O chanceler alemão, Olaf Scholz, instou o Presidente russo, Vladimir Putin, a retirar as tropas da Ucrânia e negociar com Kiev, na primeira conversa telefónica que mantiveram em quase dois anos, indicou esta sexta-feira o Governo alemão num comunicado.
O chanceler apelou a Putin para demonstrar “vontade de encetar negociações com a Ucrânia, com vista a uma paz justa e duradoura” e sublinhou “o compromisso inabalável da União Europeia (UE) com a Ucrânia”, acrescentou a chancelaria.
O executivo alemão informou igualmente que Scholz tinha anteriormente falado com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Já o Presidente russo disse a Scholz que a proposta de paz para a Ucrânia deve ter em conta “novas realidades territoriais”, exigindo que Kiev abdique das regiões ocupadas por Moscovo. A proposta de paz, de junho passado, inclui a retirada das tropas ucranianas do Donbass e do sul do país, e ainda a renúncia de Kiev à adesão à NATO.
“Os potenciais acordos devem ter em conta os interesses de segurança da Federação Russa, basear-se em novas realidades territoriais e, acima de tudo, abordar as causas profundas do conflito”, de acordo com um comunicado do Kremlin que resume as observações de Vladimir Putin durante a conversa telefónica com Olaf Scholz.
Esta conversa telefónica de uma hora foi o primeiro diálogo entre os dois líderes desde dezembro de 2022. Putin não fala com a maioria dos líderes ocidentais desde esse ano, quando a UE e os Estados Unidos impuseram sanções maciças à Rússia após a invasão da Ucrânia, em fevereiro desse ano. Muitos dirigentes ocidentais, como os chefes de Estado norte-americano, Joe Biden, e francês, Emmanuel Macron, entre outros, recusam-se a falar com o Presidente russo - com exceção do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.
No início de novembro, Vladimir Putin lamentou que os líderes ocidentais tivessem “parado” de lhe telefonar. “Se algum deles quiser retomar os contactos, sempre o disse e quero repetir: não temos nada contra isso”, afirmou Putin no Fórum político de Valdaï, na Rússia.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, a Alemanha tem sido o segundo maior fornecedor de armas a Kiev, a seguir aos Estados Unidos.
Esta conversa ocorre num momento muito difícil para a Ucrânia, que se prepara para viver o seu terceiro inverno sob fogo da Rússia, com grande parte das suas infraestruturas energéticas danificadas ou totalmente destruídas.
Polónia critica Zelensky por querer envolver outros países na guerra
O ministro da Defesa polaco, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, criticou esta sexta-feira o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, por querer envolver diretamente outros países na guerra com a Rússia.
“Não se pode dizer que a Polónia não esteja a fazer tudo o que pode, a Polónia fez e continua a fazer tudo o que pode”, disse o ministro, em entrevista à TVN24.
As declarações de Kosiniak-Kamysz estão em linha com o que Varsóvia tem vindo a dizer nas últimas semanas, face às constantes críticas da Ucrânia pela sua alegada falta de empenho, segundo a agência espanhola Europa Press.
Kosiniak-Kamysz disse que, enquanto ministro da Defesa, o limite do apoio à Ucrânia “é a segurança da Polónia”. Nesse sentido, assegurou que recusará a entrega de qualquer equipamento militar ou armas à Ucrânia se isso puser em causa a integridade do Estado polaco.
Kosiniak-Kamysz lamentou a “memória curta” dos ucranianos e, embora considere que as pretensões de Zelensky de envolver outros atores mais diretamente são em parte naturais, referiu que a Polónia tem a sua “própria estratégia”.
O ministro referia-se às exigências de Zelensky para que a Polónia abata os projéteis russos que voam perto da sua fronteira.
O ministro polaco comentou que não existe consenso no seio da NATO sobre a pretensão de Zelensky, “pelo que nenhum aliado deve romper com isto”.
Além do abate de mísseis e ‘drones’ russos, Zelensky também criticou publicamente as autoridades polacas por não entregarem os caças MiG29 que exigiu. A Polónia argumentou que a entrega de mais caças MiG29 está condicionada à renovação da sua frota aérea.
A Ucrânia depende da ajuda dos aliados ocidentais para continuar a combater as tropas russas. Zelensky mostrou-se sempre crítico da demora na entrega de armamento e da relutância dos aliados em autorizar o uso de armas ocidentais para atacar o território da Rússia.
Outras notícias:
⇒ O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, congratulou-se com o facto de o chanceler alemão ter transmitido a Putin que nada poderia ser decidido sobre a Ucrânia sem a participação de Kiev. “Recebi um telefonema do chanceler Scholz que me relatou a sua conversa com Vladimir Putin. Fiquei satisfeito por saber que o chanceler não só condenou inequivocamente a agressão russa, como também reiterou a posição polaca: nada sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”, escreveu Donald Tusk na rede social X (antigo Twitter);
⇒ O número de pessoas com deficiências físicas teve um “aumento drástico” na Ucrânia, com todos os feridos de guerra que precisam de cuidados a longo prazo, alertou hoje a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). Desde fevereiro de 2022, data da invasão russa da Ucrânia, 300 mil pessoas foram registadas como deficientes no país, referiu em comunicado a MSF, apontando casos de pessoas feridas por explosões e estilhaços, que tiveram membros amputados e precisam de cuidados especializados;
⇒ A ONU avisou esta sexta-feira que novos ataques russos às infraestruturas energéticas da Ucrânia podem ter um efeito desastroso, à medida que o país devastado pela guerra se prepara para enfrentar um inverno rigoroso. “Se eles [os russos] voltarem a visar o setor energético, pode ser um ponto de viragem”, alertou Matthias Schmale, coordenador humanitário das Nações Unidas na Ucrânia, explicando que novos ataques sistemáticos podem conduzir a “novos movimentos populacionais massivos, tanto dentro como fora do país”;
⇒ A Finlândia vai financiar um projeto de cooperação plurianual na Ucrânia para proteger o ambiente do país e analisar o impacto ambiental da guerra com a Rússia, anunciou o Governo finlandês. O projeto de quatro anos, com um orçamento de dois milhões de euros, irá reforçar a monitorização da qualidade da água e dos ecossistemas terrestres na Ucrânia.