Uma das boas notícias desta 3.ª eliminatória da Taça de Portugal é perceber que existe coragem no futebol em Portugal. A forma como Pevidém e Sintrense, equipas do 4.º escalão, tentaram, na medida das suas capacidades, mostrar o seu jogo, não se atemorizando perante Benfica e FC Porto, respetivamente, diz-nos que por esses campos fora trabalha-se bem.

Mas, claro está, há diferenças insolúveis de qualidade, de preparação física e foi quando as forças faltaram à equipa do Campeonato de Portugal que o FC Porto avolumou o resultado até aos 3-0, depois de uma 1.ª parte em que o ritmo foi bastante morno. O espectacular golo de Galeno aos 25’, num remate acrobático após primoroso cruzamento de Gonçalo Borges na direita, seria de certa forma um oásis num primeiro tempo em que o FC Porto foi naturalmente o dono do jogo, mas em que os dragões tiveram sempre tanta presença na área quanto cerimónia na hora de marcar.

Vítor Bruno, de regresso aos calções, chamou jogadores menos utilizados como Fran Navarro e Gonçalo Borges, dando oportunidades decisivas a Tiago Djaló e Fábio Vieira, dois reforços que ainda lutam por minutos. Também titular foi Iván Jaime, há muito afastado do onze, tantas vezes nas últimas semanas até afastado dos convocados, depois de um início de época fulgurante. Ver o espanhol jogar pode ser até frustrante, as razões do seu afastamento da equipa podem ou não ter a ver com a sua atitude em campo, mas há muito talento naqueles pés.

E o que é ser Iván Jaime, o homem que no final da época passada foi colocado de parte por Sérgio Conceição por alegadamente ter chegado a sorrir a um treino após uma derrota da equipa? Pouco depois do relógio bater os 50 minutos, numa fase em que o jogo se arrastava, fosse pela quebra física do Sintrense ou pela calma do FC Porto, o ex-Famalicão combinou com Galeno e em frente à baliza tentou displicentemente picar a bola em vez de encher o pé. O talento nem sempre é prático. Só que na jogada seguinte, Jaime brincou em frente a Rodrigo Luís, à entrada da área, num delicioso lance individual que terminou com um não menos bonito remate cruzado para dentro da baliza. O talento, não sendo sempre prático, é também o que levanta um estádio.

JOSÉ SENA GOULÃO

Depois desse momento em que o futebol de Iván Jaime sorriu - ele nem tanto, nem mesmo depois do golo -, o FC Porto partiu para matar o jogo. Poucos minutos depois, Tiago Djaló voou mais alto que toda a gente após canto, marcando no jogo do regresso, após meses e meses de lesões e tentativas de voltar à melhor forma física. Pelo que mostrou esta tarde na Reboleira, estará muito perto disso: foi um dos melhores dos dragões, seguríssimo a controlar a profundidade, nos duelos e competente a tentar sair. Clama pela titularidade.

Pelo contrário, esta titularidade foi uma oportunidade desperdiçada por Fábio Vieira. O atacante que esta época regressou ao FC Porto até fez parte da manobra ofensiva que resultou no primeiro golo dos dragões, mas à parte disso pareceu sempre pouco fresco fisicamente, muito queixoso a cada entrada, a cada bola disputada. Saiu a meio da 2.ª parte claramente nos limites, o que não podem ser boas notícias nem para o jogador nem para o FC Porto.

Com 3-0 no marcador, Vítor Bruno refrescou a equipa e o Sintrense, num primeiro momento, encontrou as suas últimas forças para mostrar algumas das valias do ataque posicional que lhe vai valendo a liderança no Campeonato do Portugal. Hilário ainda assustou com um remate repentista à entrada da área, que saiu ligeiramente por cima. Com a entrada de André Franco, Danny Namaso e Nico, o FC Porto passou os últimos minutos a controlar, sem se aventurar muito mais. A tarefa foi desde cedo cumprida e os dragões seguem tranquilamente para a 4.ª eliminatória da Taça de Portugal