Numa entrevista ao canal israelita Channel 14, citada pela AFP, Netanyahu disse ter dado instruções ao exército para, "se necessário", "no caso de uma violação do cessar-fogo", levar a cabo "uma guerra intensiva"

Poucas horas antes, o exército israelita tinha anunciado ter realizado um ataque aéreo contra uma instalação do Hezbollah no sul do Líbano, o primeiro desde o início da trégua que pôs fim à guerra com o movimento armado aliado do Irão.

Assim que o cessar-fogo entrou em vigor, na madrugada de quarta-feira, dezenas de milhares de residentes deslocados apressaram-se a regressar às suas casas no sul e leste do Líbano, bem como nos subúrbios a sul de Beirute, redutos do Hezbollah, onde encontraram cenários de destruição.

O exército libanês, que começou a enviar tropas e veículos blindados para o sul do país, acusou hoje Israel de ter violado o acordo de cessar-fogo "em várias ocasiões".

O exército israelita anunciou que impôs o recolher obrigatório entre as 17:00 de quinta-feira e as 07:00 de sexta-feira (locais, menos duas horas em Lisboa) no sul do Líbano, na fronteira com o norte de Israel, depois de ter "aberto fogo" contra "suspeitos [...] que não respeitaram as condições do cessar-fogo".

Na quinta-feira, um avião de combate teve como alvo "uma área florestal não acessível aos civis" na cidade de Baïssariyé, disse à AFP Nazih Eid, presidente da câmara desta cidade libanesa.

O exército israelita disse ter identificado uma instalação utilizada pelo Hezbollah "para armazenar 'rockets' de médio alcance no sul do Líbano" e "frustrado a ameaça" com um ataque aéreo.

O exército acrescentou que as suas forças "permaneceram no sul do Líbano e agiram para fazer cumprir" a trégua.

O fogo israelita feriu ainda duas pessoas na aldeia de Markaba, no sul do Líbano, segundo a agência de notícias libanesa Ani.

Entretanto, o exército libanês continua a deslocar-se para o sul do país, onde está a "instalar postos de controlo", disse uma fonte militar à AFP, especificando que os soldados não estão "a avançar para áreas onde o exército israelita ainda está presente".

Na aldeia cristã de Qlaaya, os soldados libaneses foram recebidos na noite de quarta-feira por residentes exultantes que lhes atiraram flores e arroz.

O acordo de cessar-fogo visa pôr fim ao conflito mortal que começou em outubro de 2023 entre Israel e o Hezbollah, e que desalojou 900.000 pessoas no Líbano e 60.000 no norte de Israel.

O Hezbollah abriu uma frente de apoio ao Hamas contra Israel no início da guerra na Faixa de Gaza, desencadeada a 07 de outubro de 2023 pelo ataque sem precedentes do movimento islamista palestiniano.

Segundo as autoridades libanesas, pelo menos 3.961 pessoas foram mortas desde outubro de 2023, a maioria desde o final de setembro.

Do lado israelita, morreram 82 soldados e 47 civis em 13 meses, segundo as autoridades.

Os residentes do sul do Líbano continuaram hoje a deslocar-se para regressar às suas cidades e aldeias devastadas.

Na cidade portuária de Tiro, cujos locais antigos estão classificados como património mundial da UNESCO, a destruição de infraestruturas vitais tornou certos bairros inabitáveis.

"Já não há água, nem eletricidade, até os geradores privados já não funcionam, os cabos foram cortados", disse Sleiman Najdé, um homem de 60 anos que regressou ao apartamento da família com as portas e janelas arrancadas, admitindo que "não estava à espera de tantos danos".

Nos subúrbios a sul de Beirute, Ali Mohammad Abbas foi ao túmulo do seu irmão, num cemitério devastado pelas bombas israelitas.

"Estava à espera do cessar-fogo", disse este residente de Bekaa, no leste, que não pôde comparecer ao funeral "porque as estradas não eram seguras".

 

MPE // RBF

Lusa/Fim