Manuel Viana, médico de família e um dos moderadores, abriu a sessão com uma mensagem clara: “A obesidade é uma doença crónica, centrada no cérebro. Não é uma opção do doente, não é culpa do doente.” Esta afirmação destaca a importância de tratar a obesidade com o mesmo rigor que outras doenças crónicas, numa abordagem que ultrapassa o estigma e a simplificação do problema a uma mera questão de estilo de vida.

Durante a apresentação de um caso clínico, o orador João Sérgio Neves, endocrinologista, reforçou esta ideia, afirmando que “a obesidade se trata de uma doença e não de uma opção do doente. Não é uma questão de estilo de vida ou de falta de primeiro passo.” O médico salientou ainda que os recentes avanços terapêuticos oferecem novas opções para um tratamento mais eficaz, contribuindo para uma melhoria significativa na qualidade de vida dos doentes.

O caso clínico apresentado referiu uma mulher de 56 anos, professora primária, que vive com obesidade desde os 20 anos, com uma aceleração do ganho de peso a partir dos 45, quando entrou na menopausa. Apesar de ter conseguido, em múltiplas intervenções nutricionais, perder mais de 10 kg em cada tentativa, acabou sempre por ter reganho de peso. “A obesidade é uma doença de natureza crónica, complexa e recidivante, caracterizada por uma adiposidade anormal ou excessiva”, salientou João Sérgio Neves.

O orador deixou bem patente que a obesidade é uma condição multifatorial – desde fatores genéticos e epigenéticos a influências ambientais e socioculturais. “É fundamental que os profissionais de saúde adotem uma abordagem que envolva a compreensão da sua fisiopatologia e que reconheça a necessidade de um tratamento contínuo, tal como se procede com a dislipidemia, a hipertensão e a diabetes”, lembrou.

Enquanto falava do caso clínico, o endocrinologista contou que, em consulta, num momento de interação com a doente, após perda de peso, a mesma lhe colocou a seguinte questão: “Dr. sinto-me muito melhor com este peso, quando posso parar a medicação?”

De acordo com o orador, a resposta, ainda que simples, exigia uma abordagem sensível, explicando que, apesar da possibilidade de interrupção do fármaco – que não causa habituação –, há um risco real de reganho de peso, pelo que o tratamento contínuo é essencial.

No final, a sessão foi dinamicamente conduzida por Rica Costa, médica de família, que moderou as questões da audiência e que garantiu um debate enriquecedor e esclarecedor para todos os presentes.

Com estas novas perspetivas e tratamentos emergentes, a comunidade médica reforça a ideia de que a obesidade deve ser encarada com a seriedade de uma doença crónica, necessitando de uma abordagem multidisciplinar e contínua para melhorar a vida dos seus doentes.

Sílvia Malheiro

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