"Um empresário de sucesso tem de abraçar a 100% o mercado, tratar bem toda a gente e todos serão bons para si em troca. Mas, se abordarmos a questão numa perspetiva eleitoral, metade dos eleitores vão gostar de nós e a outra metade não", afirmou hoje o secretário-geral da Associação de Automóveis de Passageiros da China (CPCA), Cui Dongshu, citado pela agência de notícias Bloomberg.

"É um risco inevitável depois de ele ter procurado a sua glória pessoal", acrescentou Cui, que indicou que parte da população vê agora a Tesla como uma questão política, dada a proximidade de Musk com o novo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a notoriedade pública da sua iniciativa para reduzir a despesa pública.

A Bloomberg recordou que a China não é o único mercado em que a Tesla está a sofrer: na Alemanha, onde Musk se posicionou abertamente a favor do partido de extrema-direita AfD, antes das eleições, as vendas da Tesla caíram 71%, nos dois primeiros meses do ano, enquanto em França caíram 44%.

Na Ásia, um dos maiores mercados da Tesla, as vendas caíram 49%, em fevereiro, em termos homólogos, o que Cui também atribuiu à tradicional época baixa que se segue ao Ano Novo Lunar - a principal época festiva do país - e aos compradores que aguardam o Modelo Y renovado.

Além da postura política de Musk, outro fator que está a pesar nas vendas da Tesla é a rápida ascensão de concorrentes locais, como a BYD, que já ultrapassou a marca norte-americana como o maior fabricante de automóveis elétricos do mundo e aumentou as vendas em 161%, em termos homólogos, no mês passado.

A queda da Tesla ocorreu num contexto em que as vendas no mercado automóvel chinês aumentaram 26% após a renovação dos subsídios do "plano de renovação", promovido por Pequim, com as de carros elétricos e híbridos a subirem 80%.

As vendas da empresa norte-americana estão em queda homóloga há cinco meses e em fevereiro atingiram o valor mais baixo desde meados de 2022, quando a atividade económica em várias zonas do país estava praticamente parada face à política de 'zero casos' de covid-19.

Musk, o homem mais rico do mundo, goza de uma boa relação com as autoridades da China, país que visitou várias vezes e onde tem um dos seus principais mercados.

Em 2019, a Tesla abriu em Xangai a sua primeira "gigafábrica" fora dos Estados Unidos, na qual produz agora cerca de metade dos veículos que vende a nível mundial. No mês passado, também iniciou a produção na sua nova fábrica de baterias de armazenamento na mesma cidade.

 

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