O agente Pedro Pinho, através das agências PP Sports e N1, arrecadou mais 7,554 milhões em comissões no período de duas temporadas – 2022/2023 e 2023/2024 – apenas com 11 negócios feitos com o FC Porto. A investigação de A BOLA, sustentada em documentos a que nosso jornal teve acesso e a relatórios contabilísticos passados a pente fino, indicam que nesse exato período (2022 a 2024) Pedro Pinho conduziu mais de uma dezena de operações de transferências de jogadores dos azuis e brancos, estando envolvido em 38 por cento dos negócios da SAD naquelas duas épocas.

Uma influência tremenda do agente, que tinha ligações muitos fortes a Pinto da Costa e que, tal como o presidente do FC Porto, é um dos nomes investigados pelo Ministério Público no âmbito da ‘Operação Prolongamento’, processo desencadeado depois de uma reportagem da revista Sábado, publicada em 2021, sobre um alegado desvio de verbas da Altice e do FC Porto, nomeadamente sobre transferências de alguns jogadores.

A soma astronómica em comissões que Pinho faturou é apenas a ponta do iceberg. A proximidade do empresário aos azuis e brancos deu-se primeiro como sócio de Alexandre Pinto da Costa na Energy Soccer, sociedade de mediação, gestão de carreiras e representação de praticantes desportivos. Depois seguiu sozinho e enquanto dono da PP Sports e N1 faturou, nos últimos anos, €20 milhões ao FC Porto. Uma realidade que contrasta com o atual enquadramento da gestão Villas-Boas.

O presidente portista prometeu reduzir drasticamente os custos de intermediação. E assim foi. No verão, nas transferências da equipa principal e da B, o FC Porto pagou apenas um valor fixo de €2,88 milhões em comissões de intermediação. As 22 operações da responsabilidade da atual equipa dirigente foram publicadas no Portal da Transparência para consulta pública e dos sócios (ver quadro).

Percentagens mais elevadas

Outro aspeto que a A BOLA revela é que em muitos negócios as empresas de Pedro Pinho cobraram uma percentagem em comissões muito acima dos ‘normais’ 10 por cento. Na transferência de Gabriel Veron do Palmeiras para o FC Porto, por €10,250 milhões, foi aplicada uma comissão de 17 por cento, que resultou num ganho de €1,750 milhões. Não foi caso único nem exclusivo de Pinho: a mesma comissão de 17 por cento foi cobrada por uma agência na compra de Grujic ao Liverpool (€9M/comissão de €1,5M) – como se pode verificar no quadro que apresentamos desse conjunto de transações.

No caso de Pedro Pinho houve outros negócios acima dos 10 por cento: Sérgio Oliveira, vendido ao Galatasaray, da Turquia, por €3 milhões traduzindo-se no pagamento de comissão de €1,082 milhões (36 por cento!) – e resultou, contabilisticamente, numa menos-valia de… 821 euros, descontadas as parcelas como os custos de intermediação, mecanismo de solidariedade e o valor líquido contabilístico do passe, entre outros. Tomás Esteves, para o Pisa, também foi um negócio conduzido por Pedro Pinho: 20 por cento, €220 mil de comissão sobre os €1,1 milhões que o FC Porto recebeu dos italianos.

Mas há mais e com valores superiores: Nico González, que chegou do Barcelona: comissão de intermediação de 13 por cento, um ganho de €1,1 milhões para Pinho. Alan Varela, proveniente do Boca Juniors: 15 por cento de comissão e €1,2 em encargos com o serviço de intermediação do referido empresário.

No período em análise (2022 a 2024), só o negócio de Diogo Leite para o Union Berlim foi feito pelos 10 por cento que muitos agentes cobram (€700 mil de intermediação). Abaixo disso, no caso de Pinho, só a compra do central Otávio ao Famalicão: ficou-se pelos 8 por cento. Ainda assim resultou num encaixe de €1 milhão.

Sendo verdade que houve negócios, poucos, com outros agentes feitos com percentagem de comissão inferior - David Carmo (4%), Eustáquio (5%), Iván Jaime (4%) ou Fran Navarro (6%) - e até sem comissão (Marchesín ou Samuel Portugal), o facto é que no conjunto das duas temporadas, só em comissões para agentes, foram faturados ao FC Porto €35,5 milhões. Juntando as comissões de gestão (percentagem que os agentes cobram aos clubes por ano sobre o salário dos jogadores) o valor final ascende a €36,277 milhões em duas temporadas! E com Pedro Pinho a levar boa fatia do bolo.