
- com Bernardo Castro e David Albano
Discreto, mas eficaz. O Estoril Praia é uma dor de cabeça para o FC Porto, na Amoreira, criando pesadelos tão grandes aos dragões que, antigamente, José Maria Pedroto e Pinto da Costa «davam um valente raspanete» aos jogadores, caso perdessem.
A última vez que o FC Porto perdeu pontos na Amoreira foi no dia 30 de março de 2024, uma derrota (1-0), na 27ª jornada da Liga Portuguesa. Segundo o nosso Playmaker Stats, o Estoril Praia é a terceira equipa da Liga com melhor saldo de receções ao FC Porto, ficando apenas atrás de Benfica e Sporting. Os canarinhos totalizam 12 vitórias, nove empates e 15 derrotas em casa, frente aos azuis e brancos.
No entanto, esta história começa bem lá atrás, nos primórdios da Liga Portuguesa, nos anos 40. O zerozero analisou o fenómeno da «maldição» e ainda esteve à conversa com Óscar Duarte, ex-jogador do Estoril Praia e FC Porto.
O início do pesadelo
Situado em Alcabideche, o estádio recebeu o clube nortenho pela primeira vez no dia 30 de abril de 1944. Esta partida deu início à maldição, que perdurou durante largos anos e há quem diga que ainda perdura. O FC Porto passou 2743 dias (sete anos, seis meses e cinco dias) sem um único triunfo ou empate na Amoreira, permitindo que o Estoril tivesse sete vitórias consecutivas.
Essa vitória deu início a uma sequência de sete triunfos estorilistas caseiros consecutivos, entre 1944 e 1951. Miguel Lourenço, atleta dos canarinhos, entre 1944 e 1948, marcou nove golos aos azuis e brancos, no terreno do Estoril. No terreno dos dragões nunca marcou qualquer golo.

«Recordo-me que o Pedroto abdicou do lateral esquerdo e eu jogava a ala. Ele disse ao Otávio para fazer a compensação desse lado. Recordo-me que o fintei e depois o Freitas veio e também passei por ele, antes de me isolar e só ter o Torres pela frente. Quase à entrada da área, acertei em cheio e dei um pontapé na bola que foi entrar no ângulo. O outro golo foi um pontapé de trivela, de livre quase à entrada da área também, o guarda-redes era o Fonseca e nem viu a bola.»

O duelo entre as duas equipas, quando ocorre no distrito de Lisboa, é sinónimo de golos. Ao longo da história, apenas dois resultados ficaram a zeros. Estoril (60 golos) e FC Porto (55 golos) marcaram um total de 115 golos, desde do seu primeiro embate. Óscar Duarte contribuiu para dois desses golos.
O FC Porto perdeu três vezes na Amoreira, durante os anos 70. Nem o próprio Óscar, que esteve nos dois lados, sabe explicar o fenómeno: «Um dos aspetos poderá ter sido alguns jogadores que saíram ou então não souberam colmatar a saída desses mesmos jogadores.»
Aos olhos de Óscar Duarte
Este registo historicamente difícil para os dragões não é acaso e o segredo para as vitórias é simples: «Éramos muito unidos, embora não pagassem pontualmente. Mas entrando no campo esquecíamos tudo, dávamos o nosso máximo e éramos alegres», revelou-nos o próprio Óscar.
«No Estoril éramos uma família terrível. Saíamos muitas vezes juntos para almoçar ou jantar, e então era como se fosse uma união quase inquebrável. E quando entrávamos no campo, dávamos o nosso máximo, mas o nosso máximo mesmo», disse o antigo jogador ao nosso jornal. «No Porto, os jogadores ganhavam muitíssimo mais e quando é assim, infelizmente, já não se verificava essa união porque cada um ia depois à sua vida, enquanto no Estoril fazíamos muitas coisas juntos», afirmou.
No entanto, a passagem pelos canarinhos não foi só momentos positivos. Contudo, isso não apaga as memórias e as recordações:
«Eu joguei algumas vezes lesionado e todos fazíamos sacrifícios. Uma vez, contrai uma lesão no tendão e demorei a curar porque me pediam sempre para jogar. Ainda assim, guardo grandes recordações. Tenho o contacto de alguns jogadores, nós falamos e trocamos mensagens. Trataram-me muitíssimo bem e ainda o ano passado ou há dois anos, convidaram-me e eu fui lá. Até estranhei, nunca tinha pensado que gostaram tanto assim de mim. Fiquei mesmo contentíssimo.»
No entanto, ao serviço do FC Porto, experienciou a exigência de José Maria Pedroto e Pinto da Costa: «Se fossemos comparar todos os jogadores do Porto com os do Estoril, não há comparação possível. Portanto, éramos obrigados a ganhar esse jogo, mas no futebol as coisas não são bem assim. Quando não ganhávamos, reuniam-nos e davam-nos um valente raspanete.»
Prognósticos só no final do jogo
As duas equipas enfrentam-se neste domingo, a contar para mais um jogo do campeonato, onde os portistas irão certamente fazer de tudo para inverter esta tendência e sair com os três pontos. Porém, têm uma árdua tarefa pela frente, que é passar pelo António Coimbra da Mota.

«O Estoril quando joga em casa é uma equipa bastante aguerrida. Parece que duplicam a disposição e a entrega. Acabam sempre por vencer ou, na pior das hipóteses, empatar», admitiu o cabo-verdiano ao zerozero, sobre a mística e a força da casa dos estorilistas.
Óscar, mesmo em Cabo Verde, acompanha sempre as ‘suas equipas’ e não só: «Vejo sempre os jogos, principalmente das equipas que tenho carinho, não só do Estoril, mas do Porto também. E até quando jogam fora, torço pelas equipas portuguesas.»
«O FC Porto, agora, está numa remodelação terrível. Não só em termos de jogadores, como financeiramente. Não tem estado a produzir, porque também não tem jogadores à altura. Por isso, o jogo deste fim de semana não vai ser fácil, principalmente agora com o Porto a passar por estes momentos difíceis. Penso que vai ser um jogo complicado e talvez o Estoril até consiga vencer, dada a malapata que o Porto tem quando vai lá jogar», anteviu o ex-jogador dos dois emblemas.
No ano de 2025, a equipa canarinha tem se apresentado em grande forma. Conquistaram 21 pontos através de seis vitórias, três empates e uma derrota, consolidando-se no meio da tabela classificativa e intrometendo-se na luta por um lugar europeu. Os azuis e brancos, por outro lado, estão a ter um novo ano oscilante, com 13 pontos ganhos em três vitórias, quatro empates e três derrotas.