Pessoas, pessoas, pessoas. É este o centro de tudo, que está longe de se esgotar -- mas também passa por aí -- na capacidade do setor de atrair e fixar recursos humanos na distribuição. "Temos de trabalhar todos juntos", vinca Gonçalo Lobo Xavier. Ao SAPO, o diretor-geral da APED (Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição) revela a ambição de uma área que representa já 12% do PIB nacional e que quer "continuar a crescer e a criar mais e melhores empregos", apresentando uma proposta de valor cada vez mais alinhada com os objetivos da sustentabilidade social, ambiental e económica.
"Sem pessoas, não é possível avançar; elas são o centro de tudo", vinca Gonçalo Lobo Xavier, revelando ao SAPO que uma das prioridades assumidas na Visão Estratégica até 2026 passa por "reforçar e melhorar o contrato coletivo de trabalho, trazendo mais atratividade às carreiras neste setor", mas também pela aposta nas boas práticas em todas as áreas, incluindo temas de "automação, Inteligência Artificial e novas formas de trabalho, sem esquecer a humanização do setor".
"Estamos conscientes da dificuldade que existe na área de Recursos Humanos e por isso estamos empenhados em tornarmo-nos cada vez mais atrativos, e isso só se consegue com as melhores práticas, a par da valorização salarial e das carreiras", diz o diretor-geral da APED. Razão pela qual a direção da estrutura, atualmente liderada por José António Nogueira de Brito (Pingo Doce) quer mostrar que está na linha frente daquilo que os futuros RH valorizam, e que vai além de salários e prestígio, entrando em temas de responsabilidade social, sustentabilidade, cibersegurança, etc.
"São temas que interessam muito aos jovens e aos não tão jovens e que estamos empenhados em enfrentar", explica Gonçalo Lobo Xavier, realçando a importância da sustentabilidade, que vai estar em foco num dos painéis de debate desta manhã, no Secret Spot, Monsanto. "Uma gestão mais circular, com uma gestão resíduos mais eficiente, com cada vez mais trabalho feito ao nível do combate ao desperdício, alimentar e não alimentar, são fundamentais", diz o responsável da APED, antecipando investimento das associadas na avaliação de oportunidades para iniciativas sobre resíduos, para ter voz ativa na utilização racional do plástico e estratégias de recolha de embalagens, com vontade até de ultrapassar a União Europeia no que respeita por exemplo aos resíduos têxteis. Ambição com realismo, em que toda a cadeia de valor tem de ser envolvida, explica ainda, revelando a importância de o setor se manter no radar contínuo do Parlamento e das instituições europeias.
O que aponta para outros temas em debate na apresentação da Visão Estratégica do setor: a supply chain e a digitalização. "Estamos muito conscientes de que não basta agir de um lado, é preciso influenciar e dar a mão a toda a cadeia de valor nesta transformação", diz Gonçalo Lobo Xavier ao SAPO, sublinhando a importância do roteiro para a descarbonização desenhado pela APED e que já conta com as 20 maiores empresas associadas. "Com essas, temos quase 80% do setor representado, mas queremos duplicar a presença para 40 associados, investindo no conhecimento e na transformação de toda a cadeia de valor. E isso só se faz com boas relações e apoio entre todos os atores -- até porque toda a envolvente estará obrigada a fazer reportes não financeiros que mostrem a sua evolução no compromisso de responsabilidade social e ambiental." Para ajudar, a própria APED vai ter um relatório anual com metas atingidas e criar um conselho estratégico que ajude a endereçar os maiores desafios do setor, internamente e junto do consumidor, em questões como a sustentabilidade mas também os preços.
"E também a transformação digital tem de ser muito regulada e prevenir riscos", sublinha ainda, apontando que a cibersegurança é uma das dimensões mais relevantes, a par da literacia digital -- e parte desse esforço faz-se com a inclusão e formação. Razão pela qual a APED prevê criar um observatório digital que antecipe barreiras que existem ainda ao crescimento de vendas em canais digitais, nomeadamente de empresas mais pequenas, e apostar em parcerias e estratégicas de apoio entre esses comerciantes e os maiores, como os centros comerciais, que possam guiá-los e partilhar ferramentas.
"Os nossos objetivos expressos na Visão Estratégica para o futuro da distribuição estão muito alinhados com os da associação europeia que reúne as estruturas semelhantes à APED, a Eurocommerce", conclui ainda Gonçalo Lobo Xavier, apontando que todo este investimento e mudanças têm de estar cimentados em parcerias e colaboração de todos os atores, alicerçados num plano de comunicação que vise "mais esclarecimento e transparência".
Distribuir Valor Rumo ao Futuro é o tema da conferência em que a APED junta esta manhã atores de diferentes áreas do setor da distribuição (Pingo Doce, Fnac, La Redoute, El Corte Inglés...) com representantes da sociedade civil que podem ajudar a abrir caminhos de valorização (Universidade Nova, INCoDE.2030, ACEGE, Business Roundtable Portugal...) e que terá o encerramento garantido pelo secretário de Estado da Economia, João Rui Ferreira.