TASHKENT - Já José Mourinho o dizia: as finais não se jogam, ganham-se. Ora foi justamente o que o Brasil fez, na final do Mundial, frente à Argentina: 2-1. Com uma frieza pouco usual e uma capacidade de sacrifício colocada à prova durante os 40 minutos, a canarinha pôde sorrir no final, mas assustou-se (e muito) com a sua rival continental de sempre.

A Argentina pode queixar-se de alguma ineficácia ofensiva, mas jamais de não ter cumprido o seu plano de jogo: mais bola, mais construção, mais remates, muito mais perigo criado junto da baliza adversária.

De resto, Willian, o guarda-redes brasileiro, viveu uma noite de sonho, sendo o melhor em campo e, simultaneamente, o melhor guardião do torneio. Para a Luva de Ouro deste Mundial muito terá contribuído a exibição da final, ao negar aos vice-campeões do mundo, pelo menos, a possibilidade do empate.

Para os argentinos, afinal, este jogo teve muitas semelhanças com o de há três anos, na Lituânia, frente a Portugal. Aí, foram os comandados de Jorge Braz a saber sofrer até ao apito final, enquanto agora a equipa de Marquinhos Xavier utilizou a mesma estratégia fria e dura para atingir os objetivos.

Marcando na primeira parte, golos de Ferrão e Rafael Santos, os brasileiros souberam gerir e obrigar o adversário a abrir totalmente o seu jogo, lançando os trunfos disponíveis, e optando pelo guarda-redes avançado ainda com algum tempo para jogar.

Matías Lucuix sabia que só lhe restava arriscar, acabando a partida com a curta consolação de todos os parâmetros estatísticos lhe serem favoráveis. Muito pouco para quem pretendia repetir o título de Cali, na Colômbia, em 2016, e acabou por replicar a prata de Kaunas, na Lituânia, há três anos.

O Brasil utilizou, a espaços, Pito, mas foram Ferrão e Rafa Santos os marcadores de serviço, num conjunto que arregaçou as mangas na Humo Arena, tendo sido verdadeiramente colocado à prova pela Argentina, mais ainda do que na meia-final frente à Ucrânia.

Depois de ter ganho os três primeiros Mundiais de futsal (de 1989 a 1996), o escrete fez a dobradinha em 2008 e 2012, e agora, 12 anos depois, coloca a sexta estrela de campeão do mundo no seu equipamento e consegue ter o melhor marcador em cinco das 10 edições já disputadas da prova máxima: Marcel foi o goleador no Uzbequistão, sucedendo ao seu compatriota Ferrão, que ganhou a Bola de Ouro na Lituânia, há três anos.

Na final de consolação, a Ucrânia não deu a mínima hipótese à estreante França, ganhando por 7-1, e construindo a goleada sobretudo a partir da opção francesa de atuar com guarda-redes avançado durante os últimos 15 minutos de jogo.

Do ‘fair play’ português ao adeus de Higuita e Borruto

Afinal, Portugal esteve presente na cerimónia de entrega de prémios do Mundial. A equipa das quinas foi até a primeira a ser chamada, uma vez que ganhou o prémio premio ‘fair play’. Porém, nenhum representante subiu ao palco para receber o troféu.

Com o presidente da FIFA, Gianni Infantino, numa viagem-relâmpago ao Uzbequistão (fontes do organismo garantiram-nos que ele não passou mais de seis horas em solo uzbeque…), a festa foi brasileira, com Dyego e Willian em absoluto destaque.

O capitão, autor de golos decisivos ao longo da competição, ganhou a Bota de Ouro, que premeia o melhor jogador da competição. Muito regular e a revelar um imenso espírito de grupo, o jogador do Barcelona destacou-se dos demais, e foi justamente recompensado.

Já Willian, atirado para a titularidade na final (em detrimento de Guitta), tocou o Olimpo com a exibição da final e leva para casa a Luva de Ouro. O melhor marcador foi também brasileiro: Marcel, com 10 golos.

Este foi, também, um Mundial de despedidas. E sobressaem dois nomes: Higuita, o guarda-redes do Cazaquistão, cinco vezes considerado o melhor do planeta na sua posição, e Cristian Borruto, o astro argentino que, embora tendo chegado à final, sai de cena com o amargo de boca da derrota frente ao eterno rival.