29 de setembro de 2024. É um dia de jogo como tantos outros, em Braga. O SC Braga prepara-se para receber o Rio Ave num domingo típico de final de setembro, onde a temperatura ainda é convidativa e não afugenta as multidões para o conforto do sofá e da Netflix, passe a publicidade.

O zerozero chega ao Municipal de Braga a pouco menos de uma hora do apito inicial. Tempo mais que suficiente para tirar o computador da mochila, escolher um bom lugar na área reservada à comunicação social e colocar a conversa em dia com os nossos colegas no sagrado encontro quinzenal - às vezes mais frequente do que isso - no anfiteatro arsenalista.

É precisamente nesse momento, quando ainda nem tiramos a mochila das costas, que nos chega aos ouvidos, da boca de uma colega, algo que nos faz de imediato mudar o chip: «Acho que estão ali uns jovens ingleses para ver o jogo.»

Como assim? Um grupo de jovens ingleses, em Braga, às 20h00 de um domingo para ver futebol? A curiosidade apodera-se de nós. Telemóvel em punho, já com o gravador aberto e só à espera de um 'sim' do lado de lá para começar a gravar.

«Desculpem, mas ouvi dizer que vieram de Inglaterra para ver o jogo. Podemos conversar um pouco?», pergunta o zerozero aos visitantes de Terras de Sua Majestade. A resposta é afirmativa e surge o tal toque no botão vermelho para iniciar a gravação.

«Conheço o Bruma porque tinha uma carta rápida no FIFA»

Antes de tudo, quebrar a barreira do desconhecimento. Apresentamo-nos e queremos saber os nomes dos nossos viajantes, descobrindo que o trio é composto por Tom, Alex e Jake.

Tom traz consigo o equipamento principal que o Real Zaragoza utilizou de 1999 a 2001. Peça bonita, digna de integrar o espólio do mais dedicado colecionador. Alex, o menos falador dos três, já tem um cachecol do SC Braga ao pescoço e Jake vai mais longe do que os colegas: é a primeira vez que está na Pedreira, mas já leva ao peito o equipamento alternativo dos Gverreiros do Minho, uma lembrança com lugar na mala de volta a casa.

O homem que transporta o emblema mais representativo da região de Aragão é, claramente, o membro do tridente que está mais confortável na presença de um microfone e assume as rédeas quase que como um porta-voz. «Queríamos vir assistir a um jogo de futebol em Portugal, mas pensámos que o Porto seria um estádio onde provavelmente vais acabar por ir e Braga não. Então decidimos vir a Braga», conta ao zerozero.

O que traz estes três jovens a Portugal é o mesmo que traz muitas outras pessoas: férias. «Viemos passar cá o fim de semana», afirma Jake, com Tom rapidamente a completar: «Viemos para um jogo de futebol!» O lamento é o de conseguirem ver apenas uma partida. «Esperávamos que o FC Porto jogasse no sábado e assim víamos os dois», dizem-nos.

Tom (à esquerda), Alex (ao centro) e Jake (à direita) @zerozero/Daniel Sousa

«Deve ser um bom jogo», afiança Tom. A expetativa está alta, apesar de que estes nossos companheiros pouco ou nada conhecem destas duas equipas. «Não conhecemos muito, só do FIFA [o vídeojogo] e coisas do género», atira, antes de Jake interromper: «E das competições europeias.» Tom acena com a cabeça em sinal de concordância.

Olhando aos plantéis, um nome salta à vista: Bruma. O mais extrovertido do grupo, que aparenta ser aficionado do vídeojogo, vê que o nome é familiar. «Conheço o Bruma. Havia uma edição do FIFA em que ele tinha uma carta muito rápida», deixa escapar, entre sorrisos. Os minutos voam e a conversa é interrompida pela saída dos arsenalistas para os exercícios de aquecimento. Agradecemos a partilha, despedimo-nos e regressamos ao nosso lugar.

Dentro de campo, uma goleada arsenalista por 4-0. Bruma, o homem da «carta rápida», começou no banco de suplentes, mas ainda entrou a tempo de assistir para o terceiro golo e anotar ele mesmo o quarto. Os nossos jovens ingleses acertaram em cheio no dia, porque golos não faltaram.

A partida termina e o nosso trabalho ainda vai a meio. A crónica já está publicada para os nossos leitores e é agora tempo de arrumar a mochila e descer ao auditório para escutar os treinadores. Enquanto fazemos os preparativos para abandonar a área do estádio que nos é destinada, um assobio à nossa direita. É Tom, de mão levantada num sinal de despedida. Retribuímos o gesto. A nossa noite ainda está longe de terminar, mas deixamos a bancada com a certeza de que o zerozero fez novos amigos. Safe travels, dear friends!