Eleições presidenciais e um referendo sobre adesão à União Europeia (UE) vão colocar a Moldova no centro das atenções internacionais este domingo, tornando o pequeno país palco do braço-de-ferro entre Ocidente e Rússia.
A atual Presidente pró-Ocidente, Maia Sandu, no cargo desde 2019 - primeiro como primeira-ministra e depois, a partir de 2020, como chefe de Estado - pretende conquistar um segundo mandato, enfrentando 10 adversários, alguns dos quais visam fazer regressar a antiga república soviética à esfera do Kremlin (presidência russa).
As votações na Moldova vão ser acompanhadas por 40 membros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que funcionarão como observadores em conjunto com o Gabinete das Instituições Democráticas e dos Direitos Humanos, o Parlamento Europeu e o Conselho da Europa.
"Estas eleições presidenciais, realizadas em conjunto com um referendo sobre a adesão da Moldova à União Europeia, podem revelar-se cruciais para o futuro europeu", considerou a presidente da assembleia parlamentar da OSCE, Lucie Potuckova, numa mensagem divulgada no início desta semana.
"Como observadores, não temos qualquer interesse no resultado das eleições, vamos apenas concentrar-nos em oferecer a nossa avaliação completa e imparcial do processo eleitoral para ajudar a garantir que o resultado reflete com precisão a vontade do povo moldavo", concluiu.
Geograficamente 'entalada' entre a Ucrânia e a Roménia, a Moldova passou as últimas décadas a oscilar entre o Ocidente e Moscovo. Atualmente, o país é governado por líderes que querem aderir à UE e abraçar o Ocidente, mas a luta das comunidades russófonas, intensamente apoiadas pelo Kremlin, pode forçar o sentido contrário.
A tática usada pela Rússia na Moldova é, em tudo, idêntica à que foi usada durante anos na Ucrânia: propaganda em meios de comunicação convencionais, as redes sociais, além do apoio de atores políticos locais pró-Rússia.
Táticas que não resultaram na Ucrânia, mas que estão a dar frutos num antigo companheiro da Moldova, a república da Geórgia (que também vai a eleições no dia 26), onde o partido no poder, o 'Sonho Georgiano', tem assumido, nos últimos anos, uma posição cada vez mais pró-Moscovo.
Com a guerra na Ucrânia em jogo, os resultados destas disputas - quer na Moldova, quer na Geórgia -- vão ser seguidas com muita atenção para se perceber se o Kremlin está a aprofundar ou a perder o controlo sobre a sua esfera mais próxima e sobre o quão resilientes são realmente as democracias apoiadas pelos Estados Unidos e o Ocidente.
Os avisos da Rússia à Moldova têm sido mais subtis do que os da Geórgia, onde foram publicados vídeos pelo 'Sonho Georgiano' com imagens de destruição provocada pela guerra na Ucrânia, mostrando o que pode acontecer ao país se resolver voltar-se para o Ocidente.
Na Moldova, o estatuto de país candidato à UE parece abrandar a agressividade do Kremlin, mas os canais pró-Rússia têm sugerido repetidamente que, se a Presidente for reeleita, o país será arrastado para os combates na Ucrânia.
Além disso, foram divulgados rumores 'online' como a possibilidade de os jatos F-16 ucranianos poderem, em breve, passar a ficar em bases da Moldova, ou que uma maior aproximação à UE tornaria obrigatória a disciplina de educação sexual nas universidades.
Ao mesmo tempo, o empresário exilado israelo-moldavo Ilan Shor, que já foi descrito como "o homem de Moscovo na Moldova" e que vive atualmente na Rússia depois de fugir de prisão domiciliária por crimes como fraude bancária - ofereceu, através da aplicação de mensagens Telegram, o equivalente a 25 euros a cada eleitor moldavo que vote contra no referendo.
A tentativa de o Ocidente influenciar os eleitores também se faz sentir na Moldova, mesmo tentando não parecer opressiva.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, visitou a Moldova em maio, anunciando 135 milhões de dólares (cerca de 125 milhões de euros) de ajuda financeira para a segurança energética do país e para a luta contra a desinformação.
No início deste mês, a Alemanha, a França e a Polónia -- o chamado Triângulo de Weimar, que tenta há vários anos concertar formas de manter a paz na Europa - prometeram o "apoio firme" à Moldova caso o país mantenha a sua proximidade política.
Em julho, a Moldova foi oficialmente considerada candidata à adesão à UE e decorreram algumas conversações sobre uma possível adesão à NATO, a aliança militar entre a Europa e os EUA.