“Neste momento estou preocupado é com a construção das barragens da Foupana e Alportel e com um turismo rural de que fui levantar a licença na terça-feira”. É desta forma que Macário Correia rejeita, em declarações ao Expresso, qualquer hipótese de vir a ser o candidato do PSD à Câmara de Faro, nas próximas eleições autárquicas.

Macário, que foi presidente das câmaras de Tavira (de onde é natural) e Faro, além de secretário de Estado do Ambiente (num governo de Cavaco Silva), garante que, atualmente, a política não faz parte dos planos que tem para o futuro. “Foram muitos anos dedicados a essa causa, agora já não penso nisso”, garante, admitindo, no entanto, que tem sido contactado por “várias pessoas e forças políticas” no sentido de voltar a exercer cargos públicos.

Faro é um dos problemas autárquicos que o PSD tem para resolver. O atual presidente, Rogério Bacalhau, chega ao limite de mandatos e não há um sucessor natural. Mas esse é um problema que o PSD tem noutras capitais de distrito, como Aveiro ou Braga. Só que na capital algarvia acresce a dimensão do Chega em todo o Algarve, que fez com que o partido de André Ventura tenha ficado em primeiro lugar no distrito nas eleições legislativas de março. Já no concelho, foi o PS a vencer, com mais de mil votos de diferença.

Cristóvão Norte, líder do PSD/Algarve, garantiu ao Expresso que ainda não está tomada uma decisão sobre quem será o candidato a Faro, acrescentando que a escolha apenas deve ser anunciada “em dezembro ou janeiro”. Mas as conversas exploratórias com possíveis candidatos já começaram ao nível local.

Nos últimos anos, Macário Correia tem-se dedicado à agricultura, em particular à produção de citrinos, nos terrenos que tem no concelho de Tavira. Com o agravar da situação de seca no Algarve, o ex-autarca, que é o presidente da associação de regantes do Sotavento, foi uma das vozes mais ouvidas publicamente sobre o problema, e a forma como os cortes impostos ao consumo de água afetavam em particular o setor agrícola.

Macário, que é um dos mentores da criação de uma federação que junte todos os agricultores algarvios – intenção anunciada no início do ano mas ainda por concretizar – mostrou-se particularmente crítico da desigualdade nos cortes, que inicialmente eram maiores para o setor agrícola em comparação com outras atividades económicas (o atual Governo acabou por aplicar restrições ao consumo homogéneas para todos os setores). Para ele, a solução para a falta de água no Algarve passa pela construção de novas albufeiras, nomeadamente nas ribeiras da Foupana e Alportel.

Presidente da Câmara de Tavira entre 1998 e 2009, Macário Correia passou depois a presidir a autarquia de Faro. Cargo que ocupou entre esse ano e 2012. Perdeu nessa altura o mandato, depois de ser condenado pelo Supremo Tribunal Administrativo, num processo em que era acusado de ilegalidades em licenciamentos. O Tribunal Constitucional confirmou a sentença em janeiro do ano seguinte. Foi substituído na Câmara de Faro pelo vice-presidente, Rogério Bacalhau, que desde então tem presidido o município e este ano atinge o limite de mandatos.

Afastado da política ativa, Macário, formado em Engenharia Agronómica, pela Universidade Técnica de Lisboa, voltou-se então para a agricultura, atividade que já era exercida pelos pais. Mas continuou a ser uma figura regional respeitada dentro do PSD. A última aparição pública foi em agosto, quando visitou o Festival de Marisco de Olhão, na companhia do presidente daquela autarquia, o socialista António Pina.

Curiosamente, Pina, que este ano também atinge o limite de mandatos à frente do município olhanense, deve encabeçar a candidatura do PS à Câmara de Faro, nas próximas eleições autárquicas. O nome ainda não foi oficializado mas esse passo será apenas uma formalidade.

Como principal trunfo, António Pina – que preside à Comunidade Intermunicipal do Algarve - apresenta o trabalho feito em Olhão e é visto como uma figura consensual entre os socialistas e um candidato com fortes possibilidades de recuperar a capital do Algarve para o PS. A última vez que o partido presidiu aos destinos do município foi entre 2005 e 2009, com José Apolinário.

Com Macário Correia fora da equação, e sem a possibilidade de recandidatura de Rogério Bacalhau, o PSD ainda não definiu quem vai apresentar como candidato em Faro. Paulo Santos, antigo vice-presidente de Bacalhau, é um dos nomes mais falados. Depois de se afastar, em 2019, na sequência de um processo por suspeitas de corrupção, Santos anunciou, em setembro passado, que o Ministério Público tinha arquivado o caso e que se sentia com “energia” para continuar a servir o município, de onde é natural. Mas, na altura, também afirmou que o anúncio nada tinha a ver com “um posicionamento para as autárquicas”.

Ao Expresso, Cristóvão Norte, líder do PSD/Algarve, garantiu que ainda não está tomada uma decisão sobre quem será o candidato a Faro, acrescentando que a escolha apenas deve ser anunciada “em dezembro ou janeiro”.