Moçambique observa, esta segunda-feira, uma “greve geral” que constitui “o primeiro passo para honrar a morte de Elvino Dias e Paulo Guambe”, declarou Venâncio Mondlane, o candidato à presidência do país com quem as vítimas colaboravam.
Dias era o seu advogado e Guambe o mandatário do Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), o partido que apoiou a sua candidatura, nas eleições presidenciais de 9 de outubro.
Esta greve será “o início de uma nova etapa”, garantiu Mondlane, em declarações aos jornalistas, citado pelo jornal moçambicano “O País”. “O sangue destes jovens é o início da vingança”, acrescentou. “Vão-se arrepender disso.”
Mondlane defendeu uma jornada “pacífica”, exigiu que a polícia respeite a greve “como um direito constitucional” e apelou à população a que não crie situações que levem as autoridades a falar de “vandalismo”.
“Vamos levantar os nossos cartazes pacificamente, vamos caminhar e vamos mostrar o nosso repúdio (…). O comandante adjunto [da polícia] disse que está pronto para responder à desordem e nós não vamos fazer desordem”, disse o candidato.
Em Maputo, uma marcha arrancará por volta das 10 horas (menos uma hora em Portugal Continental), com partida do local onde Elvino Dias e Paulo Guambe foram assassinados, na sexta-feira à noite, na Avenida Joaquim Chissano, no centro da capital moçambicana.
Mondlane apelou à polícia para não responder com violência “sob pena de se ver algo jamais visto no país”.
Contribuinte ainda mais para o inflamar dos ânimos, Mondlane disse haver provas sobre a autoria do duplo homicídio, “Foram as Forças de Defesa e Segurança que fizeram isto e voltaram para recolher as provas e telemóveis das pessoas que filmaram”, afirmou.
O candidato acusou diretamente o partido no poder, dizendo que “os valores genuínos da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique] são de fazer jorrar sangue, de matar, de humilhar”.
Dirigiu-se a antigos chefes de Estado e responsabilizou-os também pelo crime. “Mamã Graça Machel, papá Armando Guebuza, papá Joaquim Chissano, o sangue desses jovens também está nas vossas mãos”.
Onze dias após as eleições, ainda não foram anunciados os resultados definitivos. Resultados parciais dão a vitória ao candidato da Frelimo, Daniel Chapo. O processo mereceu contestação quer de candidatos como Mondlane, quer da Ordem dos Advogados de Moçambique, que apelou à publicação de todas as atas do processo da votação.
A Ordem reconheceu que a contagem dos votos foi pacífica, mas “o mesmo não se pode dizer dos editais afixados e muito menos dos números parciais da votação divulgados, quer pelas comissões distritais de eleições, quer pelas comissões provinciais de eleições, cobertos de opacidade, o que não favorece uma eleição transparente, em obediência às regras da democracia pelas quais o povo votou”.
Estas foram as sétimas eleições presidenciais desde a independência de Moçambique, em 1975, sempre vencidas pela Frelimo. O atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, não se candidatou por atingir o limite constitucional de dois mandatos.