Até há oito dias, a mística do Botafogo era feita tanto de lendas como de derrotas. O clube era tanto o clube de Garrincha, de Nilton Santos, de Didi, de Gerson ou de Jairzinho como o clube grande que não ganhava.

Até há oito dias, o Botafogo era o único dos 12 grandes do Brasil (Atlético Mineiro, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco da Gama) que nunca vencera a Libertadores. Era, a par do Grêmio, o que fora menos vezes campeão do Brasil.

Em oito dias, tudo mudou. O Botafogo já tem uma Libertadores. E, agora, juntou-lhe o Brasileirão, acabando com um jejum de 29 anos.

Artur Jorge é já nome de lenda no emblema da estrela solitária. O técnico português chegou em abril e, oito meses volvidos, alterou a história do Botafogo. Adeus mágoas e traumas, adeus dúvidas e fantasmas do passado distante ou do recente, tão recente como recente foi 2023. Olá, Botafogo, campeão nacional e continental.

O Botafogo chegou à 38.ª e última jornada do Brasileirão só a precisar de um empate. O grande mérito da equipa começou logo a ser construído nas últimas semanas, pela forma como os cariocas deram a volta a um mau momento — três empates seguidos entre as jornadas 33 e 35 — e foram ganhar ao terreno do Palmeiras, numa quase final antecipada do campeonato.

Depois da vitória em casa de Abel Ferreira, o Botafogo não cedeu a fantasmas. Na ressaca do triunfo na Libertadores, ganhou no estádio do Inter e, na conclusão do Brasileirão, bastava um ponto.

O Nilton Santos engalanou-se, parte expetativa, parte nervosismo, para a receção ao São Paulo, na 74.ª partida da época para um Botafogo que ainda vai disputar a Taça Intercontinental, defrontando o Pachuca na próxima quarta-feira no Catar. Quem ganhar discutirá o troféu, na final, frente ao Real Madrid.

Buda Mendes

Numa jornada com muito em discussão, do título à descida, o Botafogo recebeu o São Paulo ao mesmo tempo que o Palmeiras defrontava o Fluminense. O dia começou logo feliz para Artur Jorge: ao intervalo, o Botafogo vencia por 1-0, graças a um golo de Savarino, enquanto o Palmeiras perdia por 1-0, graças a um golo de Serna.

Na segunda parte, aos 63', William Gomes empatou para o São Paulo. Os nervos poderiam ter chegado ao estádio, mas olhar para os telefones dava alguma tranquilidade, já que o Palmeiras não dava a volta ao seu resultado.

Com o passar dos minutos, as bancadas enchiam-se de gente de lágrimas. Era o adeus aos traumas, o abraçar do Botafogo de Artur Jorge, o Botafogo das glórias. O Palmeiras, bicampeão, perdeu com o Fluminense — que se salvou da descida, que teve no Athletico o último condenado — por 1-0.

Havia tempo para uma última alegria. Aos 92', Gregore, o jogador que foi expulso nos primeiros segundos da final da Libertadores, recuperou a bola e marcou. Botafogo 2-1 São Paulo.

Depois de 1968 e 1995, o Botafogo volta a ser campeão brasileiro. A melhor época da história do clube é da autoria de Artur Jorge. Quando é que inauguram a estátua?