Há palcos mais ou menos malditos e a Allianz Arena de Munique é um deles para o futebol português. Não falamos de azares ou derrotas circunstanciais. Falamos de catástrofes futebolistas, eventos traumáticos, como foram os 7-1 ao Sporting em 2009, os 6-1 ao FC Porto em 2015 ou os 5-1 ao Benfica em 2018.

Democraticamente, o Bayern Munique distribuiu violência aos três grandes de Portugal no seu novo estádio e até a seleção alemã ali trucidou a portuguesa no Euro 2020 (os 4-2 foram, covinhamos, até lisonjeiros). Melhor resultado de uma equipa portuguesa na Allianz Arena? Um nulo do Sporting em 2006 e talvez o Belenenses tenha saído de Munique com uma sensação de dever cumprido por ali ter perdido por apenas 1-0 numa 1.ª ronda de Taça UEFA em 2007.

Impunha-se então esse desafio ao Benfica: ganhar pela primeira vez em Munique, importante depois da derrota em casa por 2-0 com o Feyenoord. Do outro lado, o Bayern de Kompany, a voar na Bundesliga, mas com duas derrotas consecutivas na Liga dos Campeões.

Lendo o adversário, Bruno Lage mudou: entrou em campo com três centrais, mais presença a meio-campo e um ataque móvel com Aktürkoglu e Amdouni. O objetivo era ter segurança na posse, baralhar o adversário e tentar agarrar as oportunidades dadas para ataques rápidos.

Alexander Hassenstein

Mas posse foi coisa que o Benfica não teve ao longo de todo o jogo. Os encarnados abraçaram a guerilha e o Bayern obrigou a equipa portuguesa a entrincheirar-se na sua área. Ainda assim, os alemães foram quase sempre uma equipa trapalhona. Todo o ascendente resultou apenas num golo, a meio da 2.ª parte. O Benfica mudou, mas a tradição manteve-se: mais uma vez uma equipa portuguesa não ganhou em Munique.

A estratégia encarnada terá resultado na 1.ª meia-hora. Sem bola, o Benfica defendia bem, evitando o poder de fogo do Bayern. Não houve remates até aos 30 minutos (na primeira vez que o Benfica se desorganizou) e quando apareceram não levaram perigo à baliza de Trubin, presença segura ao longo de todo o jogo. A pressão alta do Benfica raramente apareceu, mérito também do controlo do Bayern.

Depois do intervalo, Lage desfez a ideia inicial, atirando Pavlidis às feras. Beste entrou para o lugar de Kaboré, o elo mais tremeliquento do Benfica na 1.ª parte. E depois de uma entrada segura, o Bayern voltou a enviar toda a artilharia para a área dos encarnados, num ataque ainda mais intenso do que no primeiro tempo.

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Faltava, no entanto, criatividade à equipa da casa, incapaz de penetrar com qualidade nas linhas defensivas do Benfica, que ia sobrevivendo de faca nos dentes. A entrada de Leroy Sané trouxe outras ideias aos alemães, com o extremo a iniciar um duelo bem particular com Trubin, que foi ganhando a luta, com várias defesas resolutas. Mas estaria mesmo no pé esquerdo do ex-Manchester City a origem do único golo do jogo: Sané despejou para a área, Kane ganhou nas alturas a Tomás Araújo e Musiala estava no coração da área para cabecear para as redes.

O golo do Bayern não trouxe grandes alterações ao jogo do Benfica, sempre com grandes dificuldades em encadear jogadas ofensivas - os encarnados acabaram com um remate, contra os 23 dos bávaros, mesmo que muitos deles carentes de perigo. Pavlidis foi um homem só na frente e a entrada de Di María para a vez de um desta vez apagado Aktürkoglu não teve os efeitos desejados. A derrota, protelada pela eficácia defensiva do Benfica, justifica-se e deixa o Benfica com 6 pontos, ainda em lugar de playoff, mas sem grande margem de manobra para o que aí vem.