
A economia chinesa cresceu 5,4% no primeiro trimestre do ano, segundo dados oficiais hoje difundidos, à medida que os fabricantes apressaram a entrega de encomendas, antes da subida das taxas alfandegárias nos Estados Unidos.
O crescimento está em linha com o ritmo de expansão alcançado pela segunda maior economia do mundo no quarto trimestre e excede a meta de "cerca de 5%" para o ano de 2025 estabelecida por Pequim.
O impulso surge numa altura em que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intensificou a guerra comercial contra Pequim, ameaçando uma dissociação total entre as duas maiores economias do mundo, numa altura em que a China enfrenta já uma prolongada crise no setor imobiliário.
As taxas sobre a maior parte dos produtos chineses aumentaram para, pelo menos, 145%, um nível que poderá levar as exportações da China a entrarem em contração este ano e prejudicar um motor de crescimento crucial.
Os dados divulgados pelo Gabinete Nacional de Estatística (GNE) ultrapassaram a estimativa consensual de 5,2% dos economistas inquiridos pela agência de notícias Bloomberg.
A produção industrial expandiu 7,7% em março, em relação ao mesmo período do ano anterior, no crescimento mais rápido desde junho de 2021. As vendas a retalho aumentaram 5,9%, o melhor ritmo desde dezembro de 2023.
"A surpresa mais agradável são as vendas a retalho, o que mostra que os subsídios ao consumo estão funcionar", disse Michelle Lam, economista do banco francês Societe Generale SA para a China, citado pela agência.
"A produção industrial foi uma surpresa, mas compreensível após os fortes dados de exportação. Mas isso agora faz parte do passado", afirmou ainda à Bloomberg.
Apesar dos dados positivos, o GNE recomendou cautela, sublinhando a necessidade de dar maior apoio à economia.
"Devemos estar conscientes de que o ambiente externo está a tornar-se mais complexo e grave. O impulso da procura interna para o crescimento é insuficiente e a base para uma recuperação económica e crescimento sustentado estão ainda por consolidar", afirmou o gabinete num comunicado. "Temos de implementar políticas macroeconómicas mais pró - ativas e eficazes", apontou.
O investimento em ativos fixos aumentou 4,2% nos primeiros três meses de 2025, enquanto o investimento imobiliário registou uma contração de 9,9%, prolongando a crise que atingiu o setor em 2022.
A taxa de desemprego urbano foi de 5,2% em março, descendo de 5,4% no mês anterior.
A China poderá ter dificuldades em atingir o seu objetivo oficial de crescimento este ano sem mais estímulos. Nas últimas semanas, vários bancos internacionais, incluindo o UBS Group AG, o Goldman Sachs Group Inc. e o Citigroup Inc., baixaram as suas previsões de crescimento da China para cerca de 4% ou menos, fruto do agravar das tensões comerciais com Washington.
Alguns economistas esperam que o Banco Popular da China reduza as taxas de juro ou a quantidade de dinheiro que os bancos devem manter em reserva já este mês, enquanto outros preveem vários biliões de yuan em empréstimos e despesas fiscais adicionais para preencher o vazio deixado pela queda das exportações.
A China tem de aumentar rapidamente o consumo doméstico e o investimento para contrariar o impacto das tarifas. A debilidade do mercado de trabalho continua a impedir os consumidores de gastarem mais, mesmo antes de as tarifas dos EUA atingirem empregos relacionados com as exportações.
O impacto da guerra comercial vai provavelmente manifestar-se na atividade económica a partir de abril, após um aumento de 12,4% das exportações em março, à medida que as empresas se apressaram a concluir encomendas.
A possibilidade de um acordo entre os EUA e a China sobre o litígio comercial parece reduzida num futuro próximo, uma vez que Pequim adotou por retaliar as sucessivas rondas de tarifas impostas por Trump.
Os índices bolsistas da China mantiveram em grande parte as suas perdas após a divulgação dos dados, com o Hang Seng China Enterprises, que reúne as principais empresas chinesas cotadas em Hong Kong, a perder 2,4%, e o CSI 300, que replica o desempenho das 300 principais ações negociadas nas bolsas de Xangai e de Shenzhen, a cair 0,8%.