Um carro estacionado atrás do nosso, a impedir a saída, quando estamos com pressa de deixar um local. Sensação familiar? Assim foi o fogacho futebolístico na Choupana. O malfadado nevoeiro alapou-se em cima do relvado e bloqueou o Nacional-Benfica que estava previsto ali ser realizado. Devido ao comportamento irresponsável deste intruso, que não compreendeu que aquele era um lugar reservado a moradores e seus convidados, o jogo foi adiado.

O árbitro Gustavo Correia e restantes membros da sua equipa de julgadores eram os mais prevenidos. O amarelo fluorescente é um unânime flagelo para o potencial estético de uma paisagem, exceto num cenário como este. Se esta noite virem estrelas pela Madeira, não são estrelas, de certeza. São três senhores do apito perdidos na ilha.

Aos cinco minutos, o jogo parou pela primeira vez e foi retomado pouco depois. Como demonstração de máximo respeito para com quem anda saturado, não foi preciso esperar por uma terceira paragem para ser de vez. Atingidos os 8’5’’ de jogo, as equipas regressaram ao balneário. É que nem para quem assistia à distância a experiência estava a ser boa. Os MacGyver’s desta vida ter-se-ão levantado para mexer nos cabos atrás da televisão em busca de resolver o problema de sinal. Mas calma, era só uma nuvem de nevoeiro a ser emplastro na transmissão.

O que fizeram os jogadores enquanto estiveram nas cabines entra na jurisdição do imaginário. Ficam algumas apostas: Álvaro Carreras esteve a cortar as pontas do cabelo, Aktürkoglu acabou de ler mais um capítulo do seu livro favorito de Harry Potter, Otamendi foi ver como estava o resultado do River Plate.

Meia hora depois, as equipas regressaram. Fizeram apenas alguns exercícios de aquecimento, não fosse Gustavo Correia ter a infeliz ideia de retomar o encontro. Numa decisão sensata, alguém fez saber que o jogo seria adiado, para azar do Benfica que desencantou uma fresta no calendário (19 de dezembro, às 17h) para 81’55’’ de atividade desportiva em território insular.

Do período em que a bola rolou, honestamente, pouco se sabe. Ainda deu para ver que o onze do Nacional entrou em campo com uma t-shirt que homenageava Daniel Guimarães, o falecido ex-guarda-redes do clube. Depois, a cortina estendida no relvado impediu o escrutínio. Aqueles jogadores que costumam tapar a boca quando estão a falar para não correrem o risco de aparecer um especialista em leitura labial que exponha o teor da mensagem tiveram uma tarde descansada.

Como ideia para o futuro, fica a sugestão de mudar os regulamentos. Todas as equipas deviam ter um equipamento principal, um equipamento secundário e um equipamento para o nevoeiro (podem pedir emprestados uns coletes à empresa de construção civil mais próxima). Para ti, Choupana: por favor, para com isto.