
Os países escandinavos continuam a liderar o ranking do Relatório sobre a Felicidade Mundial em 2025. Os dados divulgados no Dia Internacional da Felicidade, que se assinala a 20 de março, mostram que nos dois primeiros lugares estão a Finlândia e a Dinamarca, que ocupam os lugares cimeiros há vários anos. Para esta posição de liderança no índice da felicidade, muito contribuem as excelentes condições económicas e sociais destes países, mas há um fator que também é decisivo, a educação. Jessica Joelle Alexander e Iben Sandahl analisaram o modo como os pais dinamarqueses educam os seus filhos e como é que essa abordagem contribui para que se tornem crianças felizes e confiantes.
"A felicidade não tem apenas a ver com riqueza ou crescimento - tem a ver com confiança, ligação e saber que as pessoas nos apoiam", explica o diretor executivo da Gallup, Jon Clifton, no Relatório sobre a Felicidade Mundial em 2025
O top 10 dos países mais felizes:
1.º Finlândia
2.º Dinamarca
3.º Islândia
4.º Suécia
5.º Países Baixos
6.º Costa Rica
7.º Noruega
8.º Israel
9.º Luxemburgo
10.º México
A classificação dos países baseia-se em respostas dadas em inquéritos nos quais se pede às pessoas que avaliem as suas próprias vidas. O estudo foi realizado em parceria com a empresa de análise Gallup e a Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
Na obra "Pais à Maneira Dinamarquesa: o que sabem as pessoas mais felizes do mundo sobre como educar crianças confiantes e capazes", publicada em Portugal em 2016, Jessica Joelle Alexander e Iben Sandahl analisam a educação das crianças, precisamente na ótica da felicidade e autoconfiança, tendo em conta que uma infância feliz é fundamental para uma vida adulta plena e equilibrada.
As autoras, uma psicoterapeuta dinamarquesa e uma mãe norte-americana casada com um dinamarquês, concluíram que há abordagens que se destacam no modo como os pais dinamarquesas educam os seus filhos e que fazem a diferença em relação a outros países ocidentais desenvolvidos, onde as crianças são criadas de forma bem distinta.
A importância de deixar a criança brincar livremente
Brincar livremente contribui para que a criança desenvolva a imaginação e criatividade. Os dinamarqueses apostam no desenvolvimento desta vontade intrínseca a todas as crianças e também aí a sociedade está em consonância com esse objetivo de dar espaço e tempo à brincadeira.
Na escola, os pais e professores não pressionam as crianças para que tenham bons resultados, estão mais preocupados com o desenvolvimento cerebral, com o controlo emocional e na regulação do stresse à medida que crescem.
Neste livro, Jessica Joelle Alexander e Iben Sandahl apontam para algumas estratégias seguidas pelos pais dinamarqueses, baseadas também em estudos científicos:
- Deixar as crianças brincarem sozinhas, com autonomia, sem a intervenção de um adulto.
- Não interferir quando surgem as primeiras disputas entre os pares, tentar que resolvam as divergências de modo autónomo.
- Fomentar um ambiente criativo e livre de tecnologias, dar acesso a papel e tinta em lugar de tablets com jogos de pintura.
Nesta linha, a Dinamarca optou por proibir os telemóveis nas escolas e ATL por recomendação de uma comissão governamental que também concluiu que crianças menores de 13 anos não devem ter o seu próprio smartphone ou tablet.
Enfatizar os aspetos positivos e recusar rótulos negativos
Os dinamarqueses são tendencialmente otimistas e isso também se reflete na educação dos filhos. Os pais optam por destacar os aspetos positivos, motivando as crianças e, para isso, recusam rótulo negativos que podem desde cedo condicionar o desenvolvimento dos mais novos.
"É preguiçoso", "é teimoso", "não gosta de ler" ou "porta-se sempre mal", são exemplos de expressões que os pais dinamarqueses evitam, preferindo sempre optar por outras que motivem as crianças.
Atenção mais centrada no esforço do que nos resultados
Os dinamarqueses valorizam principalmente a humildade e, por isso, elogiam com conta peso e medida. Os pais focam-se mais no esforço e na dedicação a cada tarefa do que nos resultados para que as crianças se empenhem no seu trabalho.
Ao pôr a ênfase no resultado e no elogio, os pais podem estar a contribuir para que os filhos se preocupem em demasia com o modo como serão julgados pelo seu desempenho, o que pode bloquear o interesse pela execução da tarefa.
Educar pelo exemplo, com empatia e sem agressividade
As autoras de "Pais à Maneira Dinamarquesa" sublinham também a importância do exemplo e da empatia como modo privilegiado de educar as crianças neste país do Norte da Europa, com perto de 6 milhões de habitantes.
Os dinamarqueses criam limites, mas também permitem que as crianças participem na criação de regras. Desde modo, a aceitação e cumprimento das normas são maiores.
A empatia é praticada e incentivada desde tenra idade. Em casa e nas escolas, os adultos educam pelo exemplo, mostram-se vulneráveis e solidários. As crianças são “esponjas” que absorvem e reproduzem este comportamento que, na opinião dos dinamarqueses, é fundamental para uma vida feliz.
Incentivar à partilha e trabalho de equipa
As famílias dinamarquesas fomentam o espírito de grupo e as atividades em conjunto são muito valorizadas. Os filhos mais velhos são incentivados a brincar com os mais novos e os pais divertem-se com os miúdos.
A sociedade dinamarquesa tenta contrariar a mentalidade individualista, dominante no mundo ocidental.
"Se queremos comunidades e economias mais fortes, temos de investir no que realmente importa: uns nos outros", referia Jon Clifton, no Relatório sobre a Felicidade Mundial em 2025.
Confiança, conexão social e apoio mútuo são cruciais para a felicidade, esses são pilares fundamentais no modo de educar dos pais dinamarqueses e os resultados estão à vista.