Quando Dick Fosbury chegou ao México, para competir nos Jogos Olímpicos de 1968, e foi treinar-se chamaram-lhe «camelo de duas pernas». O americano, estudante de engenharia civil, ignorou os descrentes e as gargalhadas e continuou a trabalhar naquilo que era uma técnica de salto completamente inovadora e que pretendia aplicar no salto em altura.

O público gostou e acarinhava o desengonçado atleta, o saltador em altura mais preguiçoso do Mundo como lhe chamaram os jornalistas . Fosbury continuou sereno.

Richard adorava salto em altura, mas cedo percebeu que o amor à modalidade não era proporcional ao talento que tinha e, por mais que tentasse imitar o seu ídolo, o soviético Valery Brumel, não conseguiria nunca passar uma perna e depois a outra sobre uma barra de mais de um metro e meio. O talento para o straddle, técnica utilizada naquela altura altura, não estava ao seu alcance.

Ainda no liceu, aspirante a atleta, Dick percebeu que a coordenação motora não era o seu forte, mas tinha inclinação a matemática e a física e pensou que conseguiria inventar uma técnica que o fizesse ter sucesso na modalidade. Depois de muitos cálculos percebeu que, arqueando as costas, o centro de gravidade do saltador fica abaixo da barra, mesmo enquanto o corpo passa sobre ela. Ora, como nessa altura, a areia e a serradura começavam a ser substituídas por espuma, acabava o perigo de se magoar quando caísse de costas.

A técnica de Fosbury propunha uma corrida do lado oposto e a terminar em curva, para que o atleta saltasse do pé mais distante e se virasse de costas para a barra, voando de rosto para o sol. Quando a exibiu, ainda no liceu, um jornalista disse que Dick parecia «um peixe a debater-se num barco» - a fish flopping in a boat-, um comentário pouco simpático, mas que deu origem ao nome Fosbury Flop, que resiste até aos dias de hoje como a técnica do salto em altura.

Dick decidiu faltar à cerimónia de abertura dos Jogos México68 para visitar as pirâmides e dormir numa carrinha a ver o pôr do sol.

Fosbury manteve o foco e os resultados não mentiam. Já na faculdade, começou a chamar a atenção dos especialistas e, em 1968, venceu o primeiro de dois títulos de campeão universitário consecutivos, antes de  vencer o torneio de seleção olímpica dos EUA. Dick decidiu faltar à cerimónia de abertura dos Jogos para ver as pirâmides e dormir numa carrinha a ver o pôr do sol. Ninguém acreditava no miúdo desengonçado de 21 anos. Mas, no dia 20 de outubro, o Mundo ficou de boca aberta.

Depois de oito saltos, sobreviveram três atletas: o favorito soviético Valentin Gavrilov, o norte-americano Ed Caruthers e o descoordenado estudante de Engenharia Civil, com 1, 93 metros, que calçava sapatilhas de pares diferentes.

Os três passaram os 2,20 metros à primeira tentativa. Gravilov ficou fora do concurso aos 2,22m, Caruthers passou após uma tentativa falhada e Fosbury seguiu à primeira.

A final foi decidida aos 2,24m. Caruthers falhou os três saltos. Fosbury, empurrado pelo público, sempre simpático para os mal amados, voou de costas sobre a barra e conquistou a medalha de ouro. Entusiasmado ainda tentou bater os 2, 29 m do seu ídolo, mas falhou.

Porém, o salto em altura nunca mais seria o mesmo e apesar de alguns mais reticentes à técnica a partir dos anos 80 implementou-se definitivamente e o Fosbury Flop tornar-se-ia a linguagem universal da disciplina.