A dedicação ao ténis em doses desmesuradas tem o condão de fazer esquecer como era a vida antes dele. Vinte e três anos depois de se ter tornado profissional, Rafael Nadal está em vias de se voltar a conhecer sem a raquete na mão. O percurso vitorioso do maiorquino esfuma-se esta semana na Taça Davis. Assim que a seleção espanhola for eliminada, assim fenece uma das carreiras mais prestigiadas de sempre.

Nas condições atuais, Rafael Nadal poderá não ser o principal contribuidor para um potencial logro de Espanha no torneio que se realiza em Málaga. Ainda assim, o jogador de 38 anos não quer que se esqueçam dele. “Não estou aqui para me retirar. Estou aqui para ajudar a equipa a vencer”, explicou na antevisão. O iminente adeus, assegura o próprio, obriga-o “a controlar as emoções”, estando à disposição para se deixar levar por elas quando terminar verdadeiramente de competir.

O calvário de lesões, contra as quais sempre foi lutando, questionou a efetiva continuidade de Nadal a partir do início de 2023. O problema muscular no psoas iliaco do lado esquerdo, contraído no Open da Austrália, apressou-lhe o desfecho. Na sequência, falhou a presença em Roland-Garros, o bastião da sua genialidade. Em 2024, teve a oportunidade de se despedir do Grand Slam francês, mesmo que não no auge das virtudes tenísticas que o ajudaram a conquistar 14 vezes a terra batida do Court Philippe-Chatrier.

A assiduidade competitiva de Rafael Nadal diminuiu drasticamente nos últimos tempos. A chegada à Taça Davis dá-se com um histórico de apenas 19 jogos realizados esta época no circuito ATP, um dos quais contra Nuno Borges, em Bastad, na Suécia - perdeu na final com o português. Também andou por portas travessas, tendo, na Arábia Saudita, defrontado pela última vez Novak Djokovic.

Matt McNulty

“Se tiver que explicar a luta que tive contra o meu corpo ao longo da carreira... não é uma explicação que dure 5 minutos”. Bem-humorado e a viver com “normalidade” o esbatimento da vida no ténis, Rafael Nadal confessa que não conseguiu “treinar a 100%” para a competição que se avizinha, o que considera ser “algo lógico” para quem está a passar pelas consequências de alguém que “trabalha desde os 7/8 anos” na modalidade.

Na primeira eliminatória, Espanha enfrenta os Países Baixos. Além de Rafael Nadal, a equipa liderada por David Ferrer conta com Carlos Alcaraz, Pedro Martínez, Roberto Bautista Agut e Marcel Granollers. “Se for eu a estar em campo, fá-lo-ei com o máximo entusiasmo e determinação”, afirma Nadal que vai “desfrutar ao máximo”, quer suba ao court, quer não.

É “super especial” para o quase aposentado o “apoio incrível por parte de toda a gente”. “Tenho a possibilidade de me retirar no meu país. Gosto de viver em Espanha, é algo que me faz realmente feliz.”

Há uma “grande mudança” a caminho para Nadal, depois da Taça Davis. Ele está “muito emocionado e feliz”. O mundo do ténis aproveita o pouco que resta de um dos maiores guardiões da sua magia.