre profissionais e investigadores, Portugal continua sem um programa nacional de rastreio para o cancro do Pulmão - "o rastreio continua num impasse, não arrancou e vemos com muita preocupação a situação atual de não haver uma perspetiva de concretização, falta haver vontade dos decisores para avançar", explica Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale.

Como é de persistência que se faz a luta contra as doenças oncológicas, também a Pulmonale se mantém persistente na tentativa de implementar um rastreio nacional. A associação criou um projeto de rastreio piloto para apresentar ao Ministério da Saúde. O objetivo é abranger todo o país, mas inicialmente será focado no grande Porto, uma zona com grande incidência do cancro do pulmão e com hábitos tabágicos enraizados e onde o acesso ao médico de família é mais abrangente.

Este último ponto é essencial, uma vez que "o médico de família possuirá um papel importante no encaminhamento destas pessoas, das pessoas sobre as quais deve haver o rastreio", explica a presidente da associação. Este é um rastreio feito através de uma TAC de baixa dose " a fumadores com uma carga tabágica entre 25 a 30 unidades maço/ano, ou então ex-fumadores que tenham esta carga tabágica, que tenham deixado de fumar nos últimos 15 anos", explica o médico oncologista, acrescentando que o exame é feito entre os 50 e os 75 anos.

A implementação do rastreio do cancro do pulmão permitiria salvar 20% dos doentes diagnosticados com a doença. O anterior ministro da Saúde, Manuel Pizarro, tinha anunciado o alargamento dos rastreios ao cancro do pulmão, mas o projecto nunca avançou. Para já, existem em Portugal programas nacionais de rastreio para o cancro da mama, colorretal e do útero.