Quando olhamos para o outro lado do Atlântico e percebemos, atónitos e inertes, como os valores e os princípios da Velha Europa estão em claro declínio e desrespeito, podemos interrogar-nos sobre o que nos pode esperar dentro de 10 ou 20 anos. Talvez menos até…

A ideia do Estado Social, mais do que em perigo real, parece perdida entre os interesses mercantilistas que, se jogam em catadupa de decretos e ordens presidenciais, que ameaçam pessoas, povos e nações, sejam sob a forma de tarifas – sempre o vil metal… -, sejam sob o modelo de deportações, indultos para criminosos arregimentados, insultos à inteligência ou à racionalidade…

Esse Estado Social, movido e animado pela prossecução de fins de solidariedade e de justiça social, transformado em elemento natural de cultura política e constitucional, era uma dimensão promotora da igual dignidade social da pessoa, da integração e da solidariedade.

Se virmos as coisas deste prisma, embora aceite poder ser uma visão pessimista ou conformista, perturbada por essa coisa do “Trumpismo”, a aberração intelectual mais grosseira e temida, podemos aceitar que o caso português vai muito na linha dessa apressada decadência.

Falamos também do SNS.

A protecção e promoção da saúde, enquanto direito humano fundamental, tem sido um determinante do desenvolvimento e bem-estar das pessoas e da sociedade no seu todo. Nem o único, nem o mais importante em minha opinião, pese embora seja dos que adquirem maior percepção e notoriedade.

A educação, os comportamentos cívicos, a salubridade e higiene pública, as condições de habitação, a qualidade de emprego, a segurança global ou a justiça são outras vertentes sociais.

Habituamo-nos a que essa protecção na doença seja assumida como uma responsabilidade nuclear do Estado para com os seus cidadãos.

O SNS paga por isso uma factura elevada.

Mas qualquer Trump concordaria facilmente que a promoção da saúde deveria passar em larga medida pela responsabilidade individual. Pelo comportamento, por práticas saudáveis, pelo cumprimento de regras básicas, pela aceitação das políticas públicas de prevenção e de vacinação, pelo respeito pelos programas de rastreio, pela adesão aos tratamentos preconizados, pelo respeito pelos profissionais de instituições de saúde.

Cada indivíduo deveria ser o principal interessado em procurar partilhar e assumir a sua parcela de exigência pessoal na preservação da sua condição de saúde e de sobrevivência.

Se isso acontecesse de facto, se isso fosse uma orientação estratégica de saúde pública e uma política de literacia consistente e longo fôlego, o SNS estaria mais protegido e mais apto para outras frentes de batalha.

E creio que, no presente estaríamos já com níveis de respeito pela Democracia bem mais elevados e empenhados.

Acredito que as formas mais bem-sucedidas de democracia participativa dependem do patamar de contributos e empenhamento individual.

Mas não sei se posso alhear-me do sentimento asfixiante que as últimas semanas, após a tomada de posse de Trump, me invade e perturba.

Pelos Estados Unidos falam de tarifas a cobrar.

E os americanos parecem ainda entusiasmados.

Em Portugal e no SNS concretamente sobram tarefas para pagar.

E os Portugueses andam anestesiados.

O autor escreve de acordo com o A.A.O

Notícia relacionada

HUMANIDADE – PRECISA-SE!