O Panathinaikos é um gigante, não só pelos campeonatos e taças (20 cada), como por ser o único clube grego a atingir a final da Liga dos Campeões ou a jogar a Intercontinental. Mesmo que neste milénio ande constantemente pelas ruas da amargura (campeonatos só um, em 2010), muito longe do nível competitivo evidenciado pelo rival Olympiakos visto volta e meia se ver confrontado com problemas de ordem financeira, a recuperação já se iniciou, devagarinho, mas em passo certeiro, com duas Taças da Grécia nos últimos quatro anos.
Depois de no ano passado ser barrado à porta da Champions pelo Braga e não ser capaz de destronar um dos três rivais (PAOK, AEK e Olympiakos) na luta pelo Campeonato, os Trevos conseguiram pelo menos a Taça para assegurar a entrada na segunda competição continental; a um ano com três treinadores, do qual nem mesmo o sábio Fatih Terim conseguiu tirar dividendos, pedia-se travão; limpeza dos quadros técnicos e aposta em Diego Alonso, uruguaio com experiência de selecção Celeste e Sevilha.
Só que, Nossa Senhora, a equipa ainda ficou pior – depois de perder na 3.ª pré-eliminatória da Liga Europa contra o Ajax de Farioli e cair para a 3ª divisão, a equipa nunca mais se endireitou: quando Rui Vitória chega, a 31 de Outubro, o Panathinaikos era 8.º classificado, com treze pontos em nove jornadas. Na Conference, passara Lens mesmo no limite e, na fase de liga, ainda não tinha ganho ao fim de duas jornadas.
Chega o Professor Rui Vitória, que anda afastado de casa à procura duma valorização da sua sabedoria. Depois de espalhar conhecimento por Riade, Moscovo e Cairo, chegava a Atenas com a missão de estabilizar um conjunto cheio de bons nomes, mas em franco sub-rendimento.
Como é seu apanágio, aliou os pareceres conservadores da abordagem tática com a liberdade desmedida aos homens da frente, receita que produziu resultados bastante satisfatórios em Lisboa. Arrumou a equipa no seu 4-3-3, não conseguiu ao segundo jogo evitar a derrota numa deslocação difícil ao frio sueco (Djurgarden) mas a partir daí os astros alinharam-se a seu favor: desde esse dia 7 de Novembro, não mais perdeu – 15 jogos consecutivos, com doze vitórias e uma incrível escalada na tabela.
Aos dias de hoje, depois da vitória sobre os rivais AEK, o Panathinaikos é segundo, a quatro pontos do Olympiakos de Mendilibar.
O seu segredo, já desvendado, mas sempre eficaz, é a lógica e o pragmatismo, aliados a uma grande capacidade humana no relacionamento com os jogadores.
Da mesma maneira que tornou Jonas num candidato real à Bota de Ouro, parece querer fazer o mesmo com Ioannidis. Ou, pelo menos, a mesma potenciação do seu instinto matador. Quadruplicou os registos com Rui Vitória em relação ao anterior treinador e não foi o único atacante a beneficiar com a mudança – Filip Djuricic, o benfiquista, também subiu de produção, agora num outro papel, mais solto a partir da ala esquerda.
Antes de entrar, Rui Vitória deparara-se com série de nove jogos só com dois triunfos. O importante era, pois, o estabilizar da confiança – e, por isso, ganhar. O máximo possível, jogando feio ou bonito. As primeiras quatro vitórias chegaram pela margem mínima. Nos primeiros dez jogos ao comando, a equipa sofre apenas cinco golos.
A primeira vitória folgada é um 2-0. Mais de dois golos só contra o Dínamo Minsk. Mas a caminhada de Rui Vitória na Liga vai ganhando contornos épicos, com oito vitórias em dez jogos e 26 pontos em 30 possíveis – e superioridade sobre os concorrentes directos PAOK (2-1) e AEK (1-0), vitória última que provocou até a queda do treinador rival, o argentino Almeyda.
A base é sólida. A intermediária interpretada por dois pensadores como Maksmovic e Bakasetas, apoiados pelo inapelável Willian Arão, tendo o experiente luso-grego Zeca pronto para qualquer eventualidade; na frente, a escolha para as bandas tem recaído sobre o ex-Mancuniano Facundo Pellistri e Djuricic, tendo o ex-Galatasaray e Shakhtar Tetê a primazia como alternativa directa.
Na última quinzena, o sucesso deve-se acentuar pelo calendário tenebroso – três clássicos, cumpridos sem derrotas! – e o pesadelo ainda não acabou para o herói Vitória: a turbulência surgirá com duelo fulcral para as contas do título, frente a Mendillibar; E uma semana depois, a segunda mão dos Quartos da Taça contra o mesmo adversário. Sair vivo destes confrontos é aposta que só os mais optimistas conseguirão fazer.
Mas o herói sempre provou que os Deuses costumam estar do seu lado – e, agora, que mora pertíssimo deles, que não haja pudor em pedir-lhes toda a ajuda necessária. É que depois de Olympiakos, há um play-off europeu contra os surpreendentes islandeses do Viking, que só perderam dois jogos na Conference – por exemplo, o Cercle Brugge não passou em Reiquiavique (3-1) e o LASK não foi além dum empate (1-1) ao recebê-los em Linz.
Desafios tão pertinentes pedem medidas extremas e reforços de peso. Num golpe de asa, cheio duma coragem de origem imperceptível para o comum mortal, Rui Vitória decide reforçar o seu meio-campo com capacidade física, técnica e experiência internacional, conjugando o pragmatismo da contratação com o namorico ao clube do seu coração, livrando-o dum encargo já crónico nos Relatórios de Contas.