O Presidente da Ucrânia entregou hoje ao Papa uma pintura a óleo que retrata o massacre de Bucha, tendo recebido uma placa de bronze com uma flor a desabrochar e a inscrição "a paz é uma flor frágil".

Os presentes foram trocados pelos dois chefes de Estado depois de um encontro, realizado hoje de manhã, no qual Volodymyr Zelensky conversou cerca de 35 minutos com o Papa Francisco, relatou a agência de notícias italiana Ansa.

Entre os presentes do Papa, conta-se também a sua mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, os volumes dos documentos papais, o livro sobre a 'Statio Orbis' de 27 de março de 2020 e o volume "Perseguidos pela verdade, os greco-católicos ucranianos por trás da cortina de ferro".

Zelensky está hoje de manhã no Vaticano, no âmbito de uma viagem pela Europa com o objetivo de angariar mais apoios para enfrentar a invasão russa.

Esta é a segunda audiência privada concedida, no Vaticano, pelo Papa ao Presidente ucraniano desde a invasão russa, em fevereior de 2022, tendo a primeira decorrido em maio de 2023, mas os dois também se encontraram em junho em Itália, durante a cimeira do G7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo).

Desde a invasão da Ucrânia por Moscovo, em fevereiro de 2022, Francisco tem aumentado as suas orações pela "Ucrânia martirizada", mas causou uma crise diplomática entre Kiev e a Santa Sé em março, depois de apelar à Ucrânia para "levantar a bandeira branca e negociar".

A viagem europeia de Zelensky

Do Vaticano, Zelensky viajará, ainda hoje, para Berlim, onde se vai reunir com o chanceler alemão, Olaf Scholz, cujo Governo planeia reduzir para metade, em 2025, o montante atribuído à ajuda militar bilateral destinada à Ucrânia, para grande desgosto de Kiev.

Na quinta-feira à noite foi a vez de se reunir com a chefe do Governo italiano, Giorgia Meloni, que anunciou o acolhimento no país da próxima conferência sobre a reconstrução da Ucrânia, agendada para 10 e 11 de julho de 2025.

"A Ucrânia não está sozinha e nós estaremos ao seu lado enquanto for necessário", garantiu Meloni.

A Itália apoia fortemente Kiev, enviando ajuda e armas, embora considere que estas últimas só devem ser utilizadas dentro do território ucraniano.

Macron garantiu que a ajuda da França continua

Antes de Roma, Volodymyr Zelensky foi recebido em Paris pelo seu homólogo francês, Emmanuel Macron, onde, como habitualmente, apelou a um rápido aumento da ajuda ocidental.

"Antes do inverno, precisamos do seu apoio", insistiu.

Emmanuel Macron, por sua vez, garantiu que a ajuda da França continua, "de acordo com os seus compromissos".

A viagem europeia de Zelensky ocorre numa altura em que as forças russas continuam a avançar no leste da Ucrânia e a menos de um mês das eleições presidenciais norte-americanas, cujo resultado incerto levanta receios em Kiev sobre a sustentabilidade do apoio dos Estados Unidos.

As consequências de uma eventual vitória de Donald Trump foram, no entanto, desvalorizadas pelo secretário-geral da NATO, Mark Rutte, na quinta-feira, em Londres.

"Estou absolutamente convencido de que os Estados Unidos estarão envolvidos, porque compreendem que não se trata apenas da Ucrânia, mas também de si próprios", disse Rutte.

Tal como em Paris e Roma, o Presidente Zelensky apresentou os detalhes do seu "plano de vitória" contra a Rússia ao primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e a Mark Rutte na quinta-feira, em Londres.

Este plano "visa criar condições favoráveis para um fim justo da guerra", disse, acrescentando que "a Ucrânia só pode negociar com uma posição forte".

O plano deverá ser revelado durante uma cimeira de paz, prevista para novembro, mas cuja data não foi confirmada por Kiev.

Zelensky voltou a insistir na "necessidade de obter autorização para atacar profundamente o território russo" com armas de longo alcance fornecidas, em particular, pelo Reino Unido, um dos mais importantes apoiantes do seu país.

O líder ucraniano exige há meses autorização para usar os mísseis britânicos de longo alcance 'Storm Shadow' para atacar a Rússia.

Rutte disse aos jornalistas que "legalmente, a Ucrânia está autorizada a usar as suas armas para atingir alvos na Rússia, desde que esses alvos representem uma ameaça para a Ucrânia", mas ressalvou que a decisão de as entregar cabe "a cada aliado individualmente".

O instituto de investigação alemão Kiel Institute alertou na quinta-feira para uma possível queda da ajuda ocidental à Ucrânia em 2025.

De acordo com as suas projeções, se os doadores ocidentais mantiverem, no próximo ano, os níveis anteriores, a ajuda militar e financeira ascenderá a 59 e 54 mil milhões de euros, respetivamente. No entanto, se a ajuda norte-americana for perdida e se os doadores europeus seguirem a linha da Alemanha, as ajudas cairão para metade, ficando-se pelos 29 e 27 mil milhões de euros.